o regime de propriedade intelectual é um conceito da burguesia, isto é, dos donos dos meios de produção culturais, tanto do que é pré-subsidiado agora, como no que diz respeito ao saber acumulado, em economia o correspondente ao capital fixo, fruto de trabalho morto, imobilizado e apropriado por outrem.
Seja na forma de bibliotecas, museus, arquivos históricos, artigos de opinião valorizados em jornais, televisões, páginas na web, tudo é, com aspas ou sem aspas, plagiado de outrem que já o tinha pensado, escrito ou dito antes. Sobre essa matéria inerte, o senso comum incutido, trabalham os “autores”, quer dizer, os que se pretendem apropriar da sabedoria comum (da comunidade, comunista), levando o incauto cidadão também ele comum, ostracizado pela falta de meios de acesso económico à cultura, ouvinte ou leitor de opinadores versando as partes que lhes interessam, a “plagiar” para dentro das suas cabeças essas mensagens - acumulando-as e difundindo esse saber parcial como veículos plagiadores de excepção, em conversas de café, sociedades recreativas, sedes de partidos e jogos de futebol. O saber individualista, tem exactamente a mesma natureza de classe do saber bota-da-tropa que está nas origens da formação dos exércitos que possuem a propriedade intelectual de fazer a guerra.
Ora, os que pretendem ser os donos da saber em exclusividade invocam decerto a máxima do contra-revolucionário Max Stirner em ““O único e a sua propriedade” (1844), uma elegia à sapiência do individualismo liberal utilizado como negócio, agora tão em voga. Mas esses sabichões evitam a máxima de Joseph Proudhon “toda a propriedade é um roubo” e em última instância, fogem a sete pés de Karl Marx quando o plagiou e lhe acrescentou: “a ideologia difundida pelos meios de produção culturais vigentes é sempre a ideologia da classe dominante” (in a “Ideologia Alemã”, 1847). Nada que não possa dialecticamente evoluir e ser modificado para um regime de saber comum, livre, público, de propriedade dominante das classes proletárias maioritárias.
Portanto, informação ou ideia que sai por um buraco passa a ser saber adquirido susceptivel de entrar pelo mesmo buraco, quer dizer, face aos direitos de autor no presente paradigma capitalista, os que escrevem de forma que pensam ser "original" com o fito de obter lucro, ou sequer pelo simples reconhecimento de um qualquer interesse não declarado, podem fazê-lo vendendo essas obras num circuito editorial comercial. Assim não acontecendo, desde que publiquem em local público esse saber, informação, alienação ou manipulação, essa obra passa a ser propriedade de todos - para o bem e para o mal, livre.
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
2 comentários:
E isso é óptimo! Já viste a quantidade de informação que está a chegar às pessoas através da Internet?
Seja porque lêem emails, ou blogues ou conversam com quem leu essa informação.
O que está cair a pique é as audiências de telejornais e a venda de jornais.
A malta da massa controla cada vez menos a informação. E os cidadãos sabem cada vez mais...
Deviam saber mais... Mas muitos só vêem/lêem porcarias e mesmos essas não as sabem processar no seu raciocínio.
Se soubessem mais não teríamos descido tão baixo em termos éticos e de sociedade em geral.
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