Pesquisar neste blogue

sábado, maio 07, 2011

Capitalismo democrático?

Que podem as manifestações ordeiras e bem comportadinhas de uma esquerda reformista de convívio com o neoliberalismo e zeladora da Ordem como acção para modificar o mundo em que vivemos? Muito pouco!, A revolução é um desfile?

Onde e enquanto vigorar o Capitalismo o conceito original de Democracia estará sempre subvertido. Diz Marx no primeiro capítulo de “O Capital”: “a riqueza das sociedades onde impera o regime capitalista de produção surge-nos como um imenso arsenal de mercadorias”. Hoje em dia é dos Mercados para essas mercadorias e da liberdade de acesso a esses mercados que trata o sistema politico a que chamam de “democracia” – como se a liberdade na diversidade dos milhões e milhões de pequenos produtores não estivesse cerceada e pudesse competir com a hegemonia dos grandes monopólios que concentram o consumo nas grandes superfícies comerciais em investimentos de milhares de milhões para os quais a Banca sempre encontra crédito [Como se sabe, os homens mais ricos nos países capitalistas são normalmente os donos das mega-cadeias de distribuição]. Pouco importa aos decisores do poder se esse “Mercado” (dito “livre”) tenha perdido os seus valores iniciais e fosse adquirindo o carácter selvático que hoje o caracteriza (1). A existência ou não dessa liberdade na esfera da produção não conta para nada. Para quê a preocupação com a lei do Valor de Marx se hoje a “liberdade” é medida, na óptica dos gestores capitalistas (2), não pelo valor das mercadorias e serviços mas pela quantidade de papel-moeda impresso?

Mais eficaz que qualquer desfile ou manifestação cívica respeitadora e ordeira tendo em vista "transformar o mundo e não apenas em filosofar sobre ele", seria uma greve ao consumo nas grandes superficies comerciais - que são a base de sustentação dos grandes monopólios multinacionais (3). Comprar apenas local aos produtores locais no comércio tradicional e, já que estamos condenados a fazer sacrificios, comprar apenas produtos portugueses. Uma surpresa para a qual "a nossa Europa" dos patrões não estaria decerto à espera.

Josephine Meckseper fez esta fotografia na década de 70
colocando em contraponto um grupo de manifestantes e
um caixote extravasado do lixo que o evento produziu.
Na prática os manifestantes estão a ajudar o
paradigma de consumo capitalista que pensam criticar


notas
(1) “Tempos de Barbárie”, António Doctor, in “Politica Operária”
(2) Na economia neoliberal por cada dez dólares impressos, 9 são destinados a cobrir a especulação e apenas 1 dólar é indexado ao pagamento de mercadorias e serviços.
(3) "Um dos mitos propagandeado pelos diáconos do capitalismo e apropriado acriticamente por muitas ONGs é o do consumo responsável. Este mito diz-nos que podemos mudar o mundo pelo consumo, usando o nosso dinheiro para “votar” em produtos ecológicos. Assim se transfere a responsabilidade pela crise ecológica dos produtores para os consumidores e se cria a ilusão de que vivemos numa “democracia de mercado”. Obviamente, a realidade é muito diferente. No mercado, quem deveria determinar o que é produzido e o modo de produção é o produtor, não o consumidor. Ninguém nos perguntou se queríamos que as empresas destinassem o dinheiro que lhes damos à invenção de novos produtos electrónicos, como I-phones ou televisores plasma, ou ao desenvolvimento de produtos electrónicos mais eficientes no uso de energia. Ninguém nos perguntou se queríamos viver numa sociedade dominada pelo automóvel, se queríamos que a electricidade que entra em nossa casa fosse gerada maioritariamente por combustíveis fósseis ou se queríamos passar os fins-de-semana enfiados em grandes superfícies comerciais". (Ricardo Coelho, Informação Alternativa, Agosto de 2010)
.

3 comentários:

Anónimo disse...

claro, o circulo vicioso está bem montado. derretes o que ganhas na tabanca dos patrões!

os zoombies ao fim de semana é vê-los nas catedrais a arrastarem-se sem sentido.

Fada do bosque disse...

OS QUE LUTAM VERDADEIRAMENTE POR UM PAÍS DEMOCRÁTICO FAZEM ISTO:
http://otempoquehadevir.blogspot.com/2011/05/break-105.html

Fada do bosque disse...

Como outro dia me falou xatoo, numa 3ªG.G. poder vir do lado da China, aqui está um post do "duas ou três coisas" que bem conhece:

«O meu colega luxemburguês, Georges Santer, um diplomata com grande experiência da China, apresentou hoje um trabalho, num determinado contexto, do qual achei curioso citar dois elucidativos extratos:

"Os que acreditam que a China acaba de instalar o seu poderio na cena internacional não apreenderam realmente o fenómeno que o planeta vive no atual momento. A China não emerge, a China retoma o seu lugar como primeira nação da Terra. Eis o que faz vibrar a alma de todo o chinês".

"Para a China, os Estados Unidos são o único país que ela respeita verdadeiramente: um país capaz de dar sequência aos seus anúncios de atos concretos, bastante fácil de apreender do ponto de vista cultural face à diversidade extrema das culturas europeias e face a países cujos cujas posições conduzem à frequente emergência de situações de conflitualidade".

Interessante! »

Read more: http://duas-ou-tres.blogspot.com/#ixzz1LgA0s81t