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quinta-feira, dezembro 26, 2013

Mikhail Timofeevich Kalashnikov (1919-2013)

Simbolo impar das lutas de libertação dos povos pela sua soberania e independência ... em 1982 Kalashnikov ganhou a Ordem de Amizade entre os Povos e em 1990 o secretário-geral das Nações Unidas apareceu em público com uma AK-47 transformada em guitarra, assim como quem dá o recado: quem não tem unhas para pegar numa arma e lutar pelos seus direitos… toca guitarra…

... a AK-47 "Arma Automática de Kalashnikov modelo de 1947", é uma espingarda de assalto de calibre 7,62 criada em 1947 por Mikhail Kalashnikov e produzida na União Soviética pela Fábrica Industrial Estatal IZH. Em 2007, Kalashnikov confessou, no 60º aniversário do registo oficial da patente na URSS, que os Nazis, ao invadirem a Rússia na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foram os verdadeiros responsáveis pela invenção, porque até aí a sua autêntica vocação era desenhar maquinaria agrícola. "Eu teria preferido ter inventado uma máquina que as pessoas pudessem usar e ajudar os agricultores no seu trabalho - por exemplo, uma debulhadora para cereais".

A invenção do AK-47 não foi um momento eureka, mas um processo de tentativa-e-erro de modificações e melhorias realizadas por uma equipe de projectistas durante seis anos ... A principal precursora foi a espingarda alemã StG 44, a primeira arma automática verdadeiramente eficaz da Segunda Guerra Mundial; provavelmente na origem da espingarda G-3 usada pelas nossas tropas coloniais à revelia das disposições da Nato. Inquirido sobre se sentia ciúmes, Kalashnikov desabafou: “eu poderia ter tido milhares de milhões, mas não o quis, tudo que eu sempre tive como objectivo foi tornar o meu país seguro (…) criei a arma, uma coisa que fosse simples e confiável, para ser usada na defesa das fronteiras da minha pátria”.

Responsável, em conjunto com a temível “katyuska” (vulgo “culhões de Estaline") pela neutralização de 80% das tropas Nazis, após a guerra e a partilha de zonas de influência entyre superpotências, a AK-47 começou a ser produzida para exportação, com preços políticos manipulados consoante o uso a que destinava. Para os movimentos de libertação e para os jovens Estados africanos a espingarda era cedida a 15 dólares por unidade. Para conflitos regionais entre grupos de interesses cada uma atingia o valor de cerca de 1000 dólares. Como ponto de partida para a negociação de venda, os preços oficiais situavam-se algures a meio. Estima-se que a quantidade produzida seja aproximadamente de 100 milhões. Conta-se que uma AK-47 revestida a ouro teria sido encontrada pelas tropas invasoras do Iraque, como parte da colecção do ex-presidente pelo partido pró-socialista Baas Saddam Hussein.
Mikhail Kalashnikov tem uma secção exclusivamente dedicada ao seu trabalho no Museu de Artilharia do Exército em São Petersburgo (anunciada à entrada no cartaz à esquerda)
Homenageado por Vladimir Putin em 2006
A determinado passo Kalashnikov sentiu tristeza pela distribuição descontrolada da sua arma - tinha orgulho da sua invenção e da sua reputação de confiabilidade, enfatizando que a sua espingarda semi-automática é uma "arma de defesa" e "não uma arma para ser usada em ofensivas". "eu durmo bem com a questão”, afirmou - “são os políticos que são os culpados por não chegarem a acordos que evitem o recurso à violência. A arma converteu-se num ícone global. Os pais em diversos países africanos deram aos seus filhos o nome de “Kalash”, um carinhoso diminuitivo da arma que os tinha ajudado a sobreviver. Podemos ver a silhueta da AK-47 no escudo do Zimbabwe e no de Timor-Oriental a partir de 2007, assim como na bandeira do movimento islâmico xiita Hezbolah. É a única arma que figura na bandeira e escudo nacional de um país independente, Moçambique, já que foi graças à ajuda desta que o país logrou atingir a sua independência. – a AK-47 sobre uma estrela dourada (a solidariedade entre os povos) simboliza a luta armada que libertou o país, colocada por cima de um livro, - representando a educação do povo, por sua vez enquadrado num circulo branco (a paz) e por uma enxada (o esforço do trabalho na agricultura).

Duas décadas após a dissolução da URSS, em 2009 a empresa fabricante russa IZH pediu a insolvência, devido à crise mundial, ao abandono do internacionalismo proletário, e à proliferação e tráfico de armas falsificadas, que lhe causaram dificuldades financeiras. A obra colectiva faliu, mas a figura lendária de Kalashnikov permanecerá para sempre gravada na memória de milhões de seres livres.

1 comentário:

Mar Arável disse...

Tudo pelo melhor

Abraço