um livrito promovido na lista vip Top Gestão do Expresso; é isto que eles, os teóricos do neoliberalismo, querem; habituamo-nos?
O diagnóstico está feito: a crise de confiança no sistema político, cada vez mais tendente a substituir o estímulo ideal pelo puro profissionalismo, a difusão dos novos meios de comunicação electrónica que corroem o espaço dos jornais em papel, da imprensa e das agências de comunicação geridas pelos governos, a recusa de escolhas de representação por delegação em figuras estafadamente caricatas, um universo sub-ideológico alienado e decidido a procurar bens e serviços de baixa qualidade do fornecedor mundial que ofereça as condições mais convenientes, o centro de gravidade cada vez menos situado na família, a procura incentivada de explicação para os males da sociedade na religião oficial ou em miríades de seitas esotéricas, uma procura sem limites, fluida, segmentada, apolitica, simplificada e cínica numa sociedade do poder difuso onde se desenham controlos biopoliticos, onde as emoções e as sugestões se vão tornar cada vez mais os elementos predominantes do marketing político (a oferta do circo), enfim, o descontentamento provocado pela enormidade dos impostos pagos para financiar os monopólios público-privados nos sectores base da economia e um megalómano aparelho de Estado dedicado a destruir de vez o modelo de bem estar social saído do período do pós guerra que foi fundado sobre o modo fordista de produção.
Massimo Gaggi e Edoardo Narduzzi em “Low Cost” afirmam que marcas como a Ryanair, Ikea, Skype, Zara, Wall-Mart e Google estão a provocar uma verdadeira revolução: a Classe Média está a desaparecer depois de ter sido durante mais de dois séculos a base da sociedade ocidental. Enquanto esta regride, nos antípodas, a China governada pelo programa do Partido Comunista progride com índices a dois dígitos (embora partindo de bases económicas ainda muito baixas), reconhecendo em letra de lei o papel da Classe Média aliada ao Proletariado como forma de resolver e reinterpretar os conceitos de progresso e de desenvolvimento. (no Ocidente a fórmula é o Decrescimento); ou, como dizem os franceses, la Decroissance,
Uma vez que Gaggi e Narduzzi não analisam os factores que determinam o modo de produção que gera o Valor e o problema da propriedade dos meios de produção, mas apenas o Antivalor gerado a jusante pelo Consumo (como se fosse uma fatalidade inquestionável a obrigação de se produzir o que dá mais jeito ao investimento dos capitalistas) - o que os autores podem dizer com razoável certeza (pag. 22 e 23) é que no Ocidente, com o fim da classe média, chega ao fim da linha a grande transformação social da Revolução Industrial e se entra numa nova era caracterizada por (citando do livro):
1) O aparecimento de uma aristocracia muito patrimonializada e abastada, com condições para garantir consumos significativos de bens; são os ganhadores da roleta da inovação capitalista, que – com acrescentos de causar vertigens – retribuiu a aposta, entendida esta como ideia transformada em produto ou serviço original, feita para dar origem a empresas de êxito.
2) A ascenção de uma camada bastante numerosa de tecnocratas do conhecimento, com rendimentos médios ou altos e uma notável capacidade de consumir o que hoje é oferecido em grandes quantidades pela indústria dos paises avançados; os componentes desta camada alternam consumos personalizados de valor acrescentado e aquisições decididas com base na conveniência do preço pedido; raramente sobem ao Olimpo dos multimilionários e com maior facilidade se poderão encontrar, no decurso da sua vida, na situação de “caídos” na massa;
3) Uma sociedade massificada, com rendimentos médios ou baixos, mas à qual a indústria do “low cost” garante o acesso a bens e serviços outrora reservados a estratos mais abastados: a peça de mobiliário desenhada pelo estilista de génio, mas ao preço da Ikeia, ou os “autocarros do céu” que tornam possível vencer os rigores do inverno com breves passagens por climas mais brandos a um preço acessivel; e também os cruzeiros em navios colmeias que, vistos de fora, parecem arranha céus flutuantes, mas que, na realidade, são cómodos e oferecem serviços e divertimentos em quantidade. É a sociedade a que podemos chamar “ryanair Society” ou sociedade do “Low Cost”;
4) Uma classe “proletarizada” ou, de qualquer modo, com escasso poder de compra (dos operários aos reformados sem rendimentos complementares e aos docentes e empregados públicos com família a cargo e salário mínimo), a qual consumirá bens de primeira necessidade, substituirá o automóvel pelo transporte público e viverá de serviços sociais, cada vez mais relegada para modelos sociais de um “Terceiro Mundo” emergente.
quem pagará o verdadeiro custo da sociedade de baixo custo?
14min.54 seg.
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