
Como zona que promete preços astronómicos, os terrenos foram conquistados à propriedade social da cidade e vão sendo “limpos” das bolsas de habitantes de antigos bairros periféricos populares.



Não deixa de ser surpreendente mirar os velhos restos de casas de velhos com os inevitáveis garrafões e sacos de plástico cheios de água para afugentar as moscas, estendais e quiosques de churros coexistindo com a espampanante obra. A nova coqueluche mediática da capital da Catalunha é de autoria do arquitecto estrela Jean Nouvell e propriedade do Grupo (privado) Agbar. A Torre que lhe serve de quartel general é um objecto tecnologicamente complexo que promete sustentabilidade:

A Torre Agbar é um imponente (e dispendioso) lembrete multimédia para todo o passeante que a factura da água chegará, inexoravelmente inflacionada. Há mais de ano e meio que não chove nas bacias dos rios Ter e Llobregat, cujas barragens estão a 22 por cento da capacidade. Na emergência a estação de dessalinização de Almeria e o rios Ebro e Ródano vão garantir fornecimento de água transportada por barco. A moderna e cosmopolita Barcelona vê-se assim confrontada com um problema que remete para um cenário de terceiro mundo: não tem água para enfrentar o Verão e a solução encontrada para o abastecimento custa 180 milhões de euros para 62 quilómetros de condutas a construir, mais 53 milhões para 63 viagens imediatas de 10 barcos cisterna com a capacidade de 20 mil metros cúbicos cada.
Em Maio choveu umas pingas, o nível das barragens subiu para 32,5 por cento e a autarquia aliviou as medidas de urgência; diz Miguel Angel Fraile: “É vergonhoso que se importe água de Tarragona e Marselha que servirá também, sem restrições, para encher as piscinas e para regar jardins e relvados privados dos novos ricos” o que eleva o consumo dos barceloneses para 293 milhões de litros por dia.

Em face deste megaevento a Acção Sindical Social Internacionalista (ASSI) e outras trinta organizações de diversos pontos do globo denunciam Estados, Multinacionais e outras organizações públicas e privadas responsáveis por violações sistemáticas dos direitos humanos no que respeita ao uso da água; a direcção da Expo está relacionada com empresas que possuem o controlo da água em inúmeros paises que têm excluido do acesso à água potável milhões de pessoas no planeta. É àqueles que mais água contaminam, roubam e privatizam com políticas criminosas que se legitima o “reconhecimento mundial” com a “etiqueta sustentável”

faz parte da indústria emergente dos megaeventos e de obras de regime, como tantas outras até aqui, que servem os interesses de empreiteiros, que ocultam a estratégia de saque, acumulação económica e controlo social, com custos ambientais e sociais irreversiveis:
a) O transvase de fundos públicos para mãos privadas e a subjugação das políticas públicas aos ineresses dos capitais locais, regionais, nacionais e transnacionais.
b) A redução no investimento social como consequência dos gastos públicos com este tipo de eventos promocionais
c) O endividamento gerado pela hipoteca do futuro da cidadania a curto e médio prazo.
d) Execução dos diferentes projectos especulativos destinados a expandir artificialmente a cidade implementando a exclusão social.
e) Perpretação de graves agressões ao meio ambiente para levar por diante a Expo com elevados custos energéticos numa feira que dura 3 meses, após o que a área se desertifica
f) Aparato represssivo que acompanha o evento (com o receio de atentados da ETA), com a restrição de liberdades, multiplicação de efectivos policiais, militares e de segurança privada
g) Reprodução de um modelo de cultura-espectáculo elitista, propagandístico e mercantilista.
Elimina hortas cujos custos de rega serão incomportáveis e canaliza o rio Ebro entre infraestruturas megalómanas que nada têm de sustentáveis. Impõe os interesses de uma cidade de 1 milhão de pessoas à totalidade dos 2,6 milhões de habitantes da região. Aprofunda o fosso entre o campo e a cidade. Favorece as multinacionais do “água-negócio” que se apropriam da água das comunidades mais pobres para a vender na forma de serviços potáveis; enfim, sob o falso lema de “uma nova cultura da água”, legitima politicas de privatização da água para as próximas décadas avalizando a mega construção de obras estruturais financiadas pelo Banco Mundial.
Correm os inevitáveis éditos de protesto, manifestando a defesa de:
a) a Água como elemento vital, direito individual e colectivo de todos os seres vivos; e não como mercadoria para especulação.
b) o direito dos povos ao acesso aos seus próprios recursos hídricos e ao controlo dos mesmos
c) a equidade social, ambiental e cultural como factor de sustentação do equilíbrio em contraposição ao conceito neoliberal de “desenvolvimento sustentável”
d) Não à participação directa ou indirecta no evento hipocritamente chamado “Festa da Água”
ps: um momento macabro da ExpoZaragoza será, face ao que se passa actualmente na Faixa de Gaza, o Dia Nacional de Israel, ou seja, o dia do maior ladrão de água à face do planeta Terra.
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