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terça-feira, abril 09, 2013

os Sermões dos Bons Ladrões

Funcionários públicos e Reformados vão descontar mais em sede de IRS já no próximo mês de Maio. Os comentadores da Antena1 hoje e os jornais em geral dos últimos dias, face à noticia do governo, têm andado inspirados. Dizem eles: "é perfeitamente natural, uma vez que passam a receber mais e como os impostos em Portugal são progressivos, se vão receber mais é lógico que tenham que descontar mais".

Façamos um esforço para compreender a lógica: o Governo em 2012 cortou um subsidio, recebendo os trabalhadores por conta de outrem menos um mês de salário. Em Abril de 2013 o Tribunal Constitucional, por força da lei em vigor, obriga o Governo a repor esse subsidio, mas ao não chumbar as alterações aos escalões de IRS legisladas em 2012, o Governo fica com a porta aberta para cobrar mais IRS. Trata-se de uma tramóia que permite lançar sobre os trabalhadores mais um imposto oculto de cerca de mais 10% em relação ao que se cobrava em 2012, pelo simples facto de se repor a legalidade. Enquanto com a mesma cajadada não matam o Coelho nem tiram o barrete à estátua neoconservadora de Belém, ficando as duas entidades operacionais do esbulho à população com a porta aberta para nova investida contra os serviços sociais prestados pelo Estado que já foram ou estão a ser pagos pelos impostos dos reformados e trabalhadores durante toda uma vida. Ora digam lá se o "Tribunal" Constitucional não faz politica? e se, ela não é feita ao serviço dos especuladores financeiros externos?...

"Não são ladrões apenas os que cortam e furtam as bolsas. Os ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo. Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam."
(Padre António Vieira, "Sermão do Bom Ladrão", 1655)
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