A batalha de Waterloo, os assassinatos de seis presidentes dos Estados Unidos, a ascensão de Adolf Hitler, duas grandes guerra mundiais, a deflação da bolha económica japonesa em 1994, a crise financeira asiática de 1997-98, a destruição ambiental, tudo no mesmo mundo desenvolvido, no best-seller editado na China “As Guerras Cambiais” (Currency Wars) esses eventos díspares abrangendo dois séculos têm uma única raiz causuistica: o controle da emissão de moeda através da história pela dinastia dos banqueiros Rothschild. Ainda hoje, reclama o autor Song Hong-bing, a Reserva Federal dos EUA continua a ser um fantoche dos bancos privados, que em última análise, também devem vassalagem aos omnipresentes Rothschilds. Uma tal super-abrangente teoria da conspiração interessa tanto quanto os muitos fétidos ensaios que ainda podem ser encontrados no Ocidente sobre os "gnomos de Basileia" e manipulação das finanças globais por Wall Street?
Mas na China, que se encontra no meio de um longo debate sobre a abertura do seu sistema financeiro sob pressão dos Estados Unidos, o livro tornou-se um surpreendente êxito e está a ser lido em níveis superiores do governo e de empresários envolvidos em negócios com o estrangeiro - "Algumas cabeças seniores de empresas foram-me perguntando se tudo isso é verdade", diz Ha Jiming, economista-chefe da “China International Capital Corp”, o maior banco de investimento nacional. O livro dá também argumentos, para os muitos economistas que na China argumentam que Pequim deve resistir à pressão de os EUA e outros países para permitir que sua moeda, o renminbi, se possa valorizar. A editora do livro, uma unidade de produção do grupo estatal CITIC, disse que as Guerras Cambiais” publicaram até agora cerca de 200.000 livros, estimando que tivessem sido fotocopiadas mais 400.000 exemplares. Song Hong-bing, consultor de tecnologias de informação e historiador amador que viveu nos EUA, diz que o seu interesse foi despertado pela tentativa de descobrir o que esteve por trás da crise asiática em 1997. Depois que começou a blogar algumas de suas descobertas, os seus amigos sugeriram que ele devia encontrar um editor para o apoiar num trabalho mais longo. Hoje confessa-se surpreendido com o sucesso do livro - "nunca imaginei que pudesse despertar tanto interesse (…) as pessoas na China estão nervosas sobre o que está a acontecer nos mercados financeiros globais, e não sabem como lidar com os perigos reais. Este livro dá-lhes algumas idéias". O que mais choca as pessoas, diz o autor da descoberta, é que a Reserva Federal (FED) é um banco de propriedade e gestão privada. "Eu próprio nunca poderia imaginar que um Banco Central pudesse ser um organismo privado".
A Reserva Federal faz-se descrever como “uma mistura pouco comum de elementos públicos e privados". Conquanto os seus sete governadores sejam todos nomeados pelo presidente dos Estados Unidos, os bancos privados detêm as acções dos seus 12 Bancos de Reserva Regionais. Podemos ignorar o papel do governo e pensar que é esta corporação financeira que selecciona os presidentes levados a eleição. A FED é em última análise controlada por cinco bancos privados, entre eles o Citibank e o Goldman Sachs, os quais mantêm uma "relação estreita" com os Rothschilds, descrita no livro como tendo as características de um clã judaico. "O povo chinês pensa que os judeus são inteligentes e ricos, por isso, devemos aprender com eles (…) mesmo eu acho que eles são muito inteligentes, talvez as pessoas mais inteligentes da terra". Jon Benjamin, presidente-executivo da Câmara de Deputados dos Judeus Britânicos, não está impressionado. "Os chineses têm o maior respeito por aquilo que vêem como perspicácia intelectual e comercial dos judeus, e têm pouca ou nenhuma cultura de anti-semitismo. Esta afirmação, no entanto, joga as cartas mais desacreditadas e obsoletas que cercam os judeus e a sua influência. Que estes pudessem vir a ganhar dinheiro emitido por um Banco Central na economia emergente mais importante do mundo é uma grande preocupação”. O livro vem sendo ridicularizado na internet chinesa a partir do exterior, por exagerar a influência dos Rothschilds e ser uma contrafacção das teorias da conspiração inventadas no Ocidente. As “Guerras Cambiais” narram as crises financeiras até à década de estagnação no Japão e da crise financeira asiática, que segundo o autor tiveram um impacto profundo em muitos decisores das políticas chinesas. Tais funcionários executivos permanecem profundamente desconfiados do “aconselhamento” gentilmente prestado por países capitalistas ocidentais que seria muito mais benéfico abrir o sistema financeiro da China e fazer flutuar a moeda nos mercados cambiais. “Pensamos que esse “conselho” é apenas uma nova forma de saquear países em desenvolvimento". Entretanto, o autor foi contratado pelo governo para escrever uma série de novos livros capitalizando o seu sucesso, sobre o yene, o euro e também sobre o sistema financeiro da China.
Mas, ao tempo do lançamento em entrevista ao Financial Times, Song Hong-bing parecia hesitante sobre a linha que os seus futuros livros deviam tomar - "este livro pode estar totalmente errado, por isso, antes do próximo, tenho que ter certeza que o meu entendimento está certo (…) antes deste livro, eu era um zé-ninguém, podendo dizer qualquer coisa dependendo apenas do meu gosto, mas agora a situação mudou". Certo é que logo ao 2º livro Song Hong-bing ilustrou a capa com a famosa mão invisivel que mexe na sombra os cordelinhos de toda a economia Ocidental. Desde 2011 “Currency Wars” já conta com 5 novas sequelas e actualizações estudando vários períodos e moedas susceptiveis de entrar em guerra.
fontes e leituras complementares
1. "O fim do dólar como moeda de reserva global? A China anuncia planos para a criação de uma moeda mundial. Currency Wars: The Making of the Next Global Crisis", James Rickards 2. Os chineses compram as teorias da conspiração (Financial Times, Setembro de 2007)
3. O ultra-secretismo que rodeia as negociações de Barack Obama para um novo Tratado Económico Global (The Economic Colapse, Maio de 2015)
4. O "Bancor", uma moeda supranacional proposta pela Inglaterra como potência hegemónica cessante por Lorde Maynard Keynes, não aceite no final da 2ª GGuerra pelos triunfantes capitalistas imperialistas dos Estados Unidos (wikipedia)
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