Começa assim a análise do Financial Times à situação do Chipre: “Um camelo, diz-se na gíria, é um cavalo desenhado por um comité administrativo. Isto é injusto para os camelos, que estão bem adaptados ao seu ambiente agreste. O mesmo, infelizmente, não pode ser dito dos programas de resgate da zona Euro. A intervenção alemã proposta ao Chipre, rejeitada pelo parlamento de Nicósia, não vai ajudar a zona do Euro a ter uma saída suave da sua onda de crises.
Na verdade, o imbróglio deve servir como lição de como não se deve lidar com os problemas da dívida soberana (1) e da financei- rização da economia. Vamos começar por explicar a alguns porque a reestruturação bancária foi inevitável. O governo de Chipre está altamente endividado, sendo responsável por um sector bancário que é certamente demasiado grande para haver dinheiro no país para o salvar. Segundo o FMI, a dívida bruta do governo atingiu 87 por cento do produto interno bruto no ano passado e atingirá 106 por cento do PIB em 2017, isto sem contar com a ajuda de urgência agora pedida” – para se aquilatar de como o problema é sempre maior do que inicialmente admitido pela corja governante da União Europeia, a Rússia veio imediatamente dizer que os 10 mil milhões de ajuda são insuficientes (2).
Rui Tavares vem hoje no "Público" fazer uma complicada e tortuosa análise geo-estratégica do problema de Chipre. Para simplificar, diz ele. Para começar o comentador não gasta uma única palavra sobre o regime de propriedade que vigora na ilha. Para começar o problema da Dívida reside apenas no regime vigente a sul, neoliberal, integrado na União Europeia, habitado por Cipriotas alinhados com a Grécia (pela enosis) que atingiram, (3) graças à especulação financeira níveis de salários assentes numa economia terciária de entre os 1.900 euros mínimos até aos 2600 médios mensais (três vezes mais que os portugueses). Dividida artificialmente por um golpe da Nato nos idos de 1974 , curiosamente congeminado numa cimeira em Lisboa que viria a provocar a criação da “República Turca de Chipre do Norte”, aqui (4) não existe qualquer problema financeiro.
Para completar o quadro a Grâ-Bretanha detêm ainda duas bases militares na ilha, Akrotiri and Dhekelia, herdeiras do estatuto colonial que teria obrigação de ter terminado com a independência de Chipre em 1960… Ao contrário, os ingleses usam a sua pertença à União Europeia para produzir legislação comunitária que impõe sanções económicas à parte norte. Para culminar Chipre é rica em reservas de gás natural cuja exploração é desejada pela Rússia e na qual o Estado de Israel, cujas águas territoriais alcançam a região, está igualmente interessado. Por problemas menores e de muito menos gente envolvida já começaram muitas outras guerras… (continua)
notas:
(1) a Dívida de hoje foi o Roubo de ontem!
(2) Na verdade os depósitos bancários das Corporações mafiosas russas no Chipre devem rondar os 68 mil mihões de euros.
(3) O volume dos depósitos bancários é 7 vezes maior que o PIB anual do Chipre.
(4) Segundo as leis internacionais, a ilha de Chipre, na sua totalidade, é um país independente. Todavia, em 1974, após 11 anos de violência entre as comunidades de nacionalistas cipriotas gregos e cipriotas turcos, a Turquia invadiu e ocupou a parte norte da ilha o que provocou o deslocamento de centenas de milhares de cipriotas além do estabelecimento de uma entidade turco-cipriota separada políticamente ao Norte, reconhecida somente pela própria Turquia. Nicósia, a capital do Chipre, é a última capital dividida por um muro em todo mundo. (wikipedia)
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1 comentário:
¿"argentinización" de chipre?
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