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terça-feira, maio 26, 2015

O inicio da implosão da bolha das dividas soberanas

Assim reivindicam os comunistas portugueses: um governo patriótico, democrático e de esquerda. Todas as três condições podem ser reconhecidas no governo da coligação Syriza na Grécia – vindo a tornar-se clara a intenção de saída do euro. Implicita está a questão do não pagamento da dívida, que não foi contraída pelo povo mas pelos anteriores governos neoliberais.
Assim, quando se fala em “traição do Syriza” o que se poderia esperar? Que o Syriza chegasse ao governo e proclamasse imediatamente e sem acautelar os interesses da maioria do povo que o elegeu: fora o Euro!?
Ao contrário, cumprindo um programa que remete a culpa para os verdadeiros culpados, o espectro que atravessa a Europa está a pôr os directórios neoliberais em pânico. Leia-se Jerome Roos do European University Institute: “o Eurogrupo parece estar cego para o facto de Tsipras e Varoufakis serem provavelmente os aliados dos credores mais fiáveis na Grécia de hoje. Ambos são reformistas moderados com um amplo apoio popular e estão realmente dispostos a pagar, embora saibam que não podem. (1) Forçar um Syriza com uma liderança relativamente cooperativa a um humilhante acordo impondo um pacote de reformas internas é fortalecer a ala dos radicais dentro do governo. Então, se o Eurogrupo se recusar a assinar um acordo e continuar a privar o governo grego de crédito de emergência, do qual depende o cumprimento das obrigações do serviço da dívida, podem simplesmente estar a provocar uma bancarrota imparável” – ou seja, imparável para o Euro. Como se viu, os activos falidos dos bancos na bolha do imobiliário de 2008 foram gradualmente sendo transferidos para divida soberana dos Estados – e é esse upgrade da crise do capital que está de novo em causa: o modelo de Dividocracia começa a dar com os burros na água da Grécia, a qual não pagará já em Junho os prestações de 1.600 milhões de euros que seriam devidas ao FMI.
Paul-De-Grauwe
Sem acordo, não vai nem mais um tostão para o FMI”, garante o ministro do Interior grego. Em Junho o governo vai escolher pagar pensões e salários em vez de continuar a reembolsar o serviço da dívida ao FMI. E o Syriza reuniu o conselho nacional e produziu uma declaração simples: “As pessoas estão acima da dívida (…) fizemos o nosso dever, é altura da Europa fazer o seu”. Alexis Tsipras voltou a sublinhar que não recuará nas “linhas vermelhas” sufragadas pelo povo grego em Janeiro. Varoufakis explicou: “não pagaremos porque esse dinheiro não existe” (a dívida foi contraída com dinheiro fictício). E retransmitiram ao secretário-de-estado do Tesouro dos EUA Jack Lew que tutela politicamente o FMI a impossibilidade do governo grego fazer face aos pagamentos. Tsipras pediu a intervenção de Lew para reestruturar a dívida, coisa de que a UE não quer nem ouvir falar - e tudo o que seja para fomentar a discórdia entre as burguesias euro-americanas é um passo em frente para os trabalhadores. A esta “União” nem convém permitir aos media esclarecer as opiniões públicas – e Varoufakis esclarece: “Sigilo e uma imprensa crédula não auguram nada de bom para a democracia da Europa". O que se quer diabolizado ministro das Finanças grego tem gravado as suas intervenções nas reuniões do Eurogrupo para as reportar às instituições e media na Grécia. Em Portugal, para além das omissões, as manipulações são subtis: o DN escreve sobre a “incapacidade” do governo grego, quando de facto o que foi dito na fonte foi a deliberada “impossibilidade” para pagar pelas razões que o DN não explica – enquanto nos artigos de opinião os bonzos do status-quo põem o destino da Grécia nas mãos de um só individuo.

(1) O próprio FMI reconheceu em 2012 que as dividas superiores a 120% do PIB são impagáveis, mas apesar disso PS/PSD/CDS chumbaram as propostas de reestruturação.
Epilogo: "a Europa precisaria de cabeça fria e olhar lúcido, em vez disso parece sucumbir à fadiga que precede as derrapagens" (Viriato Soromenho Marques)

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