Conforme se relembra aqui, "o governo tem já uma lista para as próximas privatizações: portos, CTT, EDP, REN, GALP e, a médio prazo, ANA e TAP". Assim, convém ir tomando nota e ir aprendendo com a experiência dos outros. O que aí vem não vai ser bonito. A crise que começou em 2001 foi apenas o princípio do processo de barbarização e autodestruição do sistema mundial do Estado Social dominante.
Robert Kurz,
"Depois de uma greve de semanas, o Sindicato dos serviços Ver.di "conquistou" na Deutsche Telekom uma redução de salários de 6,5 % e um aumento do tempo de trabalho de 4 horas sem compensação. Para maior ajuda até as pausas foram reduzidas. O facto de estarem previstos pagamentos compensatórios por 18 meses constitui apenas uma amenização não essencial. A protecção contra despedimentos até 2012 implica mais do que um sopro de desconfiança porque, simultaneamente, a garantia de que a sociedade prestadora de serviços externalizada não será vendida vigora só até 2010. E em caso de um mais que possível desmembramento da Telekom, por exemplo pelos investidores financeiros, estes não se deteriam perante quaisquer acordos. O chefe do conglomerado, Obermann, impôs-se em toda a linha. A posição de partida do sindicato já era miserável porque o Ver.di já antes tinha negociado tabelas mais baixas com os próprios concorrentes da Telekom. Assim era claro que o nível salarial não podia ser sustentado na empresa ex-monopólio público.
Trata-se de uma derrota histórica, cujo alcance está à vista e que se estende para lá do sector. Ainda que a planeada redução salarial de 9 % tenha sido minorada para 6,5 %, isso já não tem nada a ver com o tradicional "compromisso". É o sinal de que no futuro se tratará apenas do grau de degradação das condições". (ler mais)
O Estado vai acudir aos proletários?
da intervenção no lançamento de “A Crise Crónica ou o estádio senil do Capitalismo” pelo seu autor, Tom Thomas:
IV
“Abordo aqui a mais falaciosa e mais perigosa fraude difundida por toda a esquerda dita antiliberal, trotskistas incluidos (potenciais aliados da social democracia reformista, digo eu). Segundo esta corrente, o Estado poderia domesticar e limitar a finança e desse modo suprimir o desemprego, ou até mesmo humanizar o capitalismo. Sem dúvida, o Estado tem um papel activo muito importante. Mas esse papel é, e não pode deixar de ser, o da reprodução da sociedade tal como ela é, da sociedade capitalista. A força que continuam a ter as ilusões que imaginam a nação como uma comunidade e o Estado como representante, organizador e garante do interesse geral, mostra a importância de as combater. Este é um ponto essencial que distingue nitidamente o marxismo revolucionário daquela esquerda que se agarra à fórmula viciada do antiliberalismo.
As soluções dos antiliberais consistem todas elas em querer restringir a concorrência e a liberdade do capital financeiro. Reclamam portanto que o Estado burguês reforce o proteccionismo, favoreça as empresas nacionais, restrinja o papel da finança mundializada, numa palavra, que nacionalize um pouco mais a economia. Mas reclamar ao Estado que dê mais ajudas aos capitalistas é garantir os seus lucros e reforçar o seu poder – o que criaria para os proletários uma situação ainda pior que a de hoje. A corrente que se diz antiliberal e não anticapitalista é puramente burguesa. Reflecte inquietações das camadas médias (mas também de algumas fracções operárias). Não passa de uma expressão particular da tendência geral do capitalismo moderno para o totalitarismo estatal, tendência que se torna mais influente à medida que se verifica a inoperância da via reformista de uma certa melhoria das condições de vida dos assalariados, como a crise actual testemunha. É por isso que hoje já não existe mesmo essa ténue diferença que outrora parecia distinguir a ala esquerda da ala direita do campo burguês. Pior ainda, a corrente aintiliberal contribui fortemente para reforçar as ideologias nacionalistas e estatistas e portanto alimenta as tendências fascistas, que são a sua exarcebação.
Quer se trate do Estado do capitalismo “selvagem” liberal pretendido pela direita, quer se trate do Estado pretendido pela esquerda “antiliberal”, nada pode mudar a situação dos proletários. A situação dos proletários só pode mudar na luta pela abolição das relações capitalistas.
O que é necessário no imediato não é reclamar ao Estado capitalista mais proteccionismo, mais nacionalizações, mais crescimento, mais trabalho, mas, pelo contrário, apoiando-nos no aspecto positivo que representa a produtividade elevada, exigir para cada um menos trabalho alienante, repulsivo, através da partilha das riquezas que as máquinas permitem produzir com abundância. Trabalhar menos e de outra forma é uma fórmula que resume bem este projecto. O interesse deste livro é pois, em resumo, mostar que a exploração dos proletários pelo capital está a entrar em choque com os limites da realação capitalista, a qual tende a reduzir mais e mais o trabalho operário. Sem o querer, o capitalismo criou um extraordinário potencial de progresso para libertar a humanidade do trabalho alienado, o que equivale, no fim das contas, a abolir tanto o proletariado como a burguesia.
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