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sábado, novembro 19, 2005

Argel - anos 60 - A luta pela emancipação, continua!

“Get Rich or Die Trying”(Enriqueça ou morra tentando!)
sentencia o “Rapper 50 Cents” um irónico americano na moda entre os miudos dos suburbios.

Mas, quem são afinal os “beurs”, os novos bárbaros que invadiram os "banlieus" das cidades francesas, onde atingem já 15% do total dos naturais?
É muito simples saber quem são.Porque não são novos. A seguir à guerra o capitalismo francês precisou de mão de obra e foi buscá-la ao que então era território francês: a Argélia. Hoje esses imigrantes e descendentes continuam, como é normal, ligados ás suas raizes étnicas e culturalmente diferenciados em relação aos valores da França onde são marginalizados em “zonas urbanas sensíveis”
Por outro lado, os que ficaram em África, todos eles com parentes na diáspora, aspiram a ter o mesmo estatuto dos seus compatriotas “franceses”. Em Anjouan, um pequeno arquipélago africano antiga colónia francesa pediu-se recentemente numa manifestação a integração do país na França, onde se viam fotografias de Chirac e bandeiras francesas aos gritos de “França para Todos!”. Portanto o conceito de França transcendeu a noção de pátria ou de país, para se transformar em simbolo na luta pela utopia da igualdade, liberdade e fraternidade sociais, que são afinal os valores universais desde sempre ansiados e nunca alcançados da Revolução Francesa. Mas, ¿o que pensam os governantes de direita francesa destas questões?,,, sejam de direita ou de “esquerda” os Poderes constituidos têm agido sempre no sentido descendente do apagar das Luzes,,,

as Memórias dos Imigrantes - a continuação do Colonialismo por outros meios, ou de como Transformar o Medo em Fúria, chamando à colação o album “Music for a New Society” de John Cale.

A luta armada na Argélia teve início em 1954 e foi das guerras mais sangrentas pela independência de um país das travadas em África.O idealismo que então presidia à emancipação social de todos os homens como iguais ancorava-se em obras teóricas, em autênticos gritos de revolta e de cólera, como o “Discurso sobre o Colonialismo” de Aimé Cesaire ou os “Danados da Terra” de Frantz Fanon, (um activista oriundo da Martinica). Em França os campos extremaram-se contudo ainda mais depois do ensaio teórico “Retrato do Colonizado precedido do Retrato do Colonizador” da autoria de Albert Memmi em 1957. As guerras pelas independências tinham-se entretanto generalizado a todos os continentes, numa espécie de luta de classes mundial. Os franceses tinham abandonado a Indochina depois da derrota histórica em Dien-Bien-Phu e o imperialismo americano tomava posições contra o avanço das ideias comunistas no Vietname no inicio do conflito que haveria de deixar o país dividido em dois. Em 1959 os revolucionários de Fidel Castro, coadjuvados pelo militante internacionalista Ernesto Guevara tomavam o poder em Cuba. Em Abril de1961 no rescaldo da vitória sobre os invasores da Baía dos Porcos Fidel desafia os EUA proclamando: -“As ideias Socialistas são as ideias revolucionárias da época histórica actual”.
Em 17 de Outubro de 1961 seguindo um apelo da Frente Nacional de Libertação, o movimento independentista da Argélia, 30 mil imigrantes argelinos desarmados, homens mulheres e crianças sairam dos bairros da lata dos arredores onde viviam para se manifestarem no centro de Paris. A policia disparou sobre eles, foram presos mais de 11 mil. Na manhã seguinte havia dezenas, senão centenas, de cadáveres a boiar no Sena. O chefe da policia de então, Maurice Papon, viria a ser condenado em 1998, não por estes crimes, mas por outros cometidos contra a humanidade durante a segunda grande guerra. (O sangrento episódio de Paris é agora lembrado no filme “Nuit Noire” de Alain Tasma; sobre isto, tambem Michel Foucault escreveria depois duas obras cruciais - "Vigiar e Punir" e "A Vontade de Saber").
Em 1962, finalmente a Argélia tornou-se Independente. É então aí, à capital Argel que convergem os revolucionários de todo o mundo em luta pela libertação. O Movimento dos Paises não alinhados, que procedia da Conferência de Bandung realizada na Indonésia, procurava estruturar-se, tendo como um dos seus mais destacados militantes anti-colonialistas o marroquino Mehdi Ben Barka que tinha conduzido Marrocos à independência em 1956.

Procurava-se dar inicio a um movimento universalista cujo desafio era o de encontrar o ponto de equilibrio entre a URSS e a China para garantir a ajuda de ambas na luta contra o Imperialismo americano – Movimento que seria fundado numa próxima Conferência chamada Tricontinental a realizar em Havana. Por Argel passou Che Guevara em trânsito para a sua participação na guerrilha do Congo, então ainda uma colónia Belga. Data desta altura o seu famoso discurso a enviar á “Tricontinental” onde se proclamava “É preciso criar dois, três, muitos vietnames!”, discurso onde se fazia já uma menção explicita ao colonialismo português e aos Movimentos de Libertação das nossas colónias.
A capital argelina tornara-se o núcleo intelectual da contestação revolucionária internacional. Aí se encontravam os exilados das colónias portuguesas nomeadamente Amilcar Cabral que faziam eco das correntes libertadoras vindas do continente americano.Uma das figuras mais poderosas do movimento negro nos Estados Unidos, Malcom X encontrava-se em Argel em 1964. O Ideal perseguido era uma acção concertada contra a dependência do sistema Capitalista, a liquidação das Bases militares estrangeiras, oposição às armas nucleares, ao apartheid e à segregação racial. Todos eles objectivos tanto de então, como de Agora, eram de libertação total! - Contra estas insurreições do Terceiro Mundo, tornou-se obsessiva a repressão internacional. Então como Agora.
Um golpe de Estado na Argélia em 1965 levou ao poder o coronel Boumediene que reconduziu a ex-colónia novamente a uma dependência da França. Outro golpe militar destituiu Sukarno na Indonésia, com a influência directa de Kissinger, onde foram mortos meio milhão de militantes comunistas. Ben Barka foi condenado à morte pelas autoridades marroquinas, foi raptado em Paris a 29 de Outubro de 1965 e o seu corpo nunca chegou a ser encontrado. (ver o “Caso Ben Barka”). Che Guevara foi assassinado pela CIA em 1967. Amilcar Cabral foi assassinado em 1973. Henry Curiel o dirigente da rede activa “Solidariedade” anti-apartheid fundador do Congressso Nacional Sul-Africano, que ajudava os desertores americanos que se recusavam a ir para o Vietname, foi assassinado em 1978. Malcom X tinha sido assassinado com apenas 39 anos, em 1968.
É preciso ser-se mesmo distraído (ou mal intencionado!) para não se ver aqui, que existe um movimento de repressão Oficial organizado, de assassinatos politicos, primeiro contra a emancipação do colonialismo, depois contra a luta anti-neocolonial, agora contra a emancipação social, enfim, a guerra tem sido sempre, e ainda o é hoje, contra o Socialismo.Hoje, oficialmente, porque não estamos com eles, somos todos "terroristas".
O mundo que os Criminosos, os verdadeiros Terroristas de Estado, têm construido está à vista de todos – mas,,, os seus crimes, que dia após dia evoluem tanto em sofisticação como em descaramento, algum dia serão julgados?
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* A história da Argélia é a história do Mundo. Que lhe aconteceu depois da "independência"?
* Laurence Thieux:
"Os que ficaram - Argelia: imobilismo político, dependência económica e tensões sociais"
* Aqui se conta o golpe de Estado de 1992 patrocinado pelo Ocidente em que a Frente Islâmica (FIS) muçulmana foi impedida de ganhar as eleições, a repescagem e o recair da culpa na guerrilha,tudo em nome dos interesses económicos franceses:
“A Long and Dirty War”, na edição portuguesa do Le Monde Diplomatique: "A difícil transição na Argélia"
* "Vinte anos de dificuldades das Familias argelinas"
* "Estado de Depressão - a situação das mulheres na Argélia"
* Desenvolvimentos posteriores:
www.algeria-interface.com CENSURADO
www.liberte-algerie.com

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