"Tinha o carácter louro como o cabelo - se é certo que o louro é uma cor fraca e desbotada: falava pouco, sorria sempre com os seus brancos dentinhos, dizia a tudo «pois sim»; era muito simples, quase indiferente, cheia de transigências."
Casa cheia no São Jorge para a ante-estreia de «Singularidades de Uma Rapariga Loura», uma feliz conjunção (deveria ser (1) do cineasta Manoel de Oliveira com um conto quase inédito de Eça de Queiroz, escrito em Havana em 1874
"Começou por me dizer que o seu caso era simples – e que se chamava Macário (...) Luísa ia examinando as montras forradas de veludo azul, onde reluziam as grossas pulseiras cravejadas, os grilhões, os colares de camafeus, os anéis de armas, as finas alianças frágeis como o amor , e toda a cintilação de pesada ourivesaria.
– Vê, Luísa – disse Macário.
O caixeiro tinha estendido, na outra extremidade do balcão, em cima do vidro da montra, um reluzente espalhado de anéis de ouro, de pedras, lavrados, esmaltados;
e Luísa, tomando-os e deixando-os com a ponta dos dedos, ia-os correndo e dizendo:
– É feio. É pesado. É largo.
– Vê este – disse-lhe Macário.
Era um anel de pequenas pérolas.
– É bonito – disse ela. – É lindo!
– Deixa ver se serve – disse Macário (...)
adenda
* (1) Lembrei-me agora, sobre a conclusão que "Portugal não tem mercado para alimentar o cinema português" que a frase chave do certame é de Hugo Torres:
"Podemos estrebuchar, mas o certo é que é a Academia norte-americana que dita quem goza ou não de reconhecimento massificado"
* "Werner Herzog esteve o ano passado nomeado para um óscar pela primeira vez", mas não passou de uma ameaça; eis outra forma de reconhecimento: pela ausência"
.
Sem comentários:
Enviar um comentário