Se o que vemos na realidade tivesse sido pago com dinheiro ganho com trabalho, mais de dois terços da paisagem desapareceria. O problema actual do capitalismo é que toda a construção material que vemos (obtida com dinheiro ficticio) de facto existe, mas não está paga...
“sermos isentos sem nunca sermos apartidários”
(Eduardo Chitas)
As duas manifestações destes dois fins de semana (porque não interromper o repasto dos politicos profissionais burgueses nos dias da semana?) podem bem classificar-se como de duas esferas distintas; a primeira (de dia 12) independente e apartidária, da ordem do privado, e a manifestação de hoje (dia 19) convocada por partidos de esquerda e sindicatos progressistas que se inscreve na ordem do direito público. A primeira tenta o esboço de um movimento constituido por indivíduos avulso que trata dos seus direitos (jus privatum) e pretende salvar o capitalismo naquilo que é útil às pessoas, emprego e imunidade face à omnipotência do Estado em cobrar impostos para salvar a classse dominante, banqueiros, patrões e eunucos correlatos sem bolsos para além do salário certo. Esta segunda manifestação, bem distinta, reclama o direito colectivo (jus publicum) sobre aquilo que se entende como conceito de património do Estado posto ao serviço da maioria da comunidade, para o que advoga a reforma pacífica do capitalismo, por etapas, de modo a que os patrões que acumulam as mais valias do trabalho tenham tempo de ensaio para fugir em frente na busca de novas formas de exploração.
Escusado será dizer que ambas as sugestões de acção (capitalistas) estão desactualizadas, porque o direito criminal, inscrito no direito romano como “publicum ius in sacris, in sacerdotibus, in magistratibus consisti” (o direito público respeita às coisas sagradas, aos sacerdotes e aos magistrados), hoje em dia está mais que actualizado que nunca, enquanto o crime de lesa património público se passeia por aí de rédea completamente solta.
Isto porque, como os tribunais comuns expressavam na Prússia desde 1653, “os assuntos de governo que envolvem os regalia (direitos da Coroa) não são assuntos de justiça”. Entender esta questão é meio caminho andado para os trabalhadores (da produção de bens concretos) tomarem consciência que, de uma maneira ou de outra, a dia 12 ou a dia 19, estão bem fodidos, porque trabalhar na sociedade neoliberalizada é hoje (como era ontem nas sociedades primitivas) considerado desprestigiante. Para os operários, o único remédio que já fará efeito determinante é tomarem o aparelho de Estado, não para exigir a funcionários mais isto e aquilo, mas para destruir o Estado, tomando nas mãos das organizações de trabalhadores a construção de uma sociedade autogestionária. Imaginem um mundo sem fronteiras, sem cavacos, gamas, sócrates, loureiros, amados ou passoscoelhos... e o regresso ao verdadeiro valor das coisas.
(nunca perdendo de vista o despudorado aproveitamento que a sociedade do espectáculo faz das genuinas aspirações populares, integrando-as, quando não as conseguem assassinar, Willie Nelson, Carter e tutti quanti...)
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