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quarta-feira, março 16, 2011

"Sem crescimento a situação não se resolve", então? "Aumenta-se a produção" sem cuidar de ver a que bolsos vão parar a maior talhada dos lucros?

Ponto prévio. A critica ao PCP não pode ser entendida como uma critica contra o PCP. De facto o que se pretende é uma radicalização do partido à esquerda, o abandono do reformismo legalista na óptica burguesa, enfim, a inconsequente actividade parlamentar deverá ser relegada para segundo plano, em beneficio das acções directas alinhadas com as lutas e aspirações das massas populares. Ainda que esta opção relegue também para uma segunda linha as figuras eleitas no Comité Central, em beneficio da ideia de uma grande Esquerda em Portugal

Raquel Varela entrou para a história recente das opções revolucionárias, quando diagnosticou que a derrota da Revolução de Abril se ficou a dever a um momento fulcral - à desmobilização imposta pelos directórios reformistas aos operários que cercavam o Assembleia Constituinte no “verão quente” de 1975, ao invés de os incitar a invadir o Parlamento (1) e provocar a queda do Poder ousando fazer a sua gestão através das suas organizações de classe. A historiadora Raquel Varela acaba de editar “A História do PCP na Revolução dos Cravos” (Edit.Bertrand). Ficam dois excertos.

“Importa referir que mais dependente do Estado do que o PCP para sobreviver era o próprio PS, uma vez que os comunistas dirigiam a Intersindical e, no Sul as UCP, e o PS não. Por isso, para os socialistas, ter influência na comunicação social, dirigir autarquias, ganhar eleições era tão ou mais importante do que para o PCP. Isso não significa que o PCP não tenha feito todos os esforços para aumentar essa influência. Vinha com uma clara vantagem, que era ter sido o único que no momento da queda da ditadura estava apto a preencher os lugares que iam caindo. O PCP disputou, numa luta aguerrida com o PS, a organização do Estado, mas isso não significa que tenha querido “tomar o poder”, ou seja, transformar a natureza de classe do Estado (…) porque esse Estado conseguiu, com contradições, gerir e enquadrar essa ocupação de lugares chave, sem colocar em causa a sua natureza de classe. (página 299)

o PCP, a “Batalha da Produção” e o Controlo Operário

“A partir das nacionalizações, a questão da gestão das empresas e do controlo operário vai estar na ordem do dia. Na década de 70 do século XX o controlo operário era uma reinvindicação comum entre jovens liberais, trabalhistas de esquerda, sindicalistas reformistas. Estes diferentes sectores não falavam do mesmo quando usavam esta terminologia. O tema foi amplamente estudado e discutido por várias obras centrais. Maurice Brinton, por exemplo, considera que o controlo operário é uma forma de “distrair” os operários da auto-gestão, a única que coloca em causa o lucro. Ernest Mandel também defendeu que, para além do controlo democrático das empresas capitalistas a definição de controlo operário só faria sentido como medida de transição. John L. Hammond usa uma definição mínima: controlo colectivo dos trabalhadores sobre as empresas, deixando em aberto o nível de controlo, o que podia ir desde questões de gestão como despedimentos a questões de distribuição da produção (…) Esta discussão é indispensável para compreendermos a politica do PCP face às nacionalizações mas também à conflituosidade social no país, na medida em qua as propostas se estendem ao secotr privado. O partido tem uma definição de controlo operário que não se enquadra de forma clara em nenhuma das enunciadas acima” (pags 224/227)



(1) Sondagem: "78 por cento dos europeus não acreditam nos politicos eleitos para os governos nem nos da oposição"
(2) Ilustração no topo. Pormenor dos painéis de Diego Rivera para a fábrica da Chrysler em Detroit (1932)
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