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terça-feira, setembro 27, 2005

do Valor criado pela Produção, ao Antivalor extraído do Consumo (III)

(Conclusão)
“O desespero do artista perante a grandeza dos fragmentos antigos” Johann Heinrich Fussli – 1780 - Kunthaus, Zurique

"O capitalismo não é outra coisa senão a incessante "valorização do valor", aparecendo como um fim-em-si-mesmo de transformar dinheiro em mais dinheiro." Onde está o valor?
Robert Kurz

Com o Fundo Público-Estado a agilizar a acumulação do Capital, temos a Economia dividida em pelo menos dois níveis : o sector concorrencial “Primitivo” que não tem acesso ao Fundo Público, e o sector dos Oligopólios onde o Fundo Público é decisivo na reprodução do Capital e na formação da taxa de Lucro especialmente nos sectores de ponta – Aeronáutica, Telecomunicações, Energia, Informática, Material de Defesa, etc. Nestas áreas, as capacidades de inovação já não podem ser postas ao serviço da produção financiadas apenas pelo Lucro.
Esta divisão é uma negação dos automatismos do Mercado, e a “mão visível” perversa que conduz agora à concentração ou à exclusão. Citando Marx, “há uma base que organiza o Estado e o transforma na mais brutal imagem-espelho do banquete dos ricos e do despojo de todos os não-proprietários”
A democracia tem perdido capacidade para deter a voracidade desta nova classe emergente, que luta pela submissão do Poder Político ao Poder Económico nos seus mais diversos grupos de interesses.

A crise resulta deste embate. Não se trata de uma mera crise conjuntural. Trata-se, na verdade, de levar às últimas consequências a verdadeira “revolução copernicana” operada nas relações sociais de produção neste último século, sobretudo no pós-guerra, a que alguns chamam de “revolução digital”. E de democratizar as funções sociais das empresas. Nomeadamente pelo controlo democrático pelas forças sociais das suas administrações
Ao contrário das teses neoliberais, o pós-Estado Providência, consiste em demarcar, de maneira cada vez mais clara e pertinente, os lugares de utilização e distribuição da riqueza pública (Fundo Público), tornada possível pelo próprio desenvolvimento do capitalismo sob as condições de uma forma transformada da luta de classes.
Quando todas as formas de utilização dos Fundos Públicos estiverem demarcadas e submetidas a controles institucionais, (o que não é o equivalente ao super-Estado ou ao Estado máximo), então o Estado realmente se transformará no Estado mínimo.
Trata-se da estrutura de um novo modo-de-Produção do excedente que não já tem o Valor como estruturante. Mas os valores de cada grupo social, dialogando soberanamente. Na tradição clássica, é a porta para o Socialismo.
Marx previu no seu “Fragmento sobre Máquinas” (Grundrisse) – um sistema produtivo sem trabalho humano, em que a produtividade da tecnologia domina de tal modo o processo produtivo que “o tempo de trabalho deixa de ser a medida” da riqueza e a “produção baseada no valor de troca entra em colapso” . É neste ponto que estamos.

Relacionado:
* Declínio do Modo de Produção Capitalista ou Declínio da Humanidade? - análise de Jacques Camatte (1973)

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