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segunda-feira, julho 16, 2007

as "eleições" em Lisboa

"O mundo está organizado de tal forma que apenas temos direito a eleger a salsa com que vamos ser comidos"
Eduardo Galeano (vale a pena ver o video,10 min)




1 - Saúda-se efusivamente a população de Lisboa, dos mais diversos extratos sociais e ideologias que, em grande maioria e numa acção exemplar demonstraram, com a sua falta de comparência ao acto eleitoral, o mais absoluto desprezo pelo ignóbil processo de legitimação de opções tomadas antecipadamente à revelia dos nossos interesses. Bem Hajam.
2 – Como que a dar razão ao maior partido da actualidade, o dos Absentencionistas (62,31%), não passava ainda meia-hora do fecho das urnas, e já o séquito de noticiaristas e comentadores oficias do regime contabilizavam as escassas papeletas de voto como se os 37,39% se tratassem efectivamente de um Todo (!). O presidente A. Costa “foi eleito” com a pior percentagem de votos de sempre do PS em Lisboa: 29,5% dos 37,39% dos que colaboraram na roleta eleitoral viciada, ou seja 57.907 votos num universo de mais de 350 mil eleitores possíveis.
3 - o agora despromovido a vereador Carmona R. ( principal agente branqueador da funesta acção de Santana Lopes) apressou-se a congratular com o facto de ser a segunda força na CML; com o pelouro do Urbanismo em perspectiva, e Paula Teixeira da Cruz (PSD) à cabeça da Assembleia Municipal, eis duas lanças firmes bem cravadas no solo urbano – a garantia de que o sistema de Corrupção instalado não será de todo erradicado.
4 – Uma última palavra para os esforçados forcados do voto que tentam rabujar as diabólicas máquinas de tachos partidários, comparecendo na arena eleiçoeira: muito obrigado por terem conferido ao PSD o pior resultado de sempre, e por terem varrido o CDS do mapa. Bem Hajam.
5 – a “comunicação social” cerca da meia noite ainda não tinha veiculado as vozes dos vereadores eleitos pelas forças politicas minoritárias com 10 e 9%. Num entanto, desdobraram-se em exaustivas repetições sobre o partido de Paulo Portas que conseguiu a percentagem residual de 3,7% (!)


“Nenhum horror real (tsunani ou serial killer apocalipticos) tem o condão de nos acordar. A única caverna verdadeiramente platónica (a televisão) continuará a emitir mesmo quando já não houver ninguém para a contemplar”

Eduardo Lourenço, sobre o “Estado do Mundo

“Nuno Pacheco fala de uma mulher do Butão, onde a televisão acaba de chegar e que vive e dorme literalmente colada a ela a todo o instante. É a melhor imagem do estado do mundo que se pode imaginar. Esta nova forma de vida virtual é uma autêntica novidade. É a imagem da nossa civilização como subproduto da mais fascinante das invenções, aquela que, na aparência, como já o era a fotografia, não nasceu para nos fazer esquecer a realidade, mas para conservar a efémera realidade dela. O efeito foi inverso: nós (mais uma vez: os eleitores que se prestam ao jogo) preferem a virtualidade à realidade”

“A autêntica realidade, por exemplo, a da inamovivel miséria e a trapaça, tornam-se irreais pelo seu tratamento televisivo, e os crimes, além de irreais, evaporam-se pela sua contínua sublimação tornada rentável pela mesma tradição. É uma espécie de escândalo obsoleto e absoluto de consumidores angélicos da pura e inexistente virtualidade”
(do JL, 20/6)

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