O primeiro de Maio é assinalado em Portugal pelos trabalhadores desde 1890, o mesmo ano da publicação do "Manifesto Comunista" e o primeiro ano da comemoração internacional, quatro anos depois da data da primeira manifestação de meio milhão de trabalhadores nas ruas de Chicago em 1886.
Até então os trabalhadores jamais pensaram exigir os seus direitos, apenas trabalhavam em regime de semi-escravatura, homens, mulheres e crianças cujas pagas eram miseráveis com tempos de trabalho de 12 a 14 horas arbitrariamente impostos pelos patrões segundo as suas ganâncias por lucros em condições deploráveis e insalubres. Em 1869 apareceu o primeiro sindicato, popularmente designado de "Os Cavaleiros do Trabalho que reuniu 28.000 trabalhadores. Em 1880 foi fundada a Federação de Organizações de Sindicatos e Uniões de Comércio, sendo na sequência decretada no dia 1º de Maio de 1886 uma greve geral em milhares de fábricas por todos os Estados Unidos exigindo um horário de trabalho de 8 horas diárias. Em Nova Iorque marcharam 25.000 operários empunhando tochas num dilúvio entre a Broadway e a Union Square. 40.000 fizeram greve. Em
Cincinnati um batalhão de trabalhadores armados com 400 rifles encabeçavam o desfile. Em Louisville no Kentucky, mais de 6.000 trabajadores negros e brancos marcharam pelo Parque Nacional violando deliberadamente o edital que proibia a entrada de pessoas de côr no local. Em Chicago, o baluarte da greve, a cidade foi paralizada por completo; 30.000 operários fizeram greve, enfrentando grupos de fura-greves profissionais contratados pelo patronato. Na fábrica McCormick 1.200 grevistas foram despedidos, mas 7000 trabalhadores ocorreram em seu auxilio, a policia foi chamada resultando o confronto em 6 mortos e grande quantidade de feridos. A 4 de Maio em Haymarket rebentou uma bomba nas fileiras da policia, o que resultou numa zona de fogo indiscriminada matando mais operários e ferindo centenas.
A 5 de Maio em Chicago foram presos 8 trabalhadores: George Engel, Samuel Fielden, Adolf Fischer, Louis Lingg, Michael Schwab, Albert Parsons, Oscar Neebe e August Spies, todos membros da Associação Internacional do Povo Trabalhador de imediato reclamando a ligação ao anarco-sindicalismo. Julgados sumariamente temia-se o pior. No Diário do Trabalhador publicou-se um manifesto: “Se se fusilarem trabalhadores responderemos de tal maneira que os nossos opressores a recordarão por muito tempo”. Chegou a sentença, dizia: “O tribunal cumpre a lei. A anarquia está a ser julgada. O grande júri escolheu e acusou estes homens porque foram os lideres da revolta. Não são mais culpados que os milhares que os seguiram. Porém, estes homens vão ser punidos com um castigo exemplar, enforcados para que sejam salvas as nossas instituições, a nossa sociedade" Foram todos considerados culpados e sentenciados com a pena de morte, à excepção de Oscar Neebe, condenado a 15 anos de prisão. Surgiu um grande movimento internacional em sua defesa realizando-se manifestações por todos o mundo, na Holanda, França, Rússia, Itália, Espanha e por todos os Estados Unidos.
Ao aproximar-se o dia da execução mudaram a sentença de Samuel Fielden e Michael Schwab para prisão perpétua. Louis Lingg apareceu morto na cela. Ao meio-dia de 11 de Novembro de 1887 os carcereiros vieram buscar às celas os últimos 4 companheiros de luta e de sonhos. Spies, Engel, Parsons e Fischer foram entoando a Marselhesa durante o caminho para a forca. José Marti, então correspondente em Chicago do jornal La Nación e futuro pai da independência de Cuba relatou assim essas cenas dramáticas: "Saem das suas celas, dão as mãos e sorriem. Lêem-lhes a sentença. Amparam-se com as mãos nos ombros das sua mulheres. Vieram atar-lhes os braços ao corpo com uma faixa de couro e enfiam-lhes uma mortalha branca igual às túnicas dos cristãos das catacumbas. Em baixo está a assistência, sentada numa fila de cadeiras diante do cadafalso como num teatro... Há firmeza no rosto de Fisher, uma prédica de Parsons, Engel diz uma piada a propósito da sua túnica. Spies grita: “a voz que agora prentendeis calar será mais poderosa no futuro do que quantas palavras pudesse eu dizer agora". Baixam-lhes os capuzes, logo um sinal, um ruído, o alçapão cede, os quatro corpos caem e balanceiam-se como numa dança espantosamente horrenda". Mais de meio milhão de pessoas acompanharam o funeral dos que doravante seriam imortalizados como os "Mártires de Chicago"
Em 1891 o Congresso Operário Internacional convocou em França, uma manifestação em homenagem às lutas sindicais de Chicago que passaria a ser anual. A primeira acabou com 10 mortos, em consequência da intervenção policial. No dia 23 de Abril de 1919, o Senado francês ratificou a jornada de 8 horas de trabalho e proclamou o dia 1º de Maio como feriado. Um ano depois a Rússia dos Sovietes fez o mesmo.
Em Portugal as acções do Dia do Trabalhador limitavam-se inicialmente a alguns piqueniques de confraternização, discursos e a algumas romagens aos cemitérios em homenagem aos operários e activistas caídos na luta pelos seus direitos laborais.
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