Faz agora 24 anos que os Estados Unidos levaram a cabo uma brutal invasão do Panamá, depondo a liderança política do país enquanto se atreviam a rotular a agressão com o nome de "Operação Justa Causa". Apesar da nomenclatura, grande parte do mundo reconheceu-a como mais um acto de injustiça, como antes o tinha sido também no caso do Peru. Recordando, o embaixador dos EUA enfrentou a ONU quando os povos que se sentam nesta organização a obrigaram a elaborar uma resolução exigindo a retirada imediata das forças militares. É claro, os Estados Unidos vetaram-na, em conjunto com a França e o Reino Unido. Muitos panamianos estavam na oposição, mas o pretexto então invocado foi que o Presidente era traficante de droga, no entanto, a verdadeira razão foi a tomada do território como zona estratégica que assegura a ligação entre o Pacifico e o Atlântico através do canal do Panamá. As várias sondagens, que foram então deliberadamente realizadas em bairros que falam inglês afluente, pintaram um quadro distorcido. Por estes dias, a verdade é muito mais transparente, desde que em 2007 a Assembleia Nacional do Panamá declarou o 20 de Dezembro como um dia de luto. E assim vai a "justiça" do imperialismo: promessas de liberdade, deixando um rasto de sangue e a tristeza como herança.
Quatro dias antes da véspera de Natal as forças do complexo militar dos Estados Unidos iniciaram o ataque lançando bombas contra a população do Panamá. Atingindo áreas urbanas densamente povoadas a operação de invasão de 1989 matou cerca de 4.000 civis. Tal foi justificado por o então presidente Manuel Noriega ser uma ameaça iminente para a democracia panamiana e para vidas norte-americanas (!). O ex-presidente George HW Bush em finais de Dezembro veio à televisão declarar que “na última sexta-feira Noriega apoiado pela sua ditadura militar declarou o estado de guerra com os Estados Unidos, tendo ameaçado publicamente contra a vida dos norte-americanos no Panamá”, isto no mesmo momento em que tropas dos EUA estavam a invadir o país. Os grandes meios de comunicação norte-americanos desempenharam um papel fundamental na venda da invasão ao povo norte-americano. Tom Brokaw , da NBC relatou uma semana antes da guerra: "os Estados Unidos declararam que o regime em vigor de Manuel Noriega no Panamá é uma ameaça à segurança nacional do nosso país”. O que não foi mencionado foi que Noriega, na qualidade de "traficante de droga", tinha sido o homem forte de Washington por quase duas décadas. Enquanto Bush (pai) era chefe da CIA, ele aumentou a folha de pagamento ao regime de Noriega em 100.000 dólares por ano. Mas, como a obediência de Noriega aos EUA estavam a vacilar, os EUA temiam perder o controle do vital Canal do Panamá e o encerramento das suas bases militares estrategicamente importantes naquele país.
"Eles demonizaram Noriega para terem um pretexto de bombardear e atacar o seu país, e foi isso o que eles fizeram ", disse o escritor e politólogo Michael Parenti – as "mortes de panamianos, simplesmente não tinham interesse para os grandes media. O interessou era apenas as eventuais mortes americanas”. Os meios de comunicação norte-americanos foram fantoches nessa campanha militar ", comentou Barbara Trent, a rrealizadora do documentário vencedor do Oscar "The Panama Deception". Durante a produção do documentário de Trent, ela enfrentou barricadas do exército dos EUA. Enquanto filmava milhares de refugiados que vivem no interior de hangares de avião, os oficiais militares tentaram deter Trent para impedir as filmagens. No entanto, os refugiados panamianos fizeram um circulo de defesa à volta da equipa de filmagem de Trent e assim esta foi capaz de realizar as entrevistas. Um dos refugiados disse a Trent, "Queremos sair deste lugar maldito, estamos cansados disto! Isto não é democracia ! Eles [ EUA ] são piores do que o Noriega, eles são muito piores!”. Os refugiados pintaram um quadro sombrio que não reflecte de modo algum a cobertura feita pelos media dos EUA - "os media pararam de agir como meios de comunicação, e agiram do mesmo modo como fariam depois no Iraque, relatando o ataque como sendo de alguém que traz alegria aos povos”, concluiu Parenti.
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
1 comentário:
Agradecido pela referência do tema!
Muitos haverá, que pensam que o nome noriega seja um hambúrguer com pernas!
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