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quinta-feira, março 30, 2006

no World Park

visita-se o Mundo inteiro sem sair de Pequim (sinopse e criticas, aqui)

“Conhecem o Portugal dos Pequeninos, em Coimbra? Pois talvez não saibam que em Pequim tambem há um. Bom, não é dos pequeninos nem da China. É dos granditos e do Mundo. Um World Park onde, em 46,7 hectares, coexistem, à escala reduzida, 106 dos mais famosos monumentos de dezena e meia de paises e regiões do planeta – da Torre Eiffel à Praça de São Pedro, da Torre de Pisa ao Big Ben, das Pirâmides do Egipto (com camelos e tudo) às Torres Gémeas (“elas já não existem, mas nós temos as nossas” – dirá uma personagem)”
Rodrigues da Silva, (no JL) remata a sua critica ao filme de Jia Zhang-Ke citando a frase de François Truffaut “quem ama a Vida vai ao Cinema”, metáfora das nossas vidas virtuais de anónimos seres humanos de telemóvel em punho enviando sms, ligados a um computador, viciados em jogos de video ou musica electrónica, condenados a um universo globalizado na era digital tambem ele virtual, onde, de um modo ou de outro, hoje cabemos todos. São mundos que não são fisicos e que não podem ser ignorados. E que se conectam aqui e ali com o mundo real.
O mundo para as personagens de “The World” não é o mundo, mas o tal World Park, o que permite que as personagens mudem constantemente de “país” (isto é, de cenário) sem nunca sairem do mesmo sítio. (há mesmo uma companhia aérea – Cinco Continentes – que não voa; tem aviões, hospedeiras para acolher os “passageiros”, mas pronto, tal como tudo o mais no World Park, é virtual). É nesta disneylandia que evoluem uma série de personagens de carne-e-osso, com os seus anseios e as suas frustações – bailarinas (o World Park tem musicais, também eles por paises), seguranças, operários. Todo o mundo n’O Mundo, o qual, se se concentra no World Park, dispersa-se por aqueles que, para atracção dos turistas, o mantêm em movimento. Chinese claro, oriundos da provincia, jovens empregados subalternos para quem Pequim constituiu o Eldorado que se revela uma desilusão. Tanto maior quanto é certo que o dia-a-dia desses funcionários os leva constantemente a dar a volta ao mundo se nunca sair de Pequim, como melancólicamente dirá uma personagem. Ora esse mundo distante é a ambição de quem trabalha no Mundo. O que se explica: a partir do momento em que, embora sob ditadura “comunista” os bens de consumo se tornaram o simbolo do progresso e do bem estar, é óbvio que as pessoas os desejam. Enquanto sonham com os niveis de consumo das parises e nova-iorques que nunca terá nem onde nunca irão. Outrora eram camponeses e talvez acreditassem no comunismo; agora já não acreditam em nada; São meras peças de uma engrenagem que lhes garante a sobrevivência, na visão crítica do realizador que é um “dissidente” na nova vaga de cineastas consentidos pelo governo chinês. O percurso inverso também é possivel.Quantos de nós não foram já em visitas de lazer a destinos exóticos onde personagens ficticias macaqueiam os folclores locais para turista ver?

Portanto, a diferença fundamental dos personagens deste filme para o espectador ocidental é a de que eles, regra geral, não mudam de sítio, (e neste apecto o Partido Comunista da China presta um inegável serviço à Humanidade) enquanto nós, aos que se conseguem alcandorar a niveis de maior previlégio, somos livres de ir larear a pevide para “destinos de sonho”; de sonho para os que vão daqui, não para os locatários desses lugares ideais, onde a vida fora das cercas de arame farpado e muros dos luxuosos resorts de luxo é um pesadelo.
Numa altura em que se assiste a uma crescente tendência para os nacionalismos económicos, onde cada vez mais se invocam leis de protecção aos mercados internos nos nossos paises mais desenvolvidos, isto traz a debate a diferença de conceitos de mobilidade, quando também as leis laborais se pretendem que sejam liberalizadas equiparando homens e mercadorias. ¿Será a globalização um conceito “definitivo” de desenvolvimento? Ou no outro extremo, como advogam os defensores da altermundialização, fará mais sentido produzir localmente e consumir localmente “homens e mercadorias”? – a escolha parece fácil - pela opção de uma regulação mundial que planifique a produção sob a égide de um organismo supranacional com preocupações ecológicas que imponha limites aos desvarios do tipo de consumismo anárquico e criminoso predominante.
Parece evidente que a sobrevivência do comércio mundial, depende do estabelecimento de condições de equilíbrio das balanças externas dos participantes. É claro que para alguns poucos, que sabemos bem quem são, o comércio externo, regulado pelo instrumento de dominação que é a OMC, e a liberalização não são mais do que as capas para uma exploração desavergonhada. A existência de equilíbrios íria estragar o carácter predatório do comércio externo, impedindo o saque das economias mais frágeis.
Sabemos que o sucesso dos predadores depende deste sistema de trocas desiguais, principalmente desde que os símbolos do World Trade (traduzido literalmente por Torres do Comércio Mundial, o que muitas vezes é esquecido) explodiram a bem da tomada de iniciativas de retoma do à época semi-falido sistema global.













* propostas alternativas:
"Economia solidária, fundamento de uma globalização humanizadora"
ATTAC - FSM Mumbai

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