Onde e enquanto vigorar o Capitalismo o conceito original de Democracia estará sempre subvertido. Diz Marx no primeiro capítulo de “O Capital”: “a riqueza das sociedades onde impera o regime capitalista de produção surge-nos como um imenso arsenal de mercadorias”. Hoje em dia é dos Mercados para essas mercadorias e da liberdade de acesso a esses mercados que trata o sistema politico a que chamam de “democracia” – como se a liberdade na diversidade dos milhões e milhões de pequenos produtores não estivesse cerceada e pudesse competir com a hegemonia dos grandes monopólios que concentram o consumo nas grandes superfícies comerciais em investimentos de milhares de milhões para os quais a Banca sempre encontra crédito [Como se sabe, os homens mais ricos nos países capitalistas são normalmente os donos das mega-cadeias de distribuição]. Pouco importa aos decisores do poder se esse “Mercado” (dito “livre”) tenha perdido os seus valores iniciais e fosse adquirindo o carácter selvático que hoje o caracteriza (1). A existência ou não dessa liberdade na esfera da produção não conta para nada. Para quê a preocupação com a lei do Valor de Marx se hoje a “liberdade” é medida, na óptica dos gestores capitalistas (2), não pelo valor das mercadorias e serviços mas pela quantidade de papel-moeda impresso?
Mais eficaz que qualquer desfile ou manifestação cívica respeitadora e ordeira tendo em vista "transformar o mundo e não apenas em filosofar sobre ele", seria uma greve ao consumo nas grandes superficies comerciais - que são a base de sustentação dos grandes monopólios multinacionais (3). Comprar apenas local aos produtores locais no comércio tradicional e, já que estamos condenados a fazer sacrificios, comprar apenas produtos portugueses. Uma surpresa para a qual "a nossa Europa" dos patrões não estaria decerto à espera.
Josephine Meckseper fez esta fotografia na década de 70
colocando em contraponto um grupo de manifestantes e
um caixote extravasado do lixo que o evento produziu.
Na prática os manifestantes estão a ajudar o
paradigma de consumo capitalista que pensam criticar
colocando em contraponto um grupo de manifestantes e
um caixote extravasado do lixo que o evento produziu.
Na prática os manifestantes estão a ajudar o
paradigma de consumo capitalista que pensam criticar
notas
(1) “Tempos de Barbárie”, António Doctor, in “Politica Operária”
(2) Na economia neoliberal por cada dez dólares impressos, 9 são destinados a cobrir a especulação e apenas 1 dólar é indexado ao pagamento de mercadorias e serviços.
(3) "Um dos mitos propagandeado pelos diáconos do capitalismo e apropriado acriticamente por muitas ONGs é o do consumo responsável. Este mito diz-nos que podemos mudar o mundo pelo consumo, usando o nosso dinheiro para “votar” em produtos ecológicos. Assim se transfere a responsabilidade pela crise ecológica dos produtores para os consumidores e se cria a ilusão de que vivemos numa “democracia de mercado”. Obviamente, a realidade é muito diferente. No mercado, quem deveria determinar o que é produzido e o modo de produção é o produtor, não o consumidor. Ninguém nos perguntou se queríamos que as empresas destinassem o dinheiro que lhes damos à invenção de novos produtos electrónicos, como I-phones ou televisores plasma, ou ao desenvolvimento de produtos electrónicos mais eficientes no uso de energia. Ninguém nos perguntou se queríamos viver numa sociedade dominada pelo automóvel, se queríamos que a electricidade que entra em nossa casa fosse gerada maioritariamente por combustíveis fósseis ou se queríamos passar os fins-de-semana enfiados em grandes superfícies comerciais". (Ricardo Coelho, Informação Alternativa, Agosto de 2010)
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3 comentários:
claro, o circulo vicioso está bem montado. derretes o que ganhas na tabanca dos patrões!
os zoombies ao fim de semana é vê-los nas catedrais a arrastarem-se sem sentido.
OS QUE LUTAM VERDADEIRAMENTE POR UM PAÍS DEMOCRÁTICO FAZEM ISTO:
http://otempoquehadevir.blogspot.com/2011/05/break-105.html
Como outro dia me falou xatoo, numa 3ªG.G. poder vir do lado da China, aqui está um post do "duas ou três coisas" que bem conhece:
«O meu colega luxemburguês, Georges Santer, um diplomata com grande experiência da China, apresentou hoje um trabalho, num determinado contexto, do qual achei curioso citar dois elucidativos extratos:
"Os que acreditam que a China acaba de instalar o seu poderio na cena internacional não apreenderam realmente o fenómeno que o planeta vive no atual momento. A China não emerge, a China retoma o seu lugar como primeira nação da Terra. Eis o que faz vibrar a alma de todo o chinês".
"Para a China, os Estados Unidos são o único país que ela respeita verdadeiramente: um país capaz de dar sequência aos seus anúncios de atos concretos, bastante fácil de apreender do ponto de vista cultural face à diversidade extrema das culturas europeias e face a países cujos cujas posições conduzem à frequente emergência de situações de conflitualidade".
Interessante! »
Read more: http://duas-ou-tres.blogspot.com/#ixzz1LgA0s81t
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