Os artigos e conferências dedicados ao Maio de 68 concentram-se geralmente no sucedido em Paris e nos subúrbios desta cidade, mas foi noutro lugar que o movimento atingiu o auge. No número de 5 de Junho da “Tribune du 22 Mars”, o jornal do “Movimento 22 de Março”, descreveu o sucedido em Nantes, uma cidade do oeste da França:
«Enquanto em Paris, e sem demasiadas esperanças, incitamos à constituição do duplo poder, quer dizer, do poder das massas, da base auto-organizando-se frente ao poder estabelecido, enquanto exigimos a autogestão, eis que esta, ou pelo menos um esboço auspicioso, existe já à escala de uma cidade, em Nantes. […] Um comité intersindical estabelecido na Câmara Municipal dirige praticamente a cidade. Ele assegura não só a distribuição da água, do gás e da electricidade mas também o abastecimento de todos os grossistas, em colaboração com as organizações camponesas e com algumas aldeias vizinhas. Além disso, durante vários dias este comité intersindical distribuiu, devidamente certificados, vales de gasolina e vales de alimentação. Mais ainda, o comité controla os preços na cidade, os seus delegados inspeccionam os mercados e as lojas a retalho, obrigando os comerciantes a manter os seus preços. É isto o duplo poder. Também foram criados comités de bairro que, em colaboração com aldeias vizinhas, se ocupam do abastecimento das famílias dos grevistas, no que diz respeito aos bens essenciais. Os camponeses, sobretudo da CDJA [organização de jovens agricultores], vendem ao preço de custo, o que significa que assistimos concretamente, ainda que em escala reduzida, à supressão dos intermediários! Mas a originalidade de Nantes não se limita ao duplo poder. Há algo de surpreendente, e por isso de reconfortante. Trata-se da aliança real e concreta entre os trabalhadores, os camponeses e os estudantes, quer dizer, entre as classes revolucionárias e os estudantes revolucionários. Esta aliança ocorre sobretudo na base, os estudantes e os operários vão ajudar os camponeses nos seus trabalhos, os estudantes apoiam os piquetes de greve operários, todos agindo, na prática, de mãos dadas. Mas esta aliança ocorre igualmente ao nível das organizações. No comité intersindical estão representadas a CGT, a CFDT, a CGT-FO [central sindical de direita], a FEN [federação de sindicatos de professores], a UNEF (dirigida por anarquistas), a CDJA e a FDSEA [organização de agricultores].»
E depois?
Apesar dos esforços da CGT e do Partido Comunista (pró URSS) para fraccionar a greve geral numa multiplicidade de greves particulares, desmobilizar os grevistas e convencê-los a regressar ao trabalho, a 14 de Junho havia ainda cerca de um milhão de grevistas. Nos dias 13 e 15 de Junho o governo proibiu todas as manifestações e 11 organizações de extrema-esquerda foram dissolvidas, as suas publicações proibidas e os seus militantes presos ou perseguidos. Estabeleceu-se assim o Estado de Direito tal como vigora hoje, baseado na generalização e na institucionalização das medidas de excepção.
Maio de 68 teve duas outras consequências a longo prazo. Por um lado, chamou a atenção dos trabalhadores franceses, e mesmo dos trabalhadores de outros países, para as greves com ocupação das empresas. As lutas autogestionárias foram fortemente impulsionadas por este exemplo e têm voltado a surgir sempre que existem condições concretas para levá-las a cabo. Aliás, as ocupações de empresas em Portugal em 1974 e 1975 podem ser analisadas nesta perspectiva.
Além disso, Maio de 68 ditou o declínio e a irrelevância do Partido Comunista Francês, que se opusera frontalmente à contestação, e embora a CGT seja ainda a principal central sindical francesa, ela detém esta posição num país onde hoje só está sindicalizada cerca de 8% da força de trabalho. É certo que houve militantes comunistas a participar activamente no movimento e que muitos filiados na CGT defenderam o prosseguimento da greve e pronunciaram-se a favor dos estudantes, mas não foi esta a atitude dos dirigentes nacionais de ambas as organizações. A oposição dos dirigentes comunistas franceses ao Maio de 68 condenou-os perante a esquerda anticapitalista, sem que a direita ordeira lhes agradecesse o serviço prestado.
Quando Louis Aragon se preparava para falar, alguém atirou: "crápula estalinista". Seguiu-se a amálgama de slogans da praxe: “não me libertem, eu encarrego-me disso”; “a Humanidade só será feliz quando o último capitalista for enforcado com as tripas do último esquerdista”; “não consumamos Marx, a imaginação ao poder”; “isto não é uma revolução, Senhor; é uma mutação”
No final disse Daniel o Vermelho, (por causa da cor dos seus cabelos): “Até os que participaram da greve geral acabaram votando em De Gaulle: não queriam comunistas no poder, e depois Mitterand tratou de entender que uma esquerda radical jamais formaria uma maioria”. Para as dúbias personagens (os dois judeus) que fabricaram o "spin" (em conjunto como os neofascistas do grupo l`Occidente) estava o servicinho concluído. Para prosseguir com a limpeza iniciou-se a "Operação Gládio" sob controlo directo da CIA.
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