Os limites estruturais da valorização do capital, o capitalismo de casino e a crise financeira global
Capital real e capital que rende juros
"A relação contraditória entre trabalho e dinheiro é uma das muitas estruturas esquizóides do mundo moderno. O trabalho, como dispêndio abstracto de energia humana no processo da racionalidade empresarial, e o dinheiro, como forma fenoménica do "valor" económico assim produzido (ou seja, duma fantasmagoria fetichista da consciência social objectivada) são as duas faces da mesma moeda. O dinheiro representa ou "é" nada mais que "trabalho morto", tornado realmente abstracto na forma duma coisa, no fim-em-si-mesmo capitalista, que consiste numa acumulação sempre acrescida de tal meio fetichista. O humano "processo de metabolismo com a natureza" (Marx) tornou-se um abstracto e em si insensato dispêndio de força de trabalho, justamente porque o dinheiro se autonomizou do agente humano, na forma fetichista potenciada do capital: não é a necessidade humana que guia o dispêndio de energia; pelo contrário, a forma "morta" dessa energia, autonomizada como coisa, subordinou a si a satisfação das necessidades humanas. A relação com a natureza, tal como as relações sociais, tornaram-se meros processos de passagem para a "valorização do dinheiro".Porém, este processo de valorização, em que o meio fetichista se tornou fim-em-si-mesmo, não se desenvolve sem atritos. Como o trabalho e o dinheiro constituem fases diferentes do desenvolvimento da valorização como fim-em-si-mesmo, estes dois momentos também podem separar-se em situações de crise, deixando assim de coincidir. Tal falta de coincidência manifesta-se como uma desvinculação entre o dinheiro e a substância abstracta do trabalho: a multiplicação do dinheiro ocorre então mais rapidamente que a acumulação de "trabalho morto" abstractizado, destacando-se assim da sua própria base. Mas como os dois fenómenos do trabalho e do dinheiro se formaram num processo histórico cego, nas costas dos sujeitos humanos, o seu nexo intrínseco escapa à consciência, tanto no "bom senso" comum, como no pensamento científico. Trabalho e dinheiro podem surgir opostos um ao outro nas diversas ideologias, assim como na concepção do processo económico".
Continue a ler, aqui, os restantes capitulos, por Robert Kurz:
* A dependência crescente do capital real em relação ao crédito
* A revolução terciária
* Terceriziação - capital que rende juros e crédito estatal
* Globalização e indústrias fantasmas
* Dessubstancialização do dinheiro e inflação estrutural
* Da expansão fordista à revolução microeletrónica
* As estruturas globais do déficit e o curto Verão do capitalismo de casino
* A caminho do choque da desvalorização
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