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“Os ecologistas gostam de repetir que nada têm de comum com os partidos tradicionais, de que se diferenciariam, nomeadamente, num ponto essencial, aos seus olhos: o antiprodutivismo, que não seria de direita nem de esquerda. É uma concepção típica das camadas intermédias, que não se dão conta de que, em política, o “justo meio termo” é um satélite do polo dominante, com maior poder de atracção.
Não só o “produtivismo” não está na raiz dos problemas ecológicos, como o “antiprodutivismo” se limita a uma fórmula vazia. Faríamos o quê? Regressar ao artesanato? Produzir mais moderadamente, preservando a natureza? Deixar de produzir à toa, seleccionando só os bens de “utilidade social”? Mas quem definiria a moderação (quando tantos carecem ainda de tanto), a natureza, as necessidades, a “utilidade social”?
Numa sociedade dividida em classes, divisão que exprime justamente que a massa de indivíduos não são senhores das suas condições de trabalho e estão por isso separados da natureza, sabe-se perfeitamente que essas definições e opções competirão aos poderes do polo capitalista – intelectuais, cientistas, políticos, gestores – os únicos a dispor do seu domínio, que constitui a verdadeira propriedade. De resto, nem esses decidem grande coisa, já que têm por função seguir as instruções dos fetiches: preços, juros, lucros, etc., cujos movimentos e relações guiam a sua conduta com uma precisão semelhante à da cenoura e da chibata para fazer avançar o burro.
A posição “nem esquerda nem direita”, “nem comunista, nem capitalista”, esconde uma realidade bem diferente. Todas as classes sociais têm o seu ponto de vista sobre a ecologia, ou seja, sobre as relações homens/natureza. Todas podem dizer que os desastres ecológicos resultam da actividade humana. Mas nem todas encaram essa actividade da mesma forma, nem a praticam de modo semelhante, nomeadamente quanto ao seu domínio; uns são os remadores acorrentados no porão do navio, outros são os pilotos.
Todas querem renovar a unidade entre o homem e o planeta, mas divergem quanto ao que isso seja, quanto às causas da destruição, quanto ao que deveria ser a humanidade e o planeta.
É verdade que a ala mais radical do movimento ecológico admite que essa unidade passa por uma modificação das relações sociais, tanto nas metrópoles imperialistas como nas relações “Norte-Sul”, e critica a redução da ecologia a um naturalismo. Todavia, esse reconhecimento não vai além de alguns votos piedosos, não chega a assumir a forma de projectos concretos nos programas eleitorais.
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Se nos alhearmos desta franja de extrema direita, a grande massa dos ecologistas caracteriza-se, como se disse, por uma concepção reformista típica das camadas médias que querem o capitalismo depurado dos seus “excessos”. O que os une profundamente é essa concepção do interesse geral baseada na ciência como alicerce da racionalidade. Já que os “produtivistas” limitaram a ciência às aplicações técnicas postas aos serviço duma produção desenfreada, os ecologistas vêm moderar estes ardores fundamentando-se em “toda” a ciência, inclusivé a dos ecossistemas e outras biosferas, inclusivé o cálculo económico “completo” que não se limita aos interesses particulares mas toma em consideração os “custos sociais”, o longo prazo: fixar custos à poluição (e à despoluição), tornar os recursos mais caros para estimular a economia”.
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