o Executivo "encharcou" as antenas das rádios e das televisões de comentários oficiais sempre com a preocupação de desvalorizar o protesto"
,,, mobilizou 7 governantes para as televisões,
onde chegámos a ver 2 deles em simultâneo
nos três canais, enquanto a opinião dos
trabalhadores foi cuidadosamente segregada.
Para os 57,4 por cento da população que formam o patronato e os proprietários (12,1%) e os restantes (45,3%) que pertencem à pequena burguesia, quadros de chefia, técnicos, intelectuais, científicos, comerciantes e a míriade de pequenos empresários industriais e de serviços - para este grosso sector da sociedade dos que trabalham como independentes, a greve, como é natural, passou completamente ao lado das suas actividades e interesses.
Assim, embora afecte vastos sectores, a greve dirá directamente respeito apenas aos remanescentes 42,6 por cento que constituem o chamado Operariado ( ou o Proletariado segundo o conceito de Marx, que considera que trabalhador produtivo não é apenas o que produz uma mercadoria mas o que produz uma mais valia para o capitalista) Considerando estes números, expressos em “Classes, Identidades e Transformações Sociais”, de Maria Cidália Queiroz, (Campo das Letras, 2005) vemos como fornece indicações muito úteis (ver quadro) para os que procuram conhecer a divisão de classes em Portugal por forma a compreender as intervenções que, desde 2001, os neoconservadores têm estado a levar a cabo nas estruturas produtivas e sociais do país.
G. trabalha na Carris onde ganha 500 euros mensais; não fez greve porque pela falta descontavam-lhe o salário do dia e mais a totalidade dos prémios do mês inteiro: 170 euros!
S. trabalha nos CTT, é recrutado por uma empresa de trabalho temporário que recebe mais de 1000 euros pelo seu contrato mas só lhe paga menos de metade, está a título precário e também não fez greve – por cada um que “se porta mal” uma fila enorme de pretendentes ao posto de trabalho se perfila. No campo dos efectivos com contrato: o Metropolitano de Lisboa vai abrir processos disciplinares e punir os trabalhadores que se recusaram a cumprir os serviços mínimos; o Hospital de Leiria recolheu dados pessoais dos enfermeiros que fizeram greve; o mesmo aconteceu na Faculdade de Ciências de Lisboa e em muitos outros lados,
La Prise du Poivoir par Cavaco Silva
Neste quadro, o discurso oficial que passa para os públicos, é apenas a vulgata retórica : « o direito à greve está consignado na Constituição » diz Cavaco – quando na verdade do que ele anda a tratar é de institucionalizar a proletarização da enorme e desproporcionada classe média portuguesa (repete-se : 45,3% da população), uma anomalia que, por ser excessiva, está a prejudicar o ajustamento da classe dominante (12,1%) ao novo paradigma global. Como é evidente a compreensão do que se está a passar não pode ser dissociada das directivas politicas que são determinadas por Washington desde o crash de 2001 e a respectiva porta de saída para a nova ordem mundial levada a cabo com o início da acção de 11 de Setembro.
De tudo isto, ao fim e ao cabo, para o povoléu, o que transparece da tomada de poder pelos poderosos é a mise-en-scéne : em Junho Mister Cavaco Silva irá de visita à Hollywood da baixa politica internacional – como na Corte de Versailhes, nas esplendorosas plumagens dos séquitos ocultar-se-ão os verdadeiros propósitos do rei-sol, que lidera uma equipe que pretende extirpar do caminho as tradicionalmente exageradas práticas individualistas de cada um, cada um por si armado em empresário, levando todos os cidadãos do país (os que ficarem) a pagar cruel, fiel e inexoravelmente tronchudos impostos aos designios do Império.
O actual 1º ministro José Sócrates, lider do P”S” domesticado à americana, Comandante Supremo das Forças de Segurança e organismos correlativos, e o Professor Cavaco Silva Comandante Supremo das Forças Armadas, amigo íntimo do ex-chefe da CIA George Herbert Bush (pai do actual presidente americano) estão a construir uma teia de controlo dos direitos fundamentais, liberdades e garantias dos cidadãos – empurrando Portugal e os portugueses para um beco sem saída – estamos a entrar vertiginosamente na antecâmara de uma nova ditadura.
“Aqueles que se dispõem a prescindir da essência da liberdade em troca de uma segurança precária, não merecem nem a liberdade nem a segurança”
Benjamin Franklin
Obviamente, no actual panorama os impactos de qualquer greve local serão sempre reduzidos. As greves do futuro, coordenando os meios tecnológicos de que dispomos, terão necessáriamente de ser Globais. Construir a Identidade da classe trabalhadora na economia global e determinar as nossas (dos trabalhadores) tarefas de classe na Ordem Económica Globalizada aponta para uma desestabilização mundial, para o agravamento da repressão, enfim, para novas reconversões do capitalismo e para novas guerras imperialistas, ou seja: a tentativa de institucionalização da “guerra contra o terrorrismo” como negócio.
Afinal, nada disto é novo. Nos finais da década de 30 do século passado, os grandes monopólios americanos tinham estagnado. Na época o emblema do desenvolvimento era a fluorescente indústria do aço e foi aí depois do crash de 1929, onde a crise mais se instalou causando o descalabro em todos os sectores sociais a jusante. Os trabalhadores da indústria siderúrgica em Buffalo (NY), que outrora havia sido dominante – e as suas famílias – acabaram por cair em colapso quase total. As amplas transformações económicas e sociais do forte núcleo industrial dos Estados Unidos, como parte da reestruturação global ora em curso, (como então) levaram a que o primeiro acto fosse a repressão brutal dos grevistas - revisitando a história, centenas foram chacinados às mãos das forças policiais. Em nome da Ordem (deles).
Roosevelt capitalizou habilmente o descontentamento popular enquanto centrava a acção politica fundamentalmente na politica externa. Primeiro com as intrigas levadas a cabo pelo embaixador junto da Polónia que causaram o inicio do conflito europeu em 1939, depois com a conspiração de Pearl Harbour que decidiu da intervenção dos EUA na 2ª Grande Guerra. Como no 11/9 milhares de vidas americanas foram sacrificadas em nome da retoma.
A élite que controlava a gigantesca indústria siderúrgica vislumbrou finalmente a saída da crise, reconvertendo a produção para as actividades que iniciaram a preponderância do complexo-industrial-Militar. Uns quantos milhões de mortos depois as opiniões públicas puderam de novo mediaticamente sorrir. Por fim, chegava a conquista de novos mercados, e nova época de prosperidade se estendia à sua frente. Como agora, (também por cá), à custa do empobrecimento geral da enorme multidão de proletários de todo o mundo (sub)desenvolvido)
.