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terça-feira, dezembro 31, 2013

a terceira via

No último dia do ano velho, é da tradição deitar fora tudo o que não presta

"Existem dois" reinos de terror ": o assassinato forjado na paixão a quente; o outro sem coração, a sangue frio; o primeiro dura uns poucos meses, o outro dura mil anos; um causa a morte a dez mil pessoas, o outro mata uma centena de milhar, mas os nossos medos vão todos para os "horrores" do menor terror, o terror momentâneo, por assim dizer. E o que é o horror da morte rápida pela guilhotina, em comparação com a morte lenta ao longo de anos da vida de fome, frio, insultos e crueldade praticada a sangue frio? Um cemitério de uma qualquer cidade poderia ser preenchido pelos caixões daquele breve Terror que todos nós temos sido tão diligentemente ensinados a temer e lamentar; mas toda a França não poderia conter os caixões cheios pelas vítimas que o terror mais doloroso, indizivelmente mais amargo e terrível, mais velho e real, que nenhum de nós foi ensinado a ver em toda a sua vastidão ou piedade como ele merece ser visto" (Mark Twain). Existe uma terceira via, sem dúvida mais dramática para todos os que espalham o terror

segunda-feira, dezembro 30, 2013

"Mas a solução integral dos problemas para uma vida socialista em concreto, só pode surgir a partir da prática comunista: discussão colectiva, ir progressivamente modificando de modo simpático as consciências, unificando-as e inspirando as pessoas com um entusiasmo activo. É um acto comunista e revolucionário dizer a verdade, para chegarmos todos juntos à verdade. A "ditadura do proletariado" deve deixar de ser uma mera fórmula retórica, uma ocasião para se usar fraseologia revolucionária vistosa. Quem quer atingir um fim também deve querer usar os meios" (Antonio Gramsci)

domingo, dezembro 29, 2013

capitalismo = propriedade de privados = a especulação

Damos aos Bancos a liberdade de criar dinheiro, e depois pedimos esse dinheiro emprestado pagando juros a esses Bancos. Não é uma idiotice? 
ex-chairman Alan Greenspan admite que a Reserva Federal norte-americana, uma instituição privada, para funcionar precisa de estar acima da lei 



Um editorial de um jornal de ontem rezava assim: "Segundo o discurso oficial, ultrapassado o período de turbulência financeira e económica, (quer dizer, terminada a transferência das dívidas dos Bancos para a Dívida pública do Estado), temos pela frente uma progressão mais calma e sempre com sentido positivo. É, certamente, uma visão destinada a criar um clima de optimismo, mas embate com alguns elementos dissonantes da conjuntura". Pois, nem Portugal é uma ilha habitada por 10 milhões de Robinsons, nem este governo quer deixar de obedecer ao cânone que salvaguarda como primeira prioridade os interesses dos bancos estrangeiros.

"Tentámos na Administração Clinton remendar essa tendência (para a crise provocada pela lei da queda tendencial da taxa de lucro no capitalismo). Aumentámos o ordenado mínimo e garantimos aos trabalhadores licenças laborais para emergências familiares ou médicas. Ensaiámos os cuidados de saúde generalizados (até aí coisa exclusiva das classes abastadas). Oferecemos aos estudantes das familias pobres acesso ao ensino superior (pela possibilidade de se endividarem perante os bancos). E alargámos um crédito de impostos reembolsáveis a trabalhadores de baixos rendimentos (os bancos encarregaram-se de lhes garantir crédito à habitação sem garantias de pagamento das prestações). Indexámos as compensações dos executivos ao desempenho das empresas. Todas estas medidas ajudaram, mas tiveram impacto frustantemente reduzido tendo em conta o quanto já se havia recuado. O director da Reserva Federal, Alan Greenspan - que não era nenhum Marriner Eccles (o director da FED durante a expansão do keynesianismo militar na era Roosevelt) insistiu para que Clinton reduzisse o défice do orçamento federal em vez de cumprir as suas mais ambiciosas promessas de campanha, e Greenspan respondeu com a redução das taxas de juro. Isso precedia uma forte recuperação. Em finais dos anos 1990 a economia estava a crescer a um tal ritmo e o desemprego estava tão baixo que os salários das classes médias começaram, pela primeira vez em duas décadas, a subir ligeiramente. Todavia, como a subida foi impulsionada por uma melhoria no ciclo de negócios e não por uma mudança estável na estrutura da economia, acabou por ser um lampejo passageiro. Assim que a economia (os negócios incapazes de gerar lucros) arrefeceram, os rendimentos das familias mostraram que não estavam mais elevados do que antes"

(in "AfterShock", de Robert B. Reich secretário de Estado do Trabalho na Administração Clinton, 2011)

da Teoria e da Prática

Está prestes a ser publicada uma nova versão do segundo livro mais editado do mundo, depois da Bíblia (aqui)

"O método de estudo das ciências sociais exclusivamente através das teorias e literatura é extremamente perigoso e pode até conduzir-nos para o caminho da contra-revolução. Quando dizemos que o marxismo é correcto, certamente não é porque Marx fosse simplesmente um "profeta", mas porque a sua teoria foi provada como correcta na nossa prática e na nossa luta. Muitos dos que lêem livros marxistas tornaram-se renegados da revolução, enquanto que muitos trabalhadores analfabetos, muitas vezes sem compreender lá muito bem o marxismo, têm práticas revolucionárias. Claro que devemos estudar os livros marxistas, mas este estudo deve ser integrado com as condições reais do nosso país a cada momento. Precisamos de livros, mas temos que superar a adoração pelo livro, quando este propicia apenas o divórcio da situação real" (Mao Tsé-Tung)
“O pensamento filosófico de Mao Tsetung é sobre libertar as pessoas dos seus desejos materiais de forma a que as pessoas possam ser livres e naturais” (aqui)
a China celebra a data de nascimento de Mao Tsé-Tung - e o presidente XiJiping lembra os que lhe apontam erros: "os líderes revolucionários não são deuses, mas seres humanos (...) não se pode venerá-los como deuses, não se pode impedir que o povo aponte seus erros apenas porque são grandes personagens. Tampouco podemos apagar as suas conquistas históricas apenas porque cometeram erros" (aqui)

Em 1990 a população urbana na China situava-se nos 26% - em 2012 essa percentagem subiu para 52,6%. Estima-se que em 2025 se situará nos 70% com a construção de 120 novas cidades. A Grã-Bretanha demorou 120 anos para atingir níveis semelhantes de desenvolvimento económico. (aqui)
Com o desenvolvimento da economia, em 8 anos (2002-2010) foram retiradas da agricultura de subsistência cerca de 50 milhões de pessoas (aqui) - o que não significa que as populações que ainda vivem em pequenas localidades rurais estejam estagnadas nas mesmas condições de miséria em que se encontravam à data da vitória da Revolução em 1949, numa China então colonizada pelos interesses estrangeiros.(aqui)

O laureado Nobel da Economia Joseph E. Stiglitz citou a urbanização na China, juntamente com a evolução da tecnologia nos EUA, como as duas questões mais importantes que irão moldar o desenvolvimento do mundo durante o século XXI (aqui)

Para saber mais (na óptica imperial burguesa):
* Asia’s next revolution; Rethinking the Welfare State (The Economist)
* Asia`s Obama Problem, How China Wins when América gets Distracted

sexta-feira, dezembro 27, 2013

Feliz aniversário, camarada Mao! (nos 120 anos do seu nascimento)

Durante o mandato de Mao Tsé Tung, a expectativa de vida e as taxas de alfabetização da China dispararam – neste dois pilares assentaram as sementes do crescimento económico futuro do país, desde então firmemente estabelecidas.

seremos uma geração de 1,3 mil milhões de revisionistas?...
Acusa-se o regime chinês depois do “golpe-de-estado” de 1976 liderado por Deng Xiao Ping de “capitalismo selvagem” e pró ocidental. Mas tal interpretação é discutivel, se nos lembrarmos que foi o próprio Mao que recebeu Richard Nixon e Henry Kissinger, estabelecendo desta forma uma distanciação efectiva da natureza do regime dito social-fascista da URSS depois do XX Congresso. Muito do actual panorama na divisão internacional do trabalho deve-se a esse evento deveras singular dos anos 70. Um país, dois sistemas. Nas relações externas a China concorre em igualdade de circunstâncias, depois da derrocada da URSS, com a hiperpotência global única. Na frente de desenvolvimento interno, a China continua a ser uma país socialista, com uma economia planificada, em defesa da propriedade colectiva. É um regime em ascenção, baseado no intercâmbio comercial entre-iguais ; os Estados Unidos têm uma organização politica em declínio pelo esgotamento do modelo de exploração imperialista de imposição de trocas desiguais.

As esperanças de emancipação de milhões de trabalhadores espoliados por todo o mundo está de olhos postos na vitória a nível global do modelo da China.

"E se não tivesse havido nenhum Mao, ou Revolução Chinesa, ou Revolução Cultural?, de que modo a China - e de facto o mundo – teriam sido diferentes? Quantas pessoas não viveram mais longas e significativas vidas? Quantas pessoas não teriam o suficiente para comer? Quantas pessoas não teriam aprendido a ler e escrever? Quantas pessoas não teriam sequer atingido a idade de 35 anos? Será que a China teria sequer quebrado o ciclo de subdesenvolvimento em que tinha permanecido encerrada durante tantos séculos? Será que a China ainda existiria como um país unido, ou teria sido quebrada em pedaços e dividida pelas diferentes potências coloniais? Será que a China teria libertado totalmente centenas de milhões de pessoas da pobreza?" – as forças progressistas que se empenhem em adivinhar a resposta a estas perguntas.

É um debate que merece ser levado a efeito. O Partido Comunista da China continua a existir (por contraste com o PCUS que por não ser "tão ditatorial" se eclipsou); E não está documentado em lado nenhum, excepto na literatura de cordel para parolos de autores reaccionários, que o regime hoje existente na China seja assim tão "sanguinário" - o Governo tem a aprovação de 80% da população, um indice sem paraelo nas democracias ocidentais. Tem aqui primazia interpretar o PCC como tendo uma politica de combate contra o imperialismo yankee (o principal inimigo dos povos, se bem nos devemos recordar) utilizando as suas próprias armas - no campo do capitalismo; e esta percepção, numa óptica progressista, está a ter sucesso. Qualquer maoista, vê com muito orgulho as notas de yuan com a efigie do Presidente Mao estarem hoje praticamente equiparadas ao Dólar em termos de valor, estando este à beira do colapso (porque tem um valor ficticio) enquanto o Yuan representa a medida correcta, sem especulação, de trabalho acumulado. É indesmentivel que esta é uma interpretação marxista da história - com resultados que vemos ano após ano ter um sucesso sem paralelo nos tempos modernos.

quinta-feira, dezembro 26, 2013

Mikhail Timofeevich Kalashnikov (1919-2013)

Simbolo impar das lutas de libertação dos povos pela sua soberania e independência ... em 1982 Kalashnikov ganhou a Ordem de Amizade entre os Povos e em 1990 o secretário-geral das Nações Unidas apareceu em público com uma AK-47 transformada em guitarra, assim como quem dá o recado: quem não tem unhas para pegar numa arma e lutar pelos seus direitos… toca guitarra…

... a AK-47 "Arma Automática de Kalashnikov modelo de 1947", é uma espingarda de assalto de calibre 7,62 criada em 1947 por Mikhail Kalashnikov e produzida na União Soviética pela Fábrica Industrial Estatal IZH. Em 2007, Kalashnikov confessou, no 60º aniversário do registo oficial da patente na URSS, que os Nazis, ao invadirem a Rússia na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foram os verdadeiros responsáveis pela invenção, porque até aí a sua autêntica vocação era desenhar maquinaria agrícola. "Eu teria preferido ter inventado uma máquina que as pessoas pudessem usar e ajudar os agricultores no seu trabalho - por exemplo, uma debulhadora para cereais".

A invenção do AK-47 não foi um momento eureka, mas um processo de tentativa-e-erro de modificações e melhorias realizadas por uma equipe de projectistas durante seis anos ... A principal precursora foi a espingarda alemã StG 44, a primeira arma automática verdadeiramente eficaz da Segunda Guerra Mundial; provavelmente na origem da espingarda G-3 usada pelas nossas tropas coloniais à revelia das disposições da Nato. Inquirido sobre se sentia ciúmes, Kalashnikov desabafou: “eu poderia ter tido milhares de milhões, mas não o quis, tudo que eu sempre tive como objectivo foi tornar o meu país seguro (…) criei a arma, uma coisa que fosse simples e confiável, para ser usada na defesa das fronteiras da minha pátria”.

Responsável, em conjunto com a temível “katyuska” (vulgo “culhões de Estaline") pela neutralização de 80% das tropas Nazis, após a guerra e a partilha de zonas de influência entyre superpotências, a AK-47 começou a ser produzida para exportação, com preços políticos manipulados consoante o uso a que destinava. Para os movimentos de libertação e para os jovens Estados africanos a espingarda era cedida a 15 dólares por unidade. Para conflitos regionais entre grupos de interesses cada uma atingia o valor de cerca de 1000 dólares. Como ponto de partida para a negociação de venda, os preços oficiais situavam-se algures a meio. Estima-se que a quantidade produzida seja aproximadamente de 100 milhões. Conta-se que uma AK-47 revestida a ouro teria sido encontrada pelas tropas invasoras do Iraque, como parte da colecção do ex-presidente pelo partido pró-socialista Baas Saddam Hussein.
Mikhail Kalashnikov tem uma secção exclusivamente dedicada ao seu trabalho no Museu de Artilharia do Exército em São Petersburgo (anunciada à entrada no cartaz à esquerda)
Homenageado por Vladimir Putin em 2006
A determinado passo Kalashnikov sentiu tristeza pela distribuição descontrolada da sua arma - tinha orgulho da sua invenção e da sua reputação de confiabilidade, enfatizando que a sua espingarda semi-automática é uma "arma de defesa" e "não uma arma para ser usada em ofensivas". "eu durmo bem com a questão”, afirmou - “são os políticos que são os culpados por não chegarem a acordos que evitem o recurso à violência. A arma converteu-se num ícone global. Os pais em diversos países africanos deram aos seus filhos o nome de “Kalash”, um carinhoso diminuitivo da arma que os tinha ajudado a sobreviver. Podemos ver a silhueta da AK-47 no escudo do Zimbabwe e no de Timor-Oriental a partir de 2007, assim como na bandeira do movimento islâmico xiita Hezbolah. É a única arma que figura na bandeira e escudo nacional de um país independente, Moçambique, já que foi graças à ajuda desta que o país logrou atingir a sua independência. – a AK-47 sobre uma estrela dourada (a solidariedade entre os povos) simboliza a luta armada que libertou o país, colocada por cima de um livro, - representando a educação do povo, por sua vez enquadrado num circulo branco (a paz) e por uma enxada (o esforço do trabalho na agricultura).

Duas décadas após a dissolução da URSS, em 2009 a empresa fabricante russa IZH pediu a insolvência, devido à crise mundial, ao abandono do internacionalismo proletário, e à proliferação e tráfico de armas falsificadas, que lhe causaram dificuldades financeiras. A obra colectiva faliu, mas a figura lendária de Kalashnikov permanecerá para sempre gravada na memória de milhões de seres livres.

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Feliz Natal Camaradas


Desejamos sinceramente que as Fadas e os Elfos tomem posse dos meios de produção de brinquedos antes que a noite se acabe

terça-feira, dezembro 24, 2013

a esquerda do Oliveira, uma prenda foleira

Assim, proclama o liberal, os nossos problemas podem ser resolvidos sem extirpar a motivação do lucro. Só é preciso apoio para o candidato X, ou a sua assinatura na petição Y - diz ele que pelo voto "revoltoso" sem revolução vc pode inverter a aparente situação de falência do capitalismo, enquanto os marxistas afirmam que ele se reinventa precisamente deste modo de crises cíclicas, perpetuando-se através de uma versão mais adequada e funcional depois de ter concentrado cada vez mais o modo de acumulação de capital. Nesta perspectiva, as urnas nunca irão matar as principais contradições do capitalismo.

Ontem, quem se dirigia ingenuamente às bancas para comprar o jornal apanhou um valente cagaço; de meia capa de um lá estava a testa inteira do senhor Oliveira, em posse de entrevistado com direito às suas habituais tiradas broncas: "Se não houver convergência de esquerda agora, daqui a uns anos não haverá país". O promotor do Manifesto 3D, e ex-militante bloquista afirma que "Este polo político deve querer ser interlocutor do PS e participar na governação" - ora que bela e original ideia para o que haveria de ser a Esquerda: atrelá-la a uma das facções do bloco central de interesses, a que mais engana os apaniguados do voto e dá pela enganadora sigla de "ps, partido socialista". A descoberta deste gajo é tão ou mais original do que a do homem grávido que deu à luz uma criança com todas as caracteristicas para parecer normal ou do hamburguer com pernas pensado para ter um prazo de validade de 400 anos. Falando pela prática cá de casa, guardei o euro do jornal e com ele comprei dois quilos de laranjas, recebendo ainda dezasseis cêntimos de troco. É quando não vale a conversa fiada de mais um candidato a tachos que tardam em aparecer. (Há mais de uma década que Oliveira não faz outra coisa que tentar inventar novidades politicas onde o ego do bicho se possa alimentar por inteiro). Do colunista do Expresso vale apenas mencionar o que por ele nunca fica dito:

"Vocês estão horrorizados com a nossa intenção de acabar com a propriedade privada, mas na sociedade existente, a propriedade privada já está abolida para nove décimos da população; a sua existência para alguns é apenas devido à sua não-existência nas mãos desses nove décimos. Vocês nos confrontam, portanto, com a intenção de acabar com esta forma de propriedade, condição necessária para cuja existência é a não existência de qualquer propriedade para a imensa maioria da sociedade. Numa palavra, confrontam-os com a intenção de acabar com a vossa propriedade. Precisamente por isso, é isso exactamente o que pretendemos" (Manifesto Comunista, 1848)


Reparando bem, à esquerda do Paulinho Irrevogável lá está o Tozé Seguro incorporado na matilha; antes desta troupe ter feito com que milhões empobrecessem andaram a fazer a população "enriquecer" consumindo toda a espécie de tralha a crédito barato - o Tozé é herdeiro voluntário deste negócio montado pelos agora credores, portanto aí está ele de livre direito a reclamar os 50% de culpas no cartório que o P"S" tem. E é com "isto" que se sugere que a esquerda se deve coligar?

segunda-feira, dezembro 23, 2013

a grande Mentira sobre o Panamá

Faz agora 24 anos que os Estados Unidos levaram a cabo uma brutal invasão do Panamá, depondo a liderança política do país enquanto se atreviam a rotular a agressão com o nome de "Operação Justa Causa". Apesar da nomenclatura, grande parte do mundo reconheceu-a como mais um acto de injustiça, como antes o tinha sido também no caso do Peru. Recordando, o embaixador dos EUA enfrentou a ONU quando os povos que se sentam nesta organização a obrigaram a elaborar uma resolução exigindo a retirada imediata das forças militares. É claro, os Estados Unidos vetaram-na, em conjunto com a França e o Reino Unido. Muitos panamianos estavam na oposição, mas o pretexto então invocado foi que o Presidente era traficante de droga, no entanto, a verdadeira razão foi a tomada do território como zona estratégica que assegura a ligação entre o Pacifico e o Atlântico através do canal do Panamá. As várias sondagens, que foram então deliberadamente realizadas em bairros que falam inglês afluente, pintaram um quadro distorcido. Por estes dias, a verdade é muito mais transparente, desde que em 2007 a Assembleia Nacional do Panamá declarou o 20 de Dezembro como um dia de luto. E assim vai a "justiça" do imperialismo: promessas de liberdade, deixando um rasto de sangue e a tristeza como herança.

Quatro dias antes da véspera de Natal as forças do complexo militar dos Estados Unidos iniciaram o ataque lançando bombas contra a população do Panamá. Atingindo áreas urbanas densamente povoadas a operação de invasão de 1989 matou cerca de 4.000 civis. Tal foi justificado por o então presidente Manuel Noriega ser uma ameaça iminente para a democracia panamiana e para vidas norte-americanas (!). O ex-presidente George HW Bush em finais de Dezembro veio à televisão declarar que “na última sexta-feira Noriega apoiado pela sua ditadura militar declarou o estado de guerra com os Estados Unidos, tendo ameaçado publicamente contra a vida dos norte-americanos no Panamá”, isto no mesmo momento em que tropas dos EUA estavam a invadir o país. Os grandes meios de comunicação norte-americanos desempenharam um papel fundamental na venda da invasão ao povo norte-americano. Tom Brokaw , da NBC relatou uma semana antes da guerra: "os Estados Unidos declararam que o regime em vigor de Manuel Noriega no Panamá é uma ameaça à segurança nacional do nosso país”. O que não foi mencionado foi que Noriega, na qualidade de "traficante de droga", tinha sido o homem forte de Washington por quase duas décadas. Enquanto Bush (pai) era chefe da CIA, ele aumentou a folha de pagamento ao regime de Noriega em 100.000 dólares por ano. Mas, como a obediência de Noriega aos EUA estavam a vacilar, os EUA temiam perder o controle do vital Canal do Panamá e o encerramento das suas bases militares estrategicamente importantes naquele país.

"Eles demonizaram Noriega para terem um pretexto de bombardear e atacar o seu país, e foi isso o que eles fizeram ", disse o escritor e politólogo Michael Parenti – as "mortes de panamianos, simplesmente não tinham interesse para os grandes media. O interessou era apenas as eventuais mortes americanas”. Os meios de comunicação norte-americanos foram fantoches nessa campanha militar ", comentou Barbara Trent, a rrealizadora do documentário vencedor do Oscar "The Panama Deception". Durante a produção do documentário de Trent, ela enfrentou barricadas do exército dos EUA. Enquanto filmava milhares de refugiados que vivem no interior de hangares de avião, os oficiais militares tentaram deter Trent para impedir as filmagens. No entanto, os refugiados panamianos fizeram um circulo de defesa à volta da equipa de filmagem de Trent e assim esta foi capaz de realizar as entrevistas. Um dos refugiados disse a Trent, "Queremos sair deste lugar maldito, estamos cansados disto! Isto não é democracia ! Eles [ EUA ] são piores do que o Noriega, eles são muito piores!”. Os refugiados pintaram um quadro sombrio que não reflecte de modo algum a cobertura feita pelos media dos EUA - "os media pararam de agir como meios de comunicação, e agiram do mesmo modo como fariam depois no Iraque, relatando o ataque como sendo de alguém que traz alegria aos povos”, concluiu Parenti.



domingo, dezembro 22, 2013

Conto de Natal ao modo ocidental

Um jovem Principe da Ásia habitava no palácio do seu pai. Encontrava ali tudo aquilo de que sentia desejo. Mas ainda assim não se sentia feliz. Um belo dia encontrou numa floresta próxima um velho de longos cabelos brancos que respondeu à sua ansiedade com uma voz muito doce: "a felicidade é uma coisa muito dificil de encontrar sobre a terra; apesar disso, conheço uma maneira de a encontrar" - e qual é ela?, inquiriu o Principe. - "Tens de vestir a camisa de um homem que disfrute de felicidade". Após esta troca de palavras o homem jovem abraçou o homem velho e dispôs-se a deixar o palácio. Partiu por essas terras mundo afora. Visitou todas as capitais da terra. Dizendo quem era, vestiu a camisa de reis, a camisa de milionários... mas apesar de tudo isso não se conseguiu sentir feliz. Vestiu a camisa de mercadores, de marinheiros, a camisa de soldados. Mas a tristeza continuava a habitar no seu coração. Concluiu uma volta completa ao mundo, sem encontrar a felicidade. Um dia, quando se predispunha a iniciar o caminho de regresso a casa do seu pai, ouviu uma juvenil voz melodiosa num campo. Levantou a cabeça e viu um jovem camponês que puxava pela sua charrua e ia cantando. Ena pá, ena pá! até que enfim descubro alguém que parece ter encontrado a felicidade. E dirigindo-se ao trabalhador, perguntou-lhe: "não me digas!? tu és feliz? - Sim, respondeu o outro. Como é que fizeste para seres assim? - Repara! - e o jovem camponês andando uns passos apontou-lhe uma modesta casinha num vale ao lado de um bosque. "Vês, aquela ali? é a minha mulher e o miúdo ao colo dela é o meu filho. É por eles que eu trabalho e me sinto feliz" - Ai sim?, então vende-me a tua camisa. Surpreendido, o trabalhador de tronco nu, respondeu-lhe: "a minha camisa!? nem penses nisso! ...

sábado, dezembro 21, 2013

Vaticano aprova uma droga sintética que permite ver Jesus Cristo...

... e o orgão oficial da Nova Ordem Mundial atribuiu ao gestor da Corporação de controlo religioso a importância de "homem do ano". Compreende-se, quando a fome alastra, é urgente contratar alguém com jeitinho para consolar os esfomeados (com conversa, que é um produto barato)

Argumentando que "proporcionam aos jovens o acesso à Glória divina", o Vaticano acaba de aprovar uma droga sintética fabricada para permitir a quem a ingerir ver Jesus Cristo. O Vaticano tem virado as costas ao problema das drogas de forma consistente, mas talvez devessemos agora ver como elas nos podem ajudar", disse o padre Almunia, teólogo espanhol e porta-voz do Vaticano. Inquirido se "o Ecstasy é ruim, mas se embuido de alguma mística então passa a ser uma coisa boa?... Almunia responde que "vamos julgar esta questão com dois pesos e duas medidas por algum tempo", disse, citando o Papa, quando tentou apresentar a sua ideia na Cúria do Vaticano. Para garantir um alto grau de pureza, o próprio sumo-pontífice supervisiona todo o processo de síntese de pílulas que acto contínuo são abençoadas. O resultado é semelhante ao de Santa Teresa" mas mais intenso e com um mergulho menos pronunciado depois do "êxtase". Conforme explicou a fonte mencionada, o Santo Padre tem tentado testar as drogas ele mesmo antes de dar o aval para a sua distribuição. "Esta deixou-o encantado, afirmou ver Jesus e ter estado a conversar com ele. Então, desnudando-se insistiu em subir ao altar da Igreja de São Pedro e dar-lhe uma afectuoso passou bem", disse Almunia. Segundo acrescentou, Bergoglio passou quase duas horas nu agitando os braços e gritando "Dióoooos, Dioóoos". As pílulas, apelidadas de "Parúsías" serão distribuídas pelos sacerdotes às portas das igrejas. "A primeira é gratuita e, em seguida, como fica a ver Jesus e se fica convencido sobre a verdade do catolicismo, o crente terá de pagar as seguintes" uma vez que usufruiram de um serviço de esclarecimento pela Igreja.

Esta é então uma altura apropriada para falar de coisas sérias, por exemplo, de "Uccellacci e Uccillinni", literalmente, "Passarões e Passarinhos", uma obra de Pier Paolo Pasolini, onde até um corvo fala de coisas estranhas ao senso comum... (o filme completo aqui) 

sexta-feira, dezembro 20, 2013

Passos, terminou o teu prazo de validade. Cavaco é o único português que não o quer reconhecer.

«No século XVIII uma multidão de cabeças medíocres estava ocupada em encontrar a verdadeira fórmula para equilibrar as ordens sociais, a nobreza, o rei, os parlamentos, etc., e no dia seguinte já não havia rei, nem parlamento, nem nobreza» (Karl Marx, numa carta de 1846 a Pavel Annenkov, na qual Marx dá a sua opinião acerca de Proudhon)
* Governo esconde benefícios fiscais de 1045 milhões a grandes grupos económicos
* Roubo de Direitos adquiridos mas pensões é chumbado por unanimidade pelo TC, alegando que "viola o princípio da confiança consagrado na Constituição"

É já a quarta vez que este (des)Governo de larápios do PSD-CDS vê serem chumbados diplomas que violam escandalosamente a Constituição da República Portuguesa. Um artigo escrito por Miguel Reis esclarece a natureza da burla agora chumbada: "O problema da convergência das pensões assenta, essencialmente numa fraude (...) Todos sabemos que há uma parte (mínima) das pensões que é paga pelo Orçamento do Estado, tendo que ser financiada pelos impostos. Outra parte (a maior) é (deveria ser) financiada pelos descontos que, patrões, empregados e produtores autónomos fizeram. O drama reside, essencialmente, no facto de os governos se terem apropriado desses recursos ou não terem cumprido boa parte das obrigações do Estado para com os seus servidores. Na realidade, o Estado confiscou uma série de fundos, que se destinavam a pagar pensões e prepara-se (se é que não o fez já) para liquidar o resto, forçando a Segurança Social a alienar títulos de dívida estrangeira para comprar divida portuguesa, o que tem, rigorosamente o mesmo efeito que teria se houvesse o dinheiro e o Estado o confiscasse. Toda esta vigarice em cascata poderia ser evitada se o Estado oferecesse aos particulares as mesmas condições que oferece aos chamados "mercados": uma alta taxa de juro e isenção total de impostos. Temos dinheiro aforrado que daria para pagar pelo menos duas dívidas. Mas, claramente, o negócio é outro. A divida transformou-se num negócio fantástico para os banco e para os países que manipulam a economia europeia" (via Alfredo Barroso)

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Entrevista, pelo entendimento e defesa da Coreia do Norte: inventando o Futuro

O que se segue no link abaixo é uma extensa entrevista com Yongho Thae, Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular Democrática da Coreia conduzida por Carlos Martinez. A entrevista teve lugar na embaixada da RPDC em Londres, em Outubro de 2013. Os tópicos abordados incluem o programa nuclear da RPDC, a natureza do sistema político da Coreia do Norte, a inclusão da RPDC na mudança do panorama político global, o turismo, a Síria, e as perspectivas emergentes na América Latina. Dado que a Coreia do Norte é considerada pelos Estados imperialistas como "inimigo número um", é essencial para os movimentos anti -imperialistas e principalmente para os partidos ditos democráticos e de esquerda fazer um esforço para a entender e defender. 

Segundo a propaganda "democrátca" , o perigo é claramente a Coreia (o regime da parte norte que pretende a unificação do país nos termos anteriores à guerra desencadeada pelo imperialismo norte-americano em 1945-1949) mas entretanto ali ao lado, na Indonésia, como um pouco por toda a parte no Ocidente, é Natal... e dentro do espirito da quadra, a Igreja está em luta pelos pobres:
Um pouco mais ao lado, fazendo as contas à redistribuição de rendimentos no Capitalismo: Existem 18.600.000 casas vazias nos Estados Unidos; as suficientes para que cada um dos sem-abrigos existentes naquela país pudesse ocupar 6 delas. (Being a Socialist)

quarta-feira, dezembro 18, 2013

a Revolução francesa, a Igreja e a contra-Revolução burguesa

Ao contrário da imagem mitológica que faz passar Napoleão Bonaparte (1769-1821) por um esforçado guerreiro enlameado nas batalhas de conquista, a personagem foi primeiro que tudo a personificação de um aristocrata emplumado. Que percebeu de forma exemplar os meios necessários para arrastar as opiniões públicas a apoiar fins inconfessáveis. A entrada das tropas francesas para ocupar o Egipto foi aclamada entusiasticamente pelas multidões que ficariam sujeitas à ocupação

Dentro desse paradigma do controlo de multidões é atribuída a Napoleão as duas frases seguintes: "Como se pode preservar a ordem num Estado sem religião? - a religião é um meio formidável para controlar e manter as pessoas sossegadas (...) a religião é aquilo que impede os pobres de matarem os ricos, os mesmos que os roubam e escravizam"

Breve resenha dos antecedentes históricos

A (nossa) Senhora de Brassempouy é uma estatueta com 20 mil anos encontrada nas ruinas arqueológicas da aldeia primitiva de pescadores na ilha do Sena, habitada pela tribo Parisii (cuja história pode ser vista no Musée de Cluny). Tomada pelos Romanos em 55 a.n.e, a aldeia expandiu-se até à margem esquerda do rio (a ver no Musée Carnavalet, que trata da História da Cidade). Tomada pela tribo dos Francos (oriundos das tribos germânicas), estes fazem do local a capital do Reino em finais do século V. Na Idade Média a cidade de Paris torna-se um centro religioso; Notre Dame foi concluída em 1163.

A capela gótica de Sainte-Chapelle situada na Ilha de la Cité em Paris, foi mandada construir no século XIII pelo Rei Louís IX; Projectada em 1241, iniciada em 1246 e concluída muito rapidamente para servir de capela do palácio real, foi consagrada em Abril de 1248 ao seu devoto patrono, evento após o qual o rei ficou a ser conhecido por “São Luis” (1). Depois de terminada, a Sainte-Chapelle precisava de objectos que dessem um ar de santificação à construção, o que foi conseguido pela importação de relíquias apropriadas e, com essa finalidade, as finanças do reino obtiveram a coroa de espinhos de Cristo, enviadas pelo imperador latino de Constantinopla, Balduíno II, pela exorbitante soma de 135.000 libras de ouro. Para se ter uma ideia de relatividade, a construção de toda a capela custou 45.000 libras. Além de outras relíquias, acrescentou-se ainda um fragmento da “Vera Cruz” (dois barrotes de madeira sacados pelos Cruzados, pretensamente os verdadeiros originais onde o Cristo tinha sido pregado) e, desta forma, o edifício tornou-se um precioso relicário, onde toda a gente ainda hoje (2) vai exercitar os joelhos.

(1) O "Santo" viria a dar o nome à cidade de origem colonial francesa de Saint-Louis no Estado do Missouri, depois que a França vendeu os vastos territórios do Estado de Louisiana aos EUA
(2) Ultrapassada pelo erosão dos tempos da revolução, a Capela permanece no local como fonte de rendimento para a Igreja, mas o restante do palácio real desapareceu completamente, sendo substituído pelo actual Palácio da Justiça.

terça-feira, dezembro 17, 2013

que se passa na Ucrânia?

"a Revolução é impossível sem que esteja criada uma situação revolucionária e, contudo, para além disso, nem todas as situações revolucionárias conduzem à Revolução" (Lenine)

Centenas de milhar de manifestantes ucranianos têm protestado de forma violenta contra o governo de Viktor Yanukovich, reclamando uma aproximação à União Europeia, em detrimento da tradicional ligação à Rússia. As razões são conhecidas: existe um intercâmbio que troca petróleo barato fornecido pelos russos à Ucrânia pelo uso de bases navais de apoio à esquadra da Rússia no Mar Negro. Na medida em que o presidente ucraniano continua a rejeitar uma maior aproximação ao clube dos milionários da Europa, agora os manifestantes derrubaram simbolicamente uma estátua de Lenine; isto é, uma minoria de revoltosos convenientemente alcoolizados pela propaganda ocidental pretendem trocar a segurança relativa de um sistema de economia planificada, por um sistema de "mercado livre" em que mais 45 milhões de vítimas serão num futuro próximo espoliadas pela invasão de capitais estrangeiros, que outra coisa não são que criação de dívida a pagar a juros exorbitantes. Não se trata portanto de nenhuma revolução; bastaria a presença de John McCain a exortar as massas à revolta para se aquilatar da qualidade rasca da situação criada a um Presidente eleito que sucedeu a um regime chefiado por uma 1ª ministra que foi presa por corrupção.

Ora então venham, que é disso que os nossos banqueiros gostam, numa altura em cada vez mais europeus pobres reclamam sair

"Os estrangeiros edificarão os teus muros, e os seus reis te servirão. [...] As tuas portas estarão sempre abertas, elas nunca serão fechadas, dia ou noite, para que os homens possam trazer-lhe a riqueza das nações - Herdeiros de reis levar-te-ão em procissão triunfal. Porque as nações e os reinos que não te servirem perecerão; serão totalmente arruinados" (Antigo Testamento dos Judeus, Isaías, capítulo 60:10-12, "A Glória de Sião")

Próximo de Hitler, o qual já se tinha convertido no "Chefe" (Fuehrer) nos anos vinte, consta da fotografia o meio-judeu Julius Streicher. O trabalho principal de Streicher foi combater os judeus. Atrás dele posa um homem de barba, o judeu de corpo inteiro Moses Pinkeles, aliás Trebitsch-Lincoln que financiou o diário "Observador do Povo" e igualmente o Partido de Hitler. Em boa verdade, todos representam as aspirações da agora disseminada familia de banqueiros Rothschild em controlar ambos os lados de todas as guerras


Pode uma "União" que nasceu do embate entre dois regimes opressivos - a Alemanha Nazi e o Imperialismo dos Estados Unidos - e que dos dois concilia as piores idiossincrasias, ser alguma coisa comparada com progressismo? se olharmos para as sua raizes, a actual Europa é uma obra do Sionismo, não apenas do Sionismo fundamentalista religioso que aspira à hegemonia numa determinada região, mas no Sionismo que pretende ter aspirações ao controlo global de todos os povos do planeta. Dois documentos recordam a génese da União Europeia, a série da BBC sobre os banqueiros de Hitler, cuja actividade se manteve incólume após o final da Grande Guerra e dos quais se constata não se terem transformado em agentes do bem sobre a terra (video abaixo); e a denuncia devidamente fundamentada das raízes Nazis da União Europeia e do estado de negação das Massas 

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Economie de guerre au Portugal

artigo de Cristina Semblano, professora de Economia Portuguesa na Paris IV Sorbonne publicado no "Liberation" sob o titulo: «Economia de Guerra em Portugal». As ligações e ilustrações que exemplificam a veracidade da situação são nossas.

Portugal é um país exangue e desesperado. Os números oficiais de desemprego que se aproximam dos 20%, tem diminuído ao longo dos últimos dois trimestres "em favor" de um declínio do número de trabalhadores e da queda da força de trabalho - resultado da emigração em massa que actualmente está perto de atingir ou exceder a dos anos 60, o grande êxodo de Portugueses, fugindo da pobreza, da ditadura e da guerra colonial (1).

FMI sabe que pode confiar em mim. Comigo ia dar ao mesmo
Embora não estando em guerra, Portugal, sob a égide da Troika, no seu terceiro ano de economia de guerra, apesar (ou por causa dessa intervenção) sofre os resultados das políticas económicas desastrosas cometidos nestes três anos. Porque Portugal é um país onde podemos dizer, com a precisão de uma experiência de laboratório, que os biliões de sacrifícios impostos à população não tiveram nenhum efeito sobre a dívida cujo progresso é vertiginoso ou sobre o deficit monitorizado sistematicamente em cada avaliação da troika. É portanto munido dos resultados desta experiência que Lisboa vem introduzir o orçamento mais austero na história da democracia desde 1977. O ajuste fiscal representa 2,3% do PIB e é principalmente por meio da drenagem directa sobre salários e pensões dos funcionários públicos, pensionistas e nas restrições dos serviços públicos. Nestas condições, só o governo pode fingir acreditar que, apesar da redução drástica do novo rendimento disponível que conduzirá inevitavelmente ao "seu" orçamento, aumentará o consumo privado e o investimento vai aparecer para apoiar o seu hipotético índice de crescimento de 0,8%.  Especialmente desde a violenta carga tributária de 2013 seja mantida e que 2014 irá ver novas reduções nos gastos com educação, saúde e transferências sociais. Restam as exportações, mas estas estão dependentes da procura externa.

Como em qualquer economia de guerra, como a que prevalece em Portugal não há só perdedores. Enquanto apenas os funcionários públicos e os aposentados contribuem com 82% do valor para o esforço de guerra, em 2014 aos bancos e aos monopólios de energia apenas é pedida uma contribuição excepcional de 4% e o Governo ainda se dá ao luxo de baixar dois pontos percentuais o imposto nas empresas, tendo como objectivo reduzir o IRC de 19% para 17% em 2016, em conformidade com o sacrossanto princípio da criação de um clima neoliberal propício ao investimento. Há outros vencedores da crise , começando pelos credores do Estado, a quem se destina em 2014 em juros um "bolo" equivalente ao orçamento da saúde. É pelos interesses destes credores que os sacrificios são exigidos ao povo de um dos paises da UE mais pobres e desiguais. É para eles que o ensino nas escolas e os medicamentos nos hospitais são racionados, se limita o acesso aos serviços públicos e aos cuidados de saúde da população, cujos direitos a serviços alternativos são vendidos em leilões privados.

A manter-se as violentas políticas de austeridade, elas geram a sua própria intensificação não providenciando um suposto remédio para um défice que elas próprias ajudam a criar. Cada euro de défice "poupado" em Portugal resultou numa perda de 1,25 euros em relação ao PIB e um aumento de 8,76 euros na Dívida, que é a fórmula sempre usada pelos credores como garantia para o financiamento de mais Dívida. Como nos outros países sob a intervenção "eficaz" da Troika, a dívida portuguesa não tem condições para ser razoavelmente reembolsável. Não é o resultado da deriva de um povo que viveu e vive para além dos seus meios, mesmo que os especialistas do FMI sublinhem a necessidade de reduzir o salário mínimo em Portugal, que é somente de 485 euros brutos por mês, um dos mais baixos na zona do euro e na UE. País semiperiférico, com uma economia de baixo valor acrescentado e altamente dependente do exterior, Portugal "pagou" a sua adesão como membro da zona do euro com uma quase estagnação da economia, para que a dívida pública tenha experimentado uma trajetória ascendente desde a crise financeira e com transferências significativas do orçamento do Estado para apoiar a economia e salvar os bancos. Incapaz de se voltar para o Banco Central Europeu (BCE) para se financiar, Portugal tornou-se, depois da Grécia e Irlanda, a terceira vítima da especulação nos mercados financeiros, o que abriu caminho para a intervenção Troika.  

Dois anos e meio e muitos biliões de euros depois de sacrifícios impostos sobre a sua população, Portugal é um país empobrecido, cuja taxa de natalidade regrediu para números do final do século XIX e para uma emigração em massa que ultrapassa a da era da ditadura. A sua população, que é uma das mais envelhecidas da UE, regrediu (2). A dívida em relação ao PIB aumentou em quase 25 pontos percentuais o déficit, e este não está controlado. Os credores representados pela Troika já avisaram a quantidade de cortes em gastos que são necessários em 2015, que o Governo se apressou a inscrever no "Memorando" que termina em Junho de 2014. Seja na forma de um novo plano de "resgate" ou de outra forma, no quadro actual das instituições europeias, Portugal permanecerá sob o domínio da Troika e o seu povo será submetido a novos testes. Já existe um outro na Grécia e, se alguma dúvida permanecer, aí estará a imagem das mães portuguesas forçadas a abandonar as suas crianças em instituições sociais, enquanto novos recém chegados candidatos a vítimas se dispõem a entrar no clube europeu dos milionários.

(1) Metade dos desempregados não recebem subsídio de desemprego e existem milhares de pessoas excluídas do apoio de rendimento mínimo, dos abonos de família ou do complemento social de velhice. (2) O número de portugueses que emigraram em 2012 é estimado em 120.000, com um êxodo de 10.000 pessoas, em média, por mês, numa população de cerca de 10,5 milhões de pessoas.
(artigo original)

domingo, dezembro 15, 2013

Ocupamos Tudo, Não Exigimos Nada

a acumulação de capital no actual estádio de desenvolvimento do capitalismo, não se faz através dos meios de Produção (cuja tecnologia os tornou excedentários) faz-se através dos meios de Consumo, razão pela qual não há crescimento, só uma caminhada descendente na “criação” de Valor negativo. O capitalismo está esgotado, mas não são as “cooperativas de indole anarquista” (sob a égide de um regime politico serventuário das corporações instaladas) que irão salvar a humanidade, sem que exista previamente uma implosão (necessariamente violenta) das macro-estruturas de dominação do sistema.

Nesse sentido, no inicio, o movimento “Occupy Wall Street” estava certo, mas a falta de um programa politico marxista levou à sua rápida cooptação e infiltração por toda a espécie de agentes ao serviço da classe dominante. Até a sionista Time edita livrinhos de promoção. "Neutralidade do Estado" na distribuição social dos rendimentos? só se o Estado não fosse o aparelho de dominação de uma classe sobre as outras. O que há a fazer, em primeiro lugar, dizia Marx, é, "se (este) Estado da burguesia reclama mais equidade, o movimento operário deve reivindicar acabar com o Estado"

* Chomsky sabe que existe Manipulação da opinião pública através dos Media... (ver aqui)
* mas Chomsky não sabe o que aconteceu com o Edificio 7 no World Trade Center no 11 de Setembro... e bota abaixo quem sabe não se deixa manipular e difunde a verdade (ver aqui): "as pessoas passam uma hora na Internet e pensam que já percebem de Física"... Não é verdade professor, com o saber já acumulado bastam 10 minutos!

sábado, dezembro 14, 2013

"Μ" - Fritz Lang, (I93I)

Friedrich Anton Christian Lang (1890-1976) no seu primeiro filme sonoro desenhou o retrato de uma Alemanha mergulhada na Depressão económica; na especulação desenfreada "eles comiam tudo", não deixavam nada. O guião do filme é baseado num caso verídico, o do Vampiro de Dusseldorf... estávamos em vésperas da chegada dos Nazis ao Poder. Lang filmou a indiferença das vítimas, o facto de existir um certo fascinio pelo Mal

versão integral
relacionado:

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Cada criança nascida nos Estados Unidos já tem uma Dívida de 50.000 dólares

propriedade governamental
Apesar do endividamento que perdurará por gerações... a Casa Branca continua a investir em guerras
O ex-governador de Minnesota Jesse Ventura , disse em entrevista ao programa do canal RT 'SophieCo', que actualmente nove em cada dez pessoas nos EUA não aprovam as actividades do Congresso.

O projecto de lei defendendo o controlo dos criminosos ataques com Drones foi rejeitado pelo Congresso

O político descreveu os dois principais partidos dos EUA como "gangs políticos" e disse que eles criaram um sistema que "é completamente baseado no conceito de corrupção (...)  a questão pela qual temos de lutar é pela abolição destes partidos políticos. Devem realizar-se eleições mas sem partidos políticos. Isso é o que nós precisamos... de uma revolução", disse, acrescentando que as autoridades não estão agindo em benefício do país, mas para o benefício do Partido Democrata ou o Partido Republicano. Além disso, "estão completamente comprometidos com as empresas, realmente actualmente não somos os Estados Unidos , mas os Estados das Corporações da América" (fonte)

E cá pelo protectorado?... Paulo Morais afirma que "os maiores grupos económicos portugueses dominam o Parlamento através das dezenas de parlamentares a quem garantem salários e consultorias. Terá chegado a hora de pedir uma investigação, a toda a Assembleia, pelo crime de tráfico de influências" - como diria qualque súbdito à beira do colapso de Roma, "os que vão nascer vos saúdam" (e pagarão a factura)

quinta-feira, dezembro 12, 2013

a Bela, o Touro e a Vaca Leiteira

a Europa é uma mulher muito bela, de pele de lírio. Habita a Fenícia, da qual Agenor, seu pai, é o Rei. Nas margerns da Ásia, onde ela se recreia com as companheiras, vê-a o ardente Zeus; e o seu coração inflama-se. Metaforseando-se em branco Touro, aproxima-se. Confiante, a bela Europa senta-se no seu dorso. Logo ele inicia a carreira e, através do mar a leva até Creta. Da sua união nascem quatro filhos: Sarpedon, herói asiático, e três legisladores tão famosos que se tornarão os juizes inflexiveis dos Infernos: Minos, Éaco e Radamanto... A partir daqui a lenda dá lugar à História.

Não, não de trata de “um qualquer tempo passado que foi melhor”, mas sim de algo que pode ser confundido com isso; “às vezes é preciso que rebente o coração do mundo, para alcançar uma vida mais elevada” (Hegel). A Europa é o lugar onde hoje rebenta esse coração do mundo. Aurélio Agostinho, autodenominado "bispo", aka “santo” Agostinho, no relato das suas culpas, confessa: “inquieto está o meu coração, nem para mim próprio transparente”. Uma terrível violência só pode ter-se formado porque vem de longe, talvez até da própria raiz. Uma das misérias humanas é a que consiste em pôr-se do lado do agente do mal, quando não se tem coragem para o denunciar. As múltiplas sereias do Terror – continuam a soar, no sentido mítico e no real. Ciência, matemática e valsas de Viena, estratégia militar e móveis Louis XV, a passagem breve da História dentro do ritmo dos grandes feitos. A Europa perdeu-se no labirinto da própria superabundância. O afã de ver, captar com claridade, o que temos perante nós, mesmo que nos esteja devorando. Alienada, sem desejo algum, incapaz de lutar, em total quietude, como num pântano... (Maria Zambrano, extractos de "A Agonia da Europa", 1945)
 
Não tinhas nada que ser amada por Zeus Europa 
Agora é o que se vê 
Ele foi deitar-se na praia feito touro 
Os cornos fingindo luas e tu toca de lhe acariciar o pêlo 
E ele vai contigo mar adentro é o que diz o relatório da cultura 
E metem-se de amores em Creta parece que debaixo 
Das ramadas dum plátano e vieram os filhos 
Mas o que me interessa é o estado 
A que isto chegou minha querida 
Os teus bisnetos num desemprego parvo muitos sem tecto 
E perguntando-se por que raio foi ela 
Meter-se com o pai dos deuses? 
Raptada nós sabemos mas mesmo assim Europa 
Em Creta há tantos rapazes porquê Zeus 
Que é hoje um banco alemão? 

Abel Neves (n. 1956) 
 (do livro «Eis o Amor a Fome e a Morte» - Cotovia/1998)

quarta-feira, dezembro 11, 2013

Lenine e Portugal

Vladimir Ilitch Ulianov “Lenine” analisando as conjunturas nacionais e internacionais no 2º quartel do século XIX mencionou Portugal por diversas vezes em notas dispersas. Embora as situações pareçam já distantes (1908-1918) e de certo modo incompreensíveis, um dado essencial permanece: a dependência portuguesa do exterior (a dívida externa resultante da 1ª Grande Guerra que terminou em 1918 só acabou de ser paga em 2001) e as inibições estruturais com que ainda se debate a sociedade portuguesa contemporânea.

Na sua periodização histórica, Lenine situa a causa da dependência a partir de 1714, data do fim da Guerra da Sucessão espanhola (1) que termina com o Tratado de Methuen, que teve uma edição prévia no “Tratado dos Panos e Vinhos”, assinado entre a Inglaterra e Portugal, em Dezembro de 1703. Os seus negociadores foram o embaixador extraordinário britânico John Methuen, por parte da Rainha Ana da Inglaterra, e D. Manuel Teles da Silva, marquês de Portugal e, nos seus termos, os portugueses comprometiam-se a consumir os têxteis britânicos (de alto valor acrescentado) e, em contrapartida, os britânicos, os vinhos de Portugal em bruto, cuja posse viriam aliás brevemente a adquirir na origem. Com apenas três artigos o texto desse Tratado é mais reduzido da história diplomática europeia (2). Com este negócio, comenta Lenine, “a Inglaterra obteve em troca vantagens comerciais, melhores condições para a expansão de mercadorias e, sobretudo, para a exportação de capitais para Portugal e suas colónias, pôde utilizar os portos e as ilhas de Portugal, os seus cabos telegráficos, etc.” (3). Confirma-se assim as teses de Antero de Quental e de Alexandre Herculano sobre as “causas da decadência dos povos peninsulares”, recuando ainda mais, a partir do século XVI, que são três: 1ª. a Contra-Reforma dirigida pelos Jesuítas, 2ª. a Centralização Política realizada pela Monarquia Absoluta. 3ª. o Sistema Económico de mera intermediação resultante dos Descobrimentos (4)

A expansão imperialista europeia para a África e Ásia e a crescente influência alemã que ameaça ultrapassar a Inglaterra no plano industrial é intensificada a partir de 1880. A crescente presença alemã, francesa e inglesa no continente africano ameaçavam a hegemonia portuguesa historicamente adquirida. A oligarquia monárquica à frente dos destinos de Portugal, sempre navegando para o lado onde sopra o melhor vento tomou partido pela Alemanha; e essa aliança luso-germânica dariam origem ao Ultimato inglês entregue sobre a forma de um Memorando em 1890 o que gerou uma onda de indignação popular que trazia no seu seio a aspiração de derrubar a monarquia e instaurar um governo de regime republicano.  

A partilha entre potências (5) foi regulamentada em 1885 pela Conferência de Berlim. A parte do acordo sobre África integrou Portugal no circuito de exploração colonial, atribuindo-lhe vastos territórios entre os reinos do Congo e N`gola e a contracosta oriental no Índico, salvaguardando porém o centro africano, Rodésia, Zambézia e o Transvaal para a Inglaterra, garantindo-lhe assim uma rota continua entre o Cabo e o Cairo, pondo termo às aspirações nacionais expressas no Mapa Cor-de-Rosa (6). Na sequência os territórios “portugueses” foram ocupados de facto e submetidos através das campanhas de “pacificação”. Os alemães competem a leste no desmembramento do Império Otomano, e em África ocupando a parte a sul da terra dos Cuanhamas (Namibia). Lenine comentaria depois: “Se, outrora, pelo direito do mais forte, a Inglaterra arrancou terras à Holanda e a Portugal, hoje a Alemanha entrou em cena declarando: “é a minha vez de enriquecer à custa dos outros” (7)

No primeiro artigo de Lenine o rei de Portugal é tratado por “o aventureiro coroado” e a crítica vai no sentido de desmistificar as posições da imprensa europeia (cujos escribas são chamados de “lacaios ‘democráticos’ da burguesia moderna) sobre “os profissionais dos regicidios” (8) - “as simpatias do proletariado socialista vão sempre para o lado dos republicanos contra a monarquia. Mas, até ao momento presente, em Portugal, só conseguiram assustar a monarquia com o assassinato de dois monarcas, e não conseguiram esmagá-la”. Comparando a revolução burguesa pela implantação da República nos anos que antecederam 1910, e a revolução russa de 1905-1907, que sendo igualmente uma revolução burguesa teve, no entanto, um carácter acentuadamente popular Lenine verifica que em Portugal «a massa do povo, a sua imensa maioria, não intervém de uma forma visível, activa, autónoma, com as suas reivindicações económicas e políticas próprias»
A politica contrária aos interesses da Nação… a erosão do sistema partidário vigente, e a tentativa por parte do Rei de arbitrar um sistema político que negava a Constituição, de apoiar o Partido Regenerador Liberal , viria a resultar na instauração da ditadura pela mão do seu líder João Franco. O crime do Terreiro do Paço que abateu o Rei e o seu herdeiro (9) marcou profundamente a História de Portugal e o termo irreversível da última tentativa de reforma da Monarquia Constitucional, e consequentemente, provocando uma nova escalada de violência na vida pública do País.

A Assembleia Constituinte da República reunida em 1911 sob a égide do governo provisório de Afonso Costa deu ao país uma Constituição progressista para o seu tempo, e que garantia as liberdades democrático-burguesas fundamentais. (10)
Mas, O Imperialismo tende a substituir a democracia pela oligarquia. O que conduz à necessidade de reconhecimento do regime republicano pelas “potências”. Com o Tesouro Público à beira da bancarrota, na necessidade de preservar as colónias, se explica em boa parte o envolvimento de Portugal na guerra de 1914-18. Na opção pelas concepções politicas em confronto, a via intermédia é a mais nociva, a que venera “todos os mortos”, quer dizer, tanto o Rei como os seus assassinos. A questão da violência, do carácter individual e limitada na luta revolucionária. O assassinato do rei deu testemunho de um elemento “terrorista” e conspirativo, quer dizer, impotente, que na sua essência, pela sua fraqueza, não logra atingir o seu objectivo, verdadeiramente regenerador, aquele que tornou célebre a Revolução Francesa. Na perspectiva de Lenine o problema não poderá ser solucionado pelo Partido Republicano, devido ao seu carácter burguês, embora as simpatias do proletariado socialista fossem sempre para o lado dos republicanos contra a monarquia. É necessário um Partido proletário que dirija a luta, não só que derrube a monarquia, mas também que lute pela instauração de um regime Socialista” (Lenine, in “Suiça, resposta a Piatakov”)

A versão do Partido Socialista Português dessa época nunca apostou verdadeiramente na luta pela República, de modo a extirpar definitivamente as relações de produção feudais (como viria a acontecer na Rússia em 1917). O Partido Socialista , na pessoa do seu secretário-geral Azedo Gneco é, ao inverso, acusado de cooperar com a monarquia. As provas contra Gneco são encontradas nos “Documentos Politicos encontrados nos Paços Reais” em 1916, onde se anota que os socialistas pretendiam obter certos benefícios em troca do esforço para afastar o movimento operário da influência do Partido Republicano. (tal e qual como o actual partido dito “comunista” se concilia com o regime parlamentar burguês, por troca com a sobrevivência de ambos). A defesa da luta dos operários pela República é uma fase que é necessário percorrer para se atingir uma nova ordem social, favorável à melhoria de condições da classe operária. Requer a participação activa como sujeito interventivo das massas exploradas em movimentos revolucionários, populares e não burgueses” (in “O Estado e a Revolução”). Em Portugal a massa do povo, a sua imensa maioria, não intervém de forma visível, activa, autónoma, com as suas próprias reivindicações económicas e politicas”

Desde o fim da Ditadura em 1915, passando por 1916, até ao golpe de Estado de Sidónio Paes em Dezembro de 1917, Portugal inicia e intensifica o seu esforço de guerra. Sob a égide do governo da “União Sagrada” é autorizada a contratação de novos empréstimos para cobrir as despesas com a constituição do Corpo Expedicionário Português à 1ª Grande Guerra comandado por Norton de Matos e forças militares enviadas para as colónias. Nesse mesmo ano na Rússia, no mês de Outubro, o Partido Bolchevique toma o poder e recusa o pagamento das dividas contraídas pelo Czar para sustentar a desgraça do povo envolvido à força numa guerra que não era dele.  Em Portugal, a politica nacional é concertada dentro do quadro da aliança com a Inglaterra, em nome da preservação do património colonial. Em Abril é criada a sopa dos pobres em Lisboa. A primeira aparição em Fátima de Nossa Senhora aos três pastorinhos acontece em Maio. Comentando a situação (“a guerra imperialista pela partilha de zonas de influência entre potências anula a diferença entre República e Monarquia”) Lenine classifica Portugal de “nação adventista”, reduzindo o país ao papel de “satélite britânico, entre os mais cristalinos exemplos de dependência onde, apesar de tudo, são consentidas algumas veleidades de soberania (formal), desde que o essencial da dominação (real) não seja posta em causa”, concluindo: “a guerra imperialista actual mostra-nos exemplos de como se consegue, pela força dos laços financeiros e dos interesses económicos (embora encobertos pela economia clássica) arrastar um pequeno Estado, sem que exista violação da independência politica, para a luta entre as grandes potências (…) É unicamente devido ao apoio da Grã-Bretanha que Portugal consegue conservar as suas colónias (…) uma vez mais graças ao protectorado sobre Portugal, a Grã-Bretanha mantém não apenas a sua posição na África do Sul e a sua influência no Congo, mas também a sua supremacia nos mares, base sólida da sua potência colonial e da sua potência política e económica mundial”

o Conflito de Fachoda, provocado pela ambição da França ocupar o Egipto levou a uma ruptura momentânea com a Inglaterra, logo colmatada pela necessidade de enfrentar a voracidade alemã, esteve na origem da ameaça de partilha das colónias portuguesas em África, caso Portugal não cumprisse com o pagamento dos seus compromissos financeiros” (Lenine, nos “Cadernos do Imperialismo - Pacifismo burguês e Pacifismo socialista). A quezilia terminaria com a Entente Cordiale celebrada em 1904 entre as monarquias da Inglaterra e da Rússia e a república Francesa - a França, possuidora do segundo exército e da ainda segunda marinha do mundo e modelo de todas as "virtudes republicanas" almejadas pelos seguidores do Partido Republicano Português - tinha sido derrotada sem combate. Imitando as manifestações de oito anos antes nas ruas de Lisboa, Paris indignou-se, mas cedeu. A única diferença, consistiu no simples facto do episódio de Fachoda ter cumprido todos os requisitos exigidos pelo Congresso de Berlim. Com territórios explorados, ocupados e formalmente anexados, parecia inevitável a sua posse pela França, mas tal não aconteceu. Na realidade, o Ultimatum britânico a Paris em 1898, foi infinitamente mais humilhante que aquele enviado a Lisboa. No entanto, a grande lição a tirar do episódio foi a de vingar em Portugal a demagogia dos partidos que seria aliás apanágio e razão de ser da República de 1910.

A participação na guerra conduziu à instauração de um poder arbitrário da clique militar, que culminaria anos mais tarde e após uma miríade de peripécias no famigerado golpe do 28 de Maio e na Constituição fascista de 1933 que vigorou até à Constituinte de 1976; que ainda assim preservou muitos artigos da Constituição anterior, por omissão de regulamentação. Não fosse o diabo tecê-las e pôr em causa a conservação do poder militar.

em tempos de crise e penúria
notas
(1) Guerra Peninsular (1807-1814) a França de Napoleão aliada à Espanha dos Bourbons contra o Reino Unido que vem de facto gerir também militarmente o protectorado Portugal. http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Peninsular
(2) Tratado de Methuen
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Methuen#cite_note-1
(3) Lénine, “Cadernos do Imperialismo”
http://www.omilitante.pcp.pt/pt/306/Efemeride/411/
(4) “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”
http://pt.wikipedia.org/wiki/Causas_da_Decad%C3%AAncia_dos_Povos_Peninsulares
(5) A partilha de África
http://pt.wikipedia.org/wiki/Partilha_de_%C3%81frica
(6) O mapa Côr-de-Rosa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ultimato_brit%C3%A2nico_de_1890
(7) Lenine: discurso a 23 de Outubro de 1918, sobre o tema “Porque Lutam os Comunistas”
(8) “O sucedido ao rei de Portugal”, Lénine, 1908 http://revolucionaria.wordpress.com/2009/08/24/o-sucedido-ao-rei-de-portugal-lenine-1908/
(9) O Regicidio de 1908
http://pt.wikipedia.org/wiki/Regic%C3%ADdio_de_1908
(10) Nikolai Efimov, "a Revolução de 1910 em Portugal”
http://dorl.pcp.pt/index.php/histria-do-pcp-menumarxismoleninismo-103/contributos-para-a-historia-do-movimento-operario-português