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sábado, março 09, 2013

O mal estar nas Forças Armadas radica na mesma escolha que causou o mal estar na Sociedade.

Na década iniciada em 1970 o país estava à beira da bancarrota, por via da insusten- tabilidade financeira provocada pela guerra colonial. Salazar e Caetano fizeram o que podiam para contrariar a questão: utilizando material de guerra distribuído a Portugal no âmbito da integração na NATO. Porém, esta época de extremo sacrifício de bens e vidas para o povo, para os quadros regulares das forças armadas foi uma época de ouro. Num país maioritariamente de população rural onde grassava a fome, qualquer oficial ou sargento no final de 2 ou 3 comissões de serviço no “ultramar” regressava com umas boas dezenas ou centenas de milhares de escudos para serem empregues na vivenda da praxe. Alguns sectores da economia prosperaram com as encomendas fornecidas para a guerra. Até que por via da concorrência de oficiais e quadros milicianos (graduados em postos de chefia em igualdade com os do quadro permanente) a teta ameaçava secar…

Com o boicote árabe aos paises Ocidentais comprometidos com o apoio a Israel, e a subsequente crise petrolífera, a situação internacional agravou-se – no Pentágono, alma-mater da Nato, não havia dinheiro para sustentar as intervenções militares imperialistas no Sueste asiático. Na sociedade civil principal fornecedora de carne para canhão assente no recrutamento obrigatório, a contestação popular sofria uma escalada similar à da guerra: enquanto quando se ouvia Nixon na rádio se desligava o botão, milhões enchiam as ruas e praças em protestos contínuos. O movimento reivindicativo pela Paz obrigou a substituir o recrutamento compulsivo de civis pela contratação de profissionalizada de voluntários para as forças armadas. Onde se iria buscar dinheiro para pagar a mercenarização do sistema? Fácil, não há dinheiro, faz-se! Em 1971 Nixon deixou por decisão unilateral de medir internacionalmente os dólares em ouro e começou a desvalorizar as despesas “pagando-as” com papel impresso. E que fazer relativamente à contestação popular, reivindicações salariais, lutas operárias? fácil – deslocaliza-se a produção para lugares longínquos onde os custos de mão de obra são quase insignificantes, ganham-se biliões sobre biliões, vemo-nos livres de sarilhos em casa pelo desarmar da classe operária. O motor do capitalismo, numa inversão radical da criação de valor deixa de ser a produção, para passar a ser uma espécie de anti-valor pelo consumo das massas indiferenciadas.

Nessa época, em Portugal o 25 de Abril acontece a contra corrente. País fortemente atrasado, carente da modernização do capitalismo para se poder integrar na nova divisão internacional de trabalho, com os Estados Unidos de olhos e dentes postos na exploração dos territórios de língua portuguesa “independentes”, as ajudas no sentido de integrar o país no sistema neoliberal em ascenção (no Consenso de Washington) não se fizeram esperar. No dia seguinte ao golpe, os ingénuos capitães, uns sim outros nem tanto, quase todos à margem de membros do exército de filhos do Povo, cumpriam a sua obrigação hierárquica – foram falar com dois Generais. Foi o principio do fim… Se antes no fascismo, havia quem fizesse carreira dissidindo do regime, ao contrário, quase 40 anos depois, no actual paradigma não há quem cumpra uma carreira e chegue a General sem demonstrar cabalmente que é ideologicamente de extrema-direita.

E são muitos. A seguir analisar-se-á o que contestam e porque é que estas vetustas personagens se podem transformar no orgulho do Cavaco Silva
recorte do jornal Publico em 2006

há coisas que fizemos melhor 
e algumas que são destruídas pela ganância 
e por politicas erradas, mentirosas 
Agora vivemos na sequência 
de decisões que não compartilhámos 
e somos apenas sobreviventes 
 de um vasto tufão de poder  
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