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sexta-feira, setembro 16, 2005

"Katrina" - como New Orleans se transformou em zona de Guerra (I)

Como é regra comum em zonas de furacões, milhares de pessoas tinham sido deslocalizadas, os bens protegidos dentro do possivel. Como sempre o Katrina passou causando os danos habituais, nada de muito diferente de outras vezes. As pessoas descansaram. Passadas 24 horas rebentam os diques que protegiam a cidade, causando uma mega inundação catastrófica, milhares de vítimas e prejuizos incalculáveis.

Apesar da tragédia ter sido causada pelo rebentamento dos diques, os meios de comunicação continuam metódicamente a martelar na “catástrofe do furacão Katrina”. As causas do desastre estão determinadas – um decrescimento contínuo das verbas de manutenção e conservação dos diques que protegiam a cidade - Bush, é culpado! - na sua ânsia de relegar o Estado a um papel mínimo na sociedade, reduziu em 71,2 milhões o Orçamento(44%) do Corpo de Engenheiros de New Orleans, responsável pela manutenção de diques e barragens. E durante anos a especulação imobiliária, construiu em cima de Pantânos, sem que os governos contrariassem essa tendência. O costume.

O Senado americano iniciou um inquérito ao que correu mal com a Protecção Civil (FEMA) na assistência humanitária às vítimas. Uma das mais activas "militantes da causa do apuramento das responsabilidades", tem sido Hillary Clinton, a putativa candidata à Casa Branca. Na América ninguem advoga dádivas de esmolas sem que tenha interesses obscuros a cobrar em troca.
A incorporação da FEMA no Departamento de Segurança Interna (DSI), um mega-gabinete que coordena 22 Agências e 180 mil funcionários, foi criado pela Admn. Bush para centralizar a “luta contra o terrorismo”, nele integrando as unidades vocacionadas para a prevenção e ajuda em casos de catástrofes nacionais. Desde o 11 de Setembro, diz a Time, “em cada dólar atribuido pelo Governo Federal às unidades de desastres, 75 cêntimos foram gastos em “terrorismo”. Estas divergências, causadas por ninguem saber afinal quem estava “em charge” nas tomadas de decisão, levaram já à demissão do director da FEMA - Michael Brown, que tinha sido colocado nesta administração em troca dos favores prestados, quando aprovou pagamentos em excesso de 31 milhões de dólares em dinheiro dos contribuintes da Flórida para pagar danos inexistentes aquando do furacão "Frances" em 2001 e a outros três o ano passado, para ganhar votos para as eleições de George Bush.

Entregue ao DSI, New Orleans transformou-se em zona de guerra, na óptica da resposta cada vez mais militarizada a qualquer problema que aconteça nos Estados Unidos. E atrás da guerra, como habitualmente, vem o negócio. É nestas condições, que passados três dias do desastre, as primeiras unidades de socorro a entrar na cidade foram as forças da Empresa de Segurança privada Blackwater. Tal não aconteceu por acaso; a situação foi alvo de um cuidadoso estudo de marketing por forma a empolar mediáticamente os factos (furtos, pilhagens, violações, etc). Um mar de notícias e opiniões inundaram tambem os jornais. Com 70% da população negra, os pobres em New Orleans tiveram um concorrente económico de peso: o próprio Governo dos Estados Unidos a que chamam seu.

Os relatos são lancinantes. As imagens que as televisões nos mostram lembram as de um país do terceiro mundo afectado por uma catástrofe natural – e isso é verdade!, dentro dos Estados Unidos existe um enorme país do terceiro mundo em que existem algumas ilhas de sucesso, numa insuportável tensão entre ricos e pobres, onde na desgraça se consideram os brancos como lutando pela sobrevivência e os pretos são vistos como assaltantes e violadores,,, um autêntico barril de pólvora que, a qualquer pretexto, está sempre prestes a explodir, como aconteceu no Verão escaldante de 1971 em NY, ou nos “riots” raciais de Los Angeles em 1984. Que aconteceria à América se um dia a policia ou os militares-mercenarizados deixassem de ter capacidade para intervir?
A resposta está implicita na própria História yankee: - New Orleans está transformada em “território Indio”, o termo militar para “território inimigo” (continua)

1 comentário:

Samuel disse...

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Abs,
Samuel