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Por alturas da chegada da Corte portuguesa ao Brasil, navios negreiros despejavam no Mercado de Valongo entre 18.000 a 22.000 homens, mulheres e crianças por ano. Permaneciam em quarentena, para serem engordados e tratados das doença. Quando adquiriam uma aparência mais saudável, eram comercializados da mesma maneira que animais de carga ou de pecuária.
O desembarque, a compra e venda de escravos faziam parte da rotina da colónia havia quase três séculos, face à dificuldade de obter mão de obra indígena. A “mercadoria” destinava-se a alimentar as minas de ouro e diamantes, os engenhos de cana de açúcar e as lavouras de algodão, café e tabaco. Segundo um relato do espanhol Juan Francisco de Aguirre, os 30 monges do Convento de São Bento, então o mais rico do Brasil, "viviam dos rendimentos proporcionados por “quatro engenhos de açúcar, que empregam 1.200 escravos e de rendas de casa no Rio”.
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O cônsul inglês James Henderson descreveu assim o desembarque dos escravos no Rio de Janeiro: “ Os navios negreiros que chegam apresentam um retrato terrível das misérias humanas. O convés é abarrotado por criaturas, apertadas umas às outras tanto quanto possível. As suas faces melancólicas e os seus corpos nus e esquálidos são o suficiente para encher de horror qualquer pessoa não habituada a este tipo de cena. Muitos deles, enquanto caminham dos navios até aos depósitos onde ficarão expostos para venda, mais se parecem com esqueletos ambulantes, em especial as crianças. A pele, que de tão frágil parece ser incapaz de manter os ossos juntos, é coberta por uma doença repulsiva, que os portugueses chamam sarna” (...)
“Quando uma pessoa quer comprar um escravo, visita os diferentes depósitos, indo de uma casa a outra, até encontrar aquele que lhe agrada. Ao ser chamado, o escravo é apalpado em várias partes do corpo, exactamente como se faz quando se compra um boi no mercado. Ele é obrigado a andar, a correr, a esticar os braços e pernas bruscamente, a falar, a mostrar a lingua e os dentes. Esta é a forma considerada correcta para avaliar a idade e julgar o estado de saúde do escravo”
"Assim que o comprador entra o vendedor faz um sinal e todo o harém se levanta e começa a gritar e a dançar, como se para provar que têm pulmões e que compreendem à maravilha a servidão. Infeliz é aquele que não imita os seus companheiros, o chicote bate-lhe no flanco e pedaços de carne negra voam pelo ar" - J.Arago, 1817.
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Era um negócio arriscado. Cerca de 40% dos negros escravizados morriam no percurso entre as zonas de captura no interior do Congo, Angola ou Moçambique e o litoral e depois durante a viagem marítima (em navios de companhias como a Grão Pará e Maranhão). A bordo eram considerados uma carga como outra qualquer; tinham menos espaço que um homem dentro de um caixão segundo relata o autor de “Black Slaves in Britain”: “temendo perder toda a carga antes de chegar ao destino, o capitão Luke Collingwood decidiu lançar ao mar todos os escravos doentes ou desnutridos. Ao longo de três dias, 133 negros foram atirados da amurada, vivos. E depois o armador pedia uma indeminização à seguradora por carga pedida”. Da costa atlântica até ao Brasil a viagem durava entre 33 a 43 dias e do Indico chegava aos 76 dias, quando não havia naufrágios, que eram frequentes. Por fim, ao chegar aos depósitos, como os do Mercado de Valongo, entre 10 a 12% pereciam antes de serem vendidos. Em resumo, de cada 100 negros capturados em África só 45 chegavam ao destino final. Significa que, de dez milhões de escravos vendidos nas Américas, quase outro tanto teria morrido no percurso, num dos maiores genocídios da história da humanidade.
a melhor prova da teoria de Darwin, que as espécies
evoluem ultrapassando e adaptando-se inexoravelmente
às vicissitudes do meio, está na mestiçagem que
desfila no Carnaval do Rio, como este belo exemplar:
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às vicissitudes do meio, está na mestiçagem que
desfila no Carnaval do Rio, como este belo exemplar:
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