"A Comunidade lusófona, Cabo Verde e Angola estarão entre as minhas prioridades"
Anibal Cavaco Silva
Nicolas Sarkozy filho de pai emigrante estrangeiro - o tal que apelidou os jovens de Paris de escumalha da sociedade - putativo candidato neoconservador à sucessão de Chirac na Presidência em França, foi dos primeiros a vir prestar vassalagem à recém estabelecida baiuka plantada perto do mar, neste cantinho. Oficialmente, segundo a CS, na visita veio tratar de tudo,,, menos do essencial.
Embora por aqui, no Troll Urbano, algo se tivesse adiantado no sentido em que se conclui: "Entendi-o perfeitamente Sr. Ministro", o facto é que o essencial está noutro lado. Trata-se de know-how (chamêmos-lhe assim) sobre práticas correntes de exploração neo-colonialista. E a chave está neste artigo:
Mistura de planos (publicado no Le Monde Diplomatique- Fevereiro 2006)
Depois do processo dos dirigente da Elf em 2002, um outro «caso», o das vendas de armas ilícitas a Angola na primeira metade da década de 1990, poderá agora ser levado a tribunal em França, instruídos pelo juiz Jean-Pierre Courroye, os factos incriminados poderão ser objecto de um processo em 2007. Em 1992, para neutralizar uma nova ofensiva da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e proteger as suas instalações petrolíferas, o governo de Luanda terá solicitado ajuda militar a França. Os padrinhos do processo de paz – Rússia, Portugal e Estados Unidos – tinham decidido, por ocasião dos Acordos de Bicesse (Portugal) de 1991, não entregar armas aos beligerantes. Jean-Chistophe Miterrand ter-se-ia então encarregado de satisfazer a procura. Antigo director da secção Africa do Eliseu, o filho do presidente francês teria organizado o tráfico com a ajuda de Pierre Falcone, conselheiro da Sofreni, empresa estatal responsável pela exportação de material de segurança, e próxima de Jean-Charles Marchiani, braço direito do ministro do Interior Charles Pasqua. A instrução judiciaária permitiu já ouvir os protagonistas, e Miterrand foi detido temporariamente. Não parece haver em Paris grande pressa em ver o processo chegar o bom porto...
Desde o «caso Elf» que uma mistura de tão grande dimensão dos planos político-económico parece ter vindo a diminuir ( ler a investigação de Anne-Valérie Hoh e Barbara Vignaux* (aqui em espanhol). No entanto, essa mistura perdura revestindo-se de outras formas em certos países, como o Gabão, onde homens de negócios franceses pertencem ao círculo próximo do presidente Omar Bongo e não hesitam em activar as suas amizades políticas, de direita e de esquerda, em França. Entretanto, a Total dispersou os antigos quadros da Elf, alguns dos quais se refugiaram em duas pequenas sociedades francesas: a Perenco e a Maurel & Prom. No quadro da abertura dos mercados do continente negro, as antigas rede foram substituídas por estratégias de requalificação pessoal que criam uma nebulosa de homens de negócios influentes nas áreas da energia, construção, comunicações, banca, seguros, segurança e aconselhamento jurídico. Estes actores económicos, muitas vezes ligados aos partidos políticos franceses e aos meios governamentais, não hesitam em manipular tanto a maioria como a oposição. Assim, na Costa do Mafim Olivier Bouygues, presidente da Saur-CIE (grupo Bouygues), é próximo do célebre opositor Alassne Ouattara. Mas a «comunicação » do grupo foi confiada a Martine Studer (Ocean Ogilvy), mulher de Christian Studer (grupo Bolloré) e activista da «campanha pela paz» do presidente Laurent Gbagbo.
Esta trama, que assume por vezes a forma de casamentos entre homens de negócios e mulheres do círculo presidencial do país envolvido, constitui um notável apoio para certos regimes ditatoriais ou autoritários no espaço francófono. Assim, no caso do Gabão, Jean-Claude Baloche, presidente da Socoba (construção), casou com Flore Bongo, filha do presidente; a mulher de Edouard Valentin, presidente do conselho de administração da seguradora Ogar, trabalha no secretariado de Bongo; também ele francês, Paul Bry, que dirige a Sonapresse, edita o principal jornal diário do país e apoia o regime ... Nas vésperas da eleição presidencial de 29 de Outubro de 2005, o governo francês atribuiu ostensivamente 17 milhões de euros, sob a forma de anulaçºao da dívida externa, à petromonarquia de Libreville. O Burquina-Faso, o Togo, o Gabão, os Camarões e o Congo-Brazzaville são palco de conluios por vezes mafiosos, sobre os quais a representação política francesa nunca se debruçou verdadeiramente. Estes conluios, bem como a exploração social das populações no quadro de economias muito desiguais, alimentam, entre os povos africanos, uma rejeição cada vez mais violenta da presença francesa.
Não foi Cavaco Silva que quando foi primeiro Ministro de deslocou a Angola (Luena) apoiando efusivamente o MPLA num comicio eleitoral?
Não foi Durão Barroso, convidado para o casamento da filha do ditador angolano?
Não foram eles os dois, que continuadamente ignoraram e ignoram as graves situações de violação dos Direitos Humanos que todos os dias se desprezam em Angola?
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