Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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domingo, setembro 25, 2005
A ONU em Timor-Lorosae
Depoimento do presidente José Alexandre (Xanana) Gusmão
Para os pequenos paises como Timor Oriental, a ONU é algo de muito bom. Ali podemos fazr ouvir a nossa voz e defender os nossos interesses da mesma maneira que as grandes potências. Não quero dizer com isto que tenhamos um verdadeiro poder no seio das Nações Unidas, pois o nosso peso é limitado. Mas existimos como nação, o nosso voto conta, e isso é importante. Contudo, a ONU tem um problema de funcionamento: é uma organização pesada, muitas vezes embaraçada na sua acção por uma burocracia esmagadora. No caso da missão de reconstrução de Timor-Leste, foram necessários meses e meses para formar as equipas destinadas a ajudar-nos. A burocracia da ONU não conseguia encontrar as pessoas competentes para este tipo de missão. O resultado foi que entre os quadros e os técnicos encarregados da reconstrução havia quadros de qualidade, mas a maioria ignorava a nossa cultura e os nossos hábitos. Mais ainda, não se preocupavam minimamente com a nossa sensibilidade. Os timorenses sentiram-se muitas vezes agredidos por estes estrangeiros que não respeitavam os valores da nossa sociedade. A meu ver, a ONU não os tinha preparado para a sua missão.
Não se verificaram confrontos entre o pessoal da Autoridade Transitória das Nações Unidas para Timor-Leste (UNTAET) e o povo de Timor-Leste porque actuámos para que isso não pudesse acontecer.Mas a tensão era permanente. Fui obrigado a ir pessoalmente pedir às autoridades onusianas que partissem imediatamente depois da declaração de independência porque pressentia, no fim da missão, que o pior podia acontecer de um momento para o outro. Havia muita frustação, muitos mal-entendidos, o choque cultural era evidente. Por exemplo, muitos vinham ter comigo para se queixarem de que o pessoal da ONU tinha muitos automóveis, que gastava muito dinheiro nos restaurantes e nos bares de Dili, que ocupavam os melhores cargos administrativos e tecnicos. Os timorenses tinham sido postos de parte. Não tinham empregos. Os meus compatriotas eram, de facto, espectadores numa encenação financiada pelo dinheiro que os dadores nos tinham querido dar. Impressionou-me também a mesquinhez destes funcionários da ONU. Quando a UNCTAET terminou a missão, eles levaram tudo: os automóveis, as motos, os computadores e oa aparelhos de comunicação. Chegaramaté a tirar à policia timorense os walkie-talkies usados nas comunicações entre as provincias, comunicações essas particularmente dificeis devido ao relevo montanhoso da ilha. E no entanto todo este material tinha sido comprado com o dinheiro dos doadores. Na realidade, não tenho grande entusiasmo quando me refiro à acção da ONU em Timor-Leste. Fez o que podia, mas nem sempre esteve à altura da sua missão.
(Declarações recolhidas por Any Bourrier em Janeiro de 2005)
* Entrevista ao jornal Publico, em Abril/2004:
"Xanana Gusmão Acusa a Austrália de "Má Fé": "Roubam-nos o Petróleo e Depois Fazem Conferências Sobre Transparência"
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