Mário Mendes, na entrevista que deu na sequência da aprovação do "Relatório de Segurança Interna (28 de Março) pôs enfâse em dois pontos fulcrais: a alta taxa de desemprego pode ser um detonador para explosões de violência social, relacionando essa possibilidade com a exclusão dos imigrantes nas periferias urbanas; de onde se infere implicitamente que a conjugação dos dois factores, contestação no âmbito social e os actos de banditismo por exclusão que estão na origem do aumento da criminalidade são os alvos prioritários das forças da Ordem.
O que o "superpolícia" chefe, criado no âmbito da Central de Segurança directamente sob alçada do 1º Ministro, quis dizer, subtilmente, é que tanto a contestação de esquerda como a criminalidade comum serão tratadas da mesma forma. E ilustrou a intenção com a proliferação de armas nos subúrbios, tratando de chamar à colação os acontecimentos em Paris e Atenas.
Obviamente, quem se presta a este tipo de papéis, normalmente é usado e deitado fora; e foi o que aconteceu pouco depois, com a criação da "Unidade de Tecnologia de Informação e Segurança" por parte do Ministério da Administração Interna.
Mário Mendes lamenta-se depois (12 de Abril) "não saber o que se pretende com esta nova central informática, que invade a sua esfera de competência". Afinal, agora, não reportando directamente ao gabinete de Sócrates, já ninguém sabe explicar concretamente quem determina o quê, como, porquê e quando. Muito menos adivinhar quem lhes escreve as ordens.
a Criminalização da Dissidência Política
Correm ventos de feição de Oeste para a insignificante casta de imbecis que pensam que podem aprisionar os sonhos num mundo que, naturalmente, sempre pula e avança. Neste aspecto torna-se cada vez mais penoso analisar a verborreia dos actores nacionais, porque daqui nunca saiu nem sairá nada digno de crédito genuino, excepto tachos bovinos e salários faustosos. Virão novidades ao sistema político, a reboque do que vier a acontecer lá fora, em França ou nos Estados Unidos, mas apenas chegarão aqui, como é costume, normalmente em média 300 anos depois.
Evidentemente, reclamando competência, para os parasitas profissionalizados da gestão actual as directivas são para aplicar de imediato – e a aflição notou-se na primeira página dos jornais no simbólico dia 25 de Abril e na afronta do título: o “Alerta contra os Radicais de Esquerda” - Os toutiços inócuos que pariram a manchete, como previsivel, não são orfãos de mãe politica incerta. São filhos, bastardos mas filhos, de um sistema global, cujas directivas estão a ser postas em marcha.
Desde o principio de Abril que foram presos e estão detidos cerca de 300 activistas em Inglaterra apenas em três operações policiais. Normalmente invocam como causa dos ataques a dissidentes de esquerda a suposta “ameaça à ordem pública”. Manter a ordem pública converteu-se agora num pseudónimo para a criminalização de toda a acção política de não concordância com a politica dos desordeiros instalados no Poder.
Ainda antes da reunião dos lideres do G20 em Londres, 5 pessoas tinha sido detidas em Plymouth ao abrigo da “Lei Anti-Terrorista” em cujos relatórios foram acusadas de possuirem “material relacionado com ideologia politica” (sic). Tudo é feito sem acusação formal, conquanto o facto de ser “activista politico” é considerado hoje, em pleno século XXI uma ofensa; mas quem redige os autos não não os policias de guarda às ruas, ainda que chefão lá no superquartel ou ministério – quem tem um mínimo de inteligência não aspira a uma carreira de cão de guarda. Este caminho, como eles não sabem nem sonham, é escrito contra os trabalhadores nas avenidas mais largas dos interesses do Capital.
A brutalidade das acções policiais de repressão, que cumprem programas pré-definidos, está expressa nas actuações paramilitares sobre manifestantes pacíficos na cimeira do G20. Na agressão pelo bófia que causou a morte de Ian Tomlinson prontamente propagandeada pelos media como “ataque cardiaco fatal”; e dias depois no autêntico cerco e ataque a outras manifestações pacíficas em Estrasburgo, naquilo que haveria de ser o lançamento de um novo movimento de massas contra a politica de guerra da Nato. Antes mesmo de qualquer acção as escassas centenas de participantes (a maioria, dezenas de milhar de pessoas, ficaram retidas na fronteira com a Alemanha) foram alvo de aterrorizamento por milhares de policias de intervenção roubando-lhes a esperança de demonstrarem o seu desacordo. Tinham argumentos e queriam ser escutados. Porém como resposta receberam bastonadas, balas de borracha, bombas lacrimogéneas e foram empurrados como animais até às pocilgas preparadas pela policia de choque. Finalmente foram responsabilizados pela actuação violenta do misterioso “Bloco Negro” cujas origens se suspeita estarem nas próprias autoridades, como forma provocatória para descredibilizar o movimento. Nas palavras de Germán Leyens (em “a NATO, Estrasburgo e o Bloco Negro”), perante o terrorismo oficial do Estado, “muitos dos activistas participantes provavelmente nunca mais se aventurarão de novo numa manifestação de massas”. Mas enfim, a função da Nato é provocar ameaças onde quer que dirija as suas acções. É o seu negócio, e os esbirros apenas cumprem ordens.
Os acontecimentos da manhã de 4 de Abril são minuciosamente descritos por um participante (ver discrição detalhada do blogger Rory Winter) que exigiu posteriormente, como muitos outros, um inquérito à brutalidade policial e que termina com ideias concretas:
Yes We Can (Obama vendeu à Europa a ideia que a Al-Qaeda e Bin Laden são mais perigosos que o exército mercenário yankee que controla a Nato) e tem um programa politico de dividir para conquistar. Um Império em declinio usa cada vez maior brutalidade e métodos mais sofisticados para manter o poder. Nada de novo. São conhecidos os programas do FBI e da CIA para dividir o movimento anti-guerra durante a guerra do Vietname - programas como o COINTELPRO que destruiu o Partido dos Panteras Negras, assassinou Luther King, etc. Não há portanto razões para crer que esses mesmos métodos não estejam de novo a ser usados sob a égide da “Segurança Nacional”
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Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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