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quinta-feira, novembro 23, 2006

em busca dos Bónus perdidos
uma visita às Origens do Fascismo Americano

Quem viajou por dentro d`”As Vinhas da Ira”, um best-seller sobre as desventuras da familia do judeu Joad (uma saga escrita por outro judeu, que ao naturalizar-se americano mudou o nome para Jonh Steinbeck) viu como é dramática a perda de perspectivas de vida dos pobres que apenas têm para venda a sua força de trabalho, e de como, ainda por cima, eles são vítimas das tramas secretas engendradas pela expansão descontrolada do Capital e das sórdidas maquinações dos capitalistas. (They streamed over the mountains, hungry and restless - restless as ants, scurrying to find work to do - to lift, to push, to pull, to pick, to cut - anything, any burden to bear, for food. The kids are hungry. We got no place to live. Like ants scurrying for work, for food, and most of all for land"). Resultante do “crash” da Bolsa de 1929, em face das falências generalizadas e do desemprego, Joad é obrigado a emigrar e passa as passas da Califórnia, deambulando de terra em terra em busca de trabalho, para conseguir alimentar a família, sempre nos limites da sobrevivência. (Qualquer semelhança deste filme com a realidade presente é mera coincidência). Por lapso a novela não se debruça sobre o quotidano de quem provoca as crises, porque esses não vendem; não nos fazem choramingar de comoção; Steinbeck provavelmente também nunca terá lido o nosso “Uma Familia Inglesa” para se aperceber dos mecanismos que lançam os povos na miséria. Aconteceu que, na desolada paisagem americana, os capitalistas tinham deslocalizado os investimentos para a Europa, para a fluorescente industria do aço e do armamento, onde já se fazia anunciar a germinação do ovo da serpente. Mas, no meio das imensas nuvens de poeira em que o midwest mergulhou, quem acabou por ficar com as culpas foi a falta de chuva.

No auge da Grande Depressão, em 1932, centenas de militares, muitos deles veteranos da 1ª Grande Guerra, desceram à cidade, exigindo o pagamento das remunerações e bónus previstos na Lei. Todavia o Governo estava à beira da bancarrota, e não havia dinheiro que chegasse para pagar as reinvindicações. Por trás do movimento contestatário, na sombra, encontrava-se o proeminente General republicano Smedley Butler, apoiado por um conjunto de importantes banqueiros e industriais, que estava apostado em desencadear um golpe de estado de extrema direita, para destituir o presidente Herbert Hoover e proclamar-se como aliado dos regimes nacionalistas que irrompiam pela Europa pretendendo pôr fim à crise generalizada do capitalismo – Hitler acabava de chegar ao Poder – e os banqueiros de Wall Street financiavam o rearmamento da Alemanha. A hidra nazi tinha vindo para ficar. Butler (que tinha outros trunfos escondidos na manga), com uma frase que ficou famosa – “só se tiveres dinheiro suficiente poderás continuar a matar”, demarcou-se do complot perante a opinião pública, porém os militares revoltosos prosseguiram as acções, tendo acampado em frente da Casa Branca . Ordenada a repressão, interveio uma unidade de Cavalaria sob o comando do General Douglas MacArthur que dispersou os manifestantes. Em "The Plot to Sieze the White House" Jules Archer conta a história detalhada da conspiração. No final, concluiu-se que não há nada como uma boa guerra para alimentar e engordar as matilhas militares; pensar em destruir qualquer coisa para de seguida se implementar o sucesso da reconstrução. Que tal para esse efeito, eleger um "democrata", que não desse muito nas vistas? O próximo presidente, apoiado em força pela "American Liberty League" iria tratar disso mesmo.
Eleito Franklin Delano Roosevelt, é muito divertido, reler hoje o discurso, diametralmente oposto, que é vendido pelos politicos para consumo da plebe; logo na tomada de posse Roosevelt afirmou que "a prática pouco escrupulosa dos operadores do dinheiro iria ser julgada no tribunal da opinião pública", porque "na busca desenfreada apenas pelo seu próprio lucro eles induzem o povo a seguir a sua falsa liderança" e como "não têm uma visão para a sociedade, o povo perecerá"."Os banqueiros do alto dos seus assentos abandonaram o Templo da nossa civilização. Vamos agora restaurar esse Templo no retorno à nossas verdades ancestrais". Bravo. Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço, Roosevelt não tardou a inverter a retórica. (discurso integral, aqui)
O presidente concordava que o Tratado de Versalhes, assinado em 1919, fora injusto e que as democracias fracassaram na época das reconstruções do após-guerra. Os regimes democráticos europeus, dizia, "tinham produzido na Europa homens fracos, na medida em que dependiam das benesses sociais facultadas pelos Estados". Como se vê, esta conversa já é velha.

um dia destes voltamos ao assunto, para vermos como Roosevelt trabalhou empenhadamente para provocar a II Grande Guerra.





o "Bónus Army", como ficou conhecido o grupo de
revoltosos, nos tumultos em que houve mortos e
feridos, incendiaram várias casas em Washington.
(Ao fundo na foto pode ver-se o Capitólio)
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