Segundo o principio ciclico da vaca-gorda os Bancos e as Instituições de crédito utilizaram toda e espécie de marketing rasteiro para estimular a compra de habitação e o endividamento das famílias - "não peça só para a casa, inclua também as mobílias, os equipamentos electrodomésticos... pense bem, não quer aproveitar para trocar de carro por um novo, a condizer com a cor da casa?". Quando a bolha rebentou (oficialmente não existiu bolha imobiliária, apesar de sermos 10 milhões e existir património construído para 25 milhões de pessoas), face ao declínio da procura e ao excesso de oferta, isto é, no contraciclo da vaca-magra, os bancos apressaram-se a oferecer renegociar com os endividados melhores condições do crédito em troca de prazos mais dilatados para pagar, garantias renovadas e, obviamente, de mais juros a cobrar.
Os maçães do governo e da banca alemã adoram comparar a vida das instituições com a vida das pessoas; pois por uma vez e por analogia faça-se-lhes a vontade. A operação de troca de dívida portuguesa anunciada recentemente como "um êxito", ou seja chutar lá mais para a frente o valor a pagar quando este já estiver às costas do outro partido da concorrência, foi um "reestruturação a favor dos bancos" à semelhança de qualquer mortal que tenha a casa hipotecada. (ler aqui)
Cuidando do negócio da Dívida, aparece então o Banco de Portugal (uma entidade pertencente à rede global de Bancos Centrais, cujo núcleo duro de accionistas são privados) que tudo tem feito através dos seus relatórios técnicos para que exista uma desvalorização do património construido (acertando em cheio no hipotecado).
Quer dizer. quem comprou uma casa por 100 mil euros viu nestes últimos anos a prestação mensal aumentar desmesuradamente e os seu rendimentos diminuir drasticamente, a ponto de não a poder continuar a pagar. Aflito vai ao Banco "reestruturar a hipoteca" (como advogam o BE e o PCP no caso do país) ou entregar a casa, que é desvalorizada em menos 20 ou 30% (vale agora 80 ou 70 mil euros); isto é, vai valorizá-la para os Bancos que estão repletos de casas devolvidas em igual valor de 20 ou 30%, a fim de que estes não percam dinheiro; No final do ciclo, o Banco vai vendê-la por 120 ou 130 mil euros, uma vez que actualmente já se está a verificar uma tendência para a subida de preços da habitação. Repare-se, o cidadão não ficou a dever nada, pagou tudo o que devia, ou ficou sem o bem. Mas no final a culpa é dele, que usufruiu do seu direito à habitação vivendo com-abrigo acima das suas possibilidades.
Igual problema se colocou na Islândia em relação ao crédito hipotecário. Mas aí, tomando medidas para a saída da crise, o Estado aumentou os impostos sobre os Bancos e com o dinheiro obtido, está a disponibilizar um subsidio às familias endividadas pela compra de casa própria até ao valor de 24.000 euros. "Este plano marca o principio do renascimento económico, vai beneficiar cerca de 100.000 lares" diz o Primeiro-Ministro islandês, contrariando os guiões impostos pela Troika. O FMI não gosta, comunicando "não haver espaço orçamental para aliviar essas dívidas". As agências de rating puxaram da arma do costume: passaram o país da classificação de "Estável" para "Negativo".
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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