“Faleceu Fernando Távora, decano dos arquitectos portugueses e fundador da Escola do Porto”
“Sei que o infinitamente grande é tão infinito como o infinitamente pequeno” – foi com este singelo epitáfio, escrito pelo próprio, que o Arquitecto se despediu do Porto, onde deixou Escola. Porto que, por ironia, viu recentemente emergir bem no seu coração um infinitamente gigantesco e desmesurado “monumento” ao Neoliberalismo – a Casa da Música – cujo uso é secundário, valendo-se só como principal o valor obtido com o acto da sua criação, pelos interesses imobiliários que promoveram a sua construção, que aliás suscitou a indignação geral face aos exorbitantes custos alienados em nome de uma inóqua Sociedade do Espectáculo, enfim – uma ilha de suposto virtuosismo arquitectónico no meio do mar de desordenamento do território que é o nosso país.
Fernando Távora legou-nos o principio de conciliar os desafios do modernismo com a preservação das tradições culturais das nossas construções – nomeadamente através daquilo que ele chamava o “difícil exercício de converter situações de extrema complexidade na singularidade das coisas simples” – conceito que teve aplicação prática em toda a sua obra, principalmente na notável reabilitação do Centro Histórico de Guimarães – hoje Património da Unesco.
Terá a sua Escola seguidores dispostos a preservar o seu ideal lutando contra a preversão grosseira que é a importação bacôca de modelos de “mamarrachos” de culturas estranhas?
Haverá quem se disponha a enfrentar o Capital Internacional e os seus serventuários que prevertem a nossa mais valia natural que é a Paisagem, viabilizando interesses corruptores das nossas identidades nacionais e regionais?
Infelizmente, não nos parece. O Centro de “Artes” que aterrou como autêntico ovni no centro histórico de Sines é um exemplo. Segue-se Tróia.
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