Monumento ao Maine
no Malécon em Havana
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Existe uma longa tradição de manipulação e de mentiras de Estado, que enxameia a história dos Estados Unidos. Um dos casos mais célebres diz respeito à destruição do couraçado Maine na baía de Havana em 1898, que serviu de pretexto à entrada em guerra dos Estados Unidos contra a Espanha, e à anexação de Cuba, Porto Rico, Filipinas e da ilha de Guam. Esta seria aquela que ficou conhecida como a 1ª guerra Imperialista.
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Esta explosão acontecia na altura esperada. Desde há meses que dois patrões da imprensa rivalizavam na procura do sensacionalismo para levarem os Estados Unidos a intervir em Cuba, onde os insurrectos lutavam pela independência da ilha desde 1895: Joseph Pulitzer, do jornal “World”, e sobretudo William Randolph Hearst, do New York Journal. A campanha era sustentada por homens de negócios americanos que tinham investido muito em Cuba. Todos sonhavam desalojar a Espanha e eliminar os independentistas.
Mas o público americano manifestava pouco interesse por este caso e os jornalistas não mostravam muito mais. Em Janeiro de 1898, o desenhador do New York Journal, Frederick Remington, escreveu de Havana ao seu patrão: “Aqui não há guerra e eu peço para regressar”. Hearst enviou uma resposta que ficou célebre: “Continue aí. Mande os seus desenhos, que eu forneço-lhe a guerra”. E, como por acaso, deu-se a explosão do Maine. Hearst desencadeou uma violenta campanha anti espanhola, evocada em “Citizen Kane”, o filme de Orson Welles (1941).
Ao longo de semanas, dia após dia, consagrou algumas páginas dos seus jornais ao caso do Maine e reclamou vingança, repetindo de forma incansável: “Remember the Maine! Hell with Spain!!!” (Lembrem-se do Maine! Para o inferno a Espanha). Todos os outros jornais o seguiram.
Treze anos mais tarde, em 1911, uma comissão de inquérito sobre a destruição do Maine, nomeada pelo Congresso, acabou por concluir ter sido uma explosão acidental na casa das máquinas... A Espanha nada tivera a ver com o caso.
poster da época; os cubanos estão amarrados aos postes da escravatura nas fazendas do açucar, a tropa espanhola persegue-os e fuzila-os, enquanto uma canhonheira norte americana, simbolizando "A Liberdade" aparece providencialmente para os salvar. Sentada no porão, de olhos vendados, está a Opinião Pública embarcada na terra do Tio Sam.
Em tempos de crise a tropa é sempre uma perspectiva de emprego. Nos Estados Unidos, após a declaração de guerra, 200 mil aventureiros voluntários pegaram em armas e alistaram-se no exército regular, atingindo as forças expedicionárias 55 mil homens.
As esquadras norte americanas destruíram a frota espanhola do almirante Cervera ao largo de Cuba a 3 de Julho. Seguidamente os contingentes desembarcaram nas Filipinas, em Cuba e Puerto Rico. A sua progressão, contra populações e soldados em estado bastante empobrecido, assemelhou-se a pouco mais que um desfile em parada militar. Em dez semanas, na guerra contra Cuba, os Estados Unidos tiveram 400 baixas em combate e 4.600 mortos causados por doenças epidémicas. Ao mesmo tempo, na invasão das Filipinas, a última grande colónia espanhola, não perderam um único homem. Depois do triunfo americano, a Espanha, mergulhada numa enorme instabilidade política, aceitou as condições de paz impostas pelo presidente McKinley. A 12 de Agosto de 1898 aceitaram um armistício, assinando a paz consignada pelo Tratado de Paris, quatro meses depois dos factos que se consagrarão como o fim da sua epopeia marítima colonial. O paradigma mudava, outro género de dominação nascia,
o Império de Xanadu construído pelo 4º Poder: o Negócio das Notícias!
Citizen Kane (trailer 9 min.19 seg.)
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