Pesquisar neste blogue

quinta-feira, maio 31, 2007

"O dia de ontem ficou marcado pela grande operação de controlo de danos do Governo;
o Executivo "encharcou" as antenas das rádios e das televisões de comentários oficiais sempre com a preocupação de desvalorizar o protesto"


,,, mobilizou 7 governantes para as televisões,
onde chegámos a ver 2 deles em simultâneo
nos três canais, enquanto a opinião dos
trabalhadores foi cuidadosamente segregada.

Para os 57,4 por cento da população que formam o patronato e os proprietários (12,1%) e os restantes (45,3%) que pertencem à pequena burguesia, quadros de chefia, técnicos, intelectuais, científicos, comerciantes e a míriade de pequenos empresários industriais e de serviços - para este grosso sector da sociedade dos que trabalham como independentes, a greve, como é natural, passou completamente ao lado das suas actividades e interesses.

Assim, embora afecte vastos sectores, a greve dirá directamente respeito apenas aos remanescentes 42,6 por cento que constituem o chamado Operariado ( ou o Proletariado segundo o conceito de Marx, que considera que trabalhador produtivo não é apenas o que produz uma mercadoria mas o que produz uma mais valia para o capitalista) Considerando estes números, expressos em “Classes, Identidades e Transformações Sociais”, de Maria Cidália Queiroz, (Campo das Letras, 2005) vemos como fornece indicações muito úteis (ver quadro) para os que procuram conhecer a divisão de classes em Portugal por forma a compreender as intervenções que, desde 2001, os neoconservadores têm estado a levar a cabo nas estruturas produtivas e sociais do país.

G. trabalha na Carris onde ganha 500 euros mensais; não fez greve porque pela falta descontavam-lhe o salário do dia e mais a totalidade dos prémios do mês inteiro: 170 euros!
S. trabalha nos CTT, é recrutado por uma empresa de trabalho temporário que recebe mais de 1000 euros pelo seu contrato mas só lhe paga menos de metade, está a título precário e também não fez greve – por cada um que “se porta mal” uma fila enorme de pretendentes ao posto de trabalho se perfila. No campo dos efectivos com contrato: o Metropolitano de Lisboa vai abrir processos disciplinares e punir os trabalhadores que se recusaram a cumprir os serviços mínimos; o Hospital de Leiria recolheu dados pessoais dos enfermeiros que fizeram greve; o mesmo aconteceu na Faculdade de Ciências de Lisboa e em muitos outros lados,

La Prise du Poivoir par Cavaco Silva

Neste quadro, o discurso oficial que passa para os públicos, é apenas a vulgata retórica : « o direito à greve está consignado na Constituição » diz Cavaco – quando na verdade do que ele anda a tratar é de institucionalizar a proletarização da enorme e desproporcionada classe média portuguesa (repete-se : 45,3% da população), uma anomalia que, por ser excessiva, está a prejudicar o ajustamento da classe dominante (12,1%) ao novo paradigma global. Como é evidente a compreensão do que se está a passar não pode ser dissociada das directivas politicas que são determinadas por Washington desde o crash de 2001 e a respectiva porta de saída para a nova ordem mundial levada a cabo com o início da acção de 11 de Setembro.

De tudo isto, ao fim e ao cabo, para o povoléu, o que transparece da tomada de poder pelos poderosos é a mise-en-scéne : em Junho Mister Cavaco Silva irá de visita à Hollywood da baixa politica internacional – como na Corte de Versailhes, nas esplendorosas plumagens dos séquitos ocultar-se-ão os verdadeiros propósitos do rei-sol, que lidera uma equipe que pretende extirpar do caminho as tradicionalmente exageradas práticas individualistas de cada um, cada um por si armado em empresário, levando todos os cidadãos do país (os que ficarem) a pagar cruel, fiel e inexoravelmente tronchudos impostos aos designios do Império.
O actual 1º ministro José Sócrates, lider do P”S” domesticado à americana, Comandante Supremo das Forças de Segurança e organismos correlativos, e o Professor Cavaco Silva Comandante Supremo das Forças Armadas, amigo íntimo do ex-chefe da CIA George Herbert Bush (pai do actual presidente americano) estão a construir uma teia de controlo dos direitos fundamentais, liberdades e garantias dos cidadãos – empurrando Portugal e os portugueses para um beco sem saída – estamos a entrar vertiginosamente na antecâmara de uma nova ditadura.

“Aqueles que se dispõem a prescindir da essência da liberdade em troca de uma segurança precária, não merecem nem a liberdade nem a segurança”
Benjamin Franklin

Obviamente, no actual panorama os impactos de qualquer greve local serão sempre reduzidos. As greves do futuro, coordenando os meios tecnológicos de que dispomos, terão necessáriamente de ser Globais. Construir a Identidade da classe trabalhadora na economia global e determinar as nossas (dos trabalhadores) tarefas de classe na Ordem Económica Globalizada aponta para uma desestabilização mundial, para o agravamento da repressão, enfim, para novas reconversões do capitalismo e para novas guerras imperialistas, ou seja: a tentativa de institucionalização da “guerra contra o terrorrismo” como negócio.

Afinal, nada disto é novo. Nos finais da década de 30 do século passado, os grandes monopólios americanos tinham estagnado. Na época o emblema do desenvolvimento era a fluorescente indústria do aço e foi aí depois do crash de 1929, onde a crise mais se instalou causando o descalabro em todos os sectores sociais a jusante. Os trabalhadores da indústria siderúrgica em Buffalo (NY), que outrora havia sido dominante – e as suas famílias – acabaram por cair em colapso quase total. As amplas transformações económicas e sociais do forte núcleo industrial dos Estados Unidos, como parte da reestruturação global ora em curso, (como então) levaram a que o primeiro acto fosse a repressão brutal dos grevistas - revisitando a história, centenas foram chacinados às mãos das forças policiais. Em nome da Ordem (deles).

Roosevelt capitalizou habilmente o descontentamento popular enquanto centrava a acção politica fundamentalmente na politica externa. Primeiro com as intrigas levadas a cabo pelo embaixador junto da Polónia que causaram o inicio do conflito europeu em 1939, depois com a conspiração de Pearl Harbour que decidiu da intervenção dos EUA na 2ª Grande Guerra. Como no 11/9 milhares de vidas americanas foram sacrificadas em nome da retoma.

A élite que controlava a gigantesca indústria siderúrgica vislumbrou finalmente a saída da crise, reconvertendo a produção para as actividades que iniciaram a preponderância do complexo-industrial-Militar. Uns quantos milhões de mortos depois as opiniões públicas puderam de novo mediaticamente sorrir. Por fim, chegava a conquista de novos mercados, e nova época de prosperidade se estendia à sua frente. Como agora, (também por cá), à custa do empobrecimento geral da enorme multidão de proletários de todo o mundo (sub)desenvolvido)
.

terça-feira, maio 29, 2007

"Precariedade, desemprego, flexisegurança, desigualdade.
O país está marcado por estas quatro palavras". E que fazem os sindicatos "social-democratas"? não aderem à greve! - a "UGT funciona como uma direcção-geral do Poder"


desenho de George Grosz, da série "O Rosto da Classe Dirigente"

Alexandre O`Neill, (1924-1986), introdutor com Cesariny do movimento surrealista em Portugal, cedo evoluiu para o inconformismo face às misérias do país do seu tempo, usando o humor negro e a paródia para atacar as convenções, a tacanhez e o obscurantismo da sociedade salazarista:

O Tempo Sujo

“Há dias que eu odeio
Como insultos a que não posso responder
Sem o perigo duma cruel intimidade
Com a mão que lança o pus
Que trabalha ao serviço da infecção

São dias que nunca deviam ter saído
Do mau tempo fixo
Que nos desafia da parede
Dias que nos insultam, que nos lançam
As pedras do medo, os vidros da mentira
As pequenas moedas da humilhação

Dias ou janelas sobre o charco
Que se espelha no céu
Dias do dia-a-dia
Comboios que trazem o sono a resmungar para o trabalho

O sono centenário
Mal vestido mal alimentado
Para o trabalho
A martelada na cabeça
A pequena morte maliciosa
Que na espiral das sirenes
Se esconde e assobia

Dias que passei no esgoto dos sonhos
Onde o sórdido dá as mãos ao sublime
Onde vi o necessário onde aprendi
Que só entre os homens e por eles
Vale a pena sonhar”

Que o sol não se ponha mais amanhã
Nem jamais se oculte na noite da indiferença


.

segunda-feira, maio 28, 2007

Imaginem! ¿Quem está por detrás dos combates no norte do Líbano?

Leia-se este recorte de um jornal de ontem (clique na imagem para ampliar). Dá para perceber quem são os “guerrilheiros da neófita Fatah Al-Islam?” Não dá.

Franklin Lamb, um cooperante da Comissão da ONU para os Direitos Humanos (UNHCR) descreve no Counterpunch.Org a forma como envergando uma esfarrapada camiseta que guardou da guerra Hezbollah-Israel de Julho do ano passado, entrou no campo de Nahr el-Bared com a missão de levar ajuda alimentar, colchões e roupas aos refugiados palestinianos. “Perguntei-me quem estava por trás dos acontecimentos que tiveram uma erupção tão rápida e violenta depois de um suposto “assalto a um banco” onde, dependendo da posição ideológica da pessoa com quem se fala, “bandidos mascarados” embolsaram 150 mil, 1.500 ou 150 dólares. Parece que cada meio noticioso em Beirute tem a sua fonte de “informação confidencial” – como costumava dizer o 1º Ministro assassinado Rafic Hariri: “¡no Líbano, não creias em nada do que te dizem e acredita só em metade do que vês!

Conforme nos aproximávamos do baluarte da Fatah Al-Islam depois de mais de três dias de bombardeamentos ao ritmo de 10 a 18 obuses por minuto, mais de 100 mortos, à vista das casas carbonizadas de onde exala um cheiro pútrido a carne queimada, ficámos sujeitos aos franco atiradores do exército libanês que impedem a entrada de água ou alimentos para os 45.000 habitantes do gueto. Algumas áreas estão destruidas em mais de 70 por cento; não há electricidade. O exército confisca as câmars dos jornalistas e controla a informação. Apenas 40% da população foi evacuada. No campo de Badawi onde havia 15 mil pessoas estão agora 28 mil. Em Bared disseram-nos que o Exército teria de destruir todas as casas para expulsar os guerrilheiros.
Das pessoas com quem conseguimos falar, todas afirmaram que os militantes da Fatah Al-Islam (FAI) começaram a chegar nos fins do Verão de 2006 e nenhum deles tem parentes no campo; são da Arábia Saudita, Paquistão, Argélia, Iraque Tunes e outros sitios. Não há palestinianos entre eles excepto os poucos delegados e afirmam ser pagos pelo grupo Hariri. Desmentem a informação que estejam a ajudar a população: "tudo o que fazem é rezar nos intervalos dos treinos militares”

Se virmos os dramáticos antecedentes dos 433.276 refugiados palestinianos nos 12 campos oficiais e 7 semiclandestinos do Líbano não surpreende que tenham simpatias pela Al-Qaeda, seja lá o que isso fôr, senão mesmo filiados em organizações como agora a FAI, os Soldados de Damasco (Jund al-Shams, “Sham” en árabe significa a Siria, Líbano, Palestina y Jordania), Filhos dos Mártires (Ibns al-Shaheed) as Comunidades da Iluminação (Issbat al-Anssar ou Issbat al-Noor) e muitos outros. Depois da invasão do Iraque e do Afeganistão, e do novo alento de Bush para que Israel possa destruir o Libano e as fontes de revolta, a situação assemelha-se hoje aos anos 80 da guerra civil, quando começaram a chegar grupos para resistir à invasão aprovada pelos EUA. Porém, hoje, em vez de militantes chiitas pró Hezbollah, os grupos actuais são islamitas sunitas contra o Hezbollah, financiados por patrocinadores comprometidos com a obscessão da Casa Branca em debilitar o Hezbollah depois da derrota de Israel em Julho de 2006.

David Welch
Para se compreender o que se está a passar com a FAI é necessária uma breve, porém tenebrosa introdução ao “Clube Welch” do Líbano. O clube deve o nome ao seu padrinho, David Welch, adjunto da secretária de Estado Condi Rice, que é um homem de mão do governo de Bush dirigido pelo judeu-americano Eliot Abrams (the last neocon standing). São membros chave do Clube Welch o veterano de guerra civil libanesa, senhor feudal da guerra Walid Jumblatt do Partido “Socialista” Druso (PSP), Samir Geagea, um terrorista que passou onze anos na prisão condenado por massacres contra cristãos pela Falange e Milicias Libanesas (LF), o mesmo grupo que coordenou também o massacre de 1700 palestinianos em 1982 em Sabra-Chatila (então dirigido por Elie Hobeika), o multimilionário Xeique Saad Hariri, líder do Movimento Futuro Sunita (FM).
Para formar as novas milicias, o PSP e a FM reuniram antigos extremistas dos antigos campos que haviam sido marginalizados durante a ocupação síria do Líbano, formando células para servir de cobertura a projectos anti-Hezbollah – o plano era culpar a Al-Qaeda e a Síria com acções de “terroristas islamitas”, entre as quais as FAI, desde que não comprometessem “o Clube”. Cada combatente recebia 700 dólares por mês, o que não é nada mau no actual Líbano.

A primeras das milicias financiada pelo Clube Welch, estabelecida pelo FM foi a Jund-al-Sham, também conhecida por Jund-el-Sitt (soldados de Sitt, onde "Sitt" em Sidón, Ain-el-Hilwa e os suburbios pertencem a Bahia Hariri, a irmã de Rafiq Hariri, tía do Xeique Saad, deputado no parlamento); a Fatah-al-Islam (o nome, sagazmente inventado, une a Fatah do idioma palestino e a palavra Islam como em Qaeda) que tem 400 combatentes pontualmente pagos até antes dos acontecimentos da semana passada. Os dirigentes reciberam apartamentos de luxo con vista para o mar em Trípoli onde armazenaram armas e residíam quando não estavam no campo de Nahr-al-Bared. ¿Adivinhem quem é o dono dos apartamentos?

Os grupos actuaram seguindo directivas do presidente do Clube, Saad Hariri. ¿O que correu mal? ¿Porquê “o assalto ao banco” a a matança em Nahr el-Bared?
Segundo membros da FAI, o governo de Bush entrou em pânico desde que Seymour Hersh anda a espalhar a notícia que a disciplina no Iraque-pós-Bush está em queda livre, enquanto os serviços de informações do Hezbollah sabiam antecipadamente dos planos de Clube Welch e juram que impedirão por todos os meios a guerra civil sunita-chiita. Então, a semana passada, as coisas começaram a correr mal para o Clube Welch – a FM “suspendeu” a transferência do pagamento dos ordenados à FAI habitualmente feita através do Banco propriedade da família Hariri; a Fatah-al-Islam, tratou de negociar pelo menos uma verba de subsistência sem que o conseguissem e sentiram-se atraiçoados (muitos dos seus combatentes são adolescentes facilmente frustados se não conseguem enviar o dinheiro às suas familias) Membros da milicia assaltam o banco, mas quando subtraem os cheques que lhes deviam ser destinados verificam que os valores que o Partido FM recebe é na realidade muito superior àquilo que habitualmente recebem.

A imprensa controlada pelo FM afirma que os prejuizos causados pelo roubo é muito superior ao produto do assalto e que o Clube Welch vai obter das companhias de Seguros, ainda por cima, um imenso beneficio.
As forças de segurança, a policia do Líbano atacam os apartamentos da Fateh-al-Islam em Trípoli; o ataque correu-lhes mal e viram-se forçadas a chamar o Exército. Numa hora a FAI começou as represálias contra soldados e civis desencadeando o massacre. Como continuaram a não lhes pagar lutam agora contra o Exército, que não se dá conta de estar a ser vítima da conspiração do Clube Welch.

(Dos desenvolvimentos e previsões pode ler mais aqui, traduzido em castelhano)
.

domingo, maio 27, 2007

Borda DÁgua

Entre os engarrafamentos da Feira de Maio na Azambuja, o palmilhar de quilómetros para se regatear bugigangas no Souk do Festival de Mértola ou, ainda mais longe, com as delícias pagãs em redor da guapa santinha de El Rocio, talvez seja preferível ficar pela enevoada cidade livre dos nómadas que a esgravatam diariamente e, meditar sobre Koyaanisqatsi, um mundo imaginário que só alguns, poucos (como Coppola, o produtor de "Life Out Balance"), vão conseguindo perceber;,, assim como assim, nós os da internet, somos uns privilegiados que ao fim de semana quase desaparecem do mapa, talvez em busca desse mundo perdido

Philip Glass


Atenção ao minuto 5.58 quando, na correria desarvorada sobre a insustentabilidade, abruptamente nos surge uma imagem que nos deveria ser familiar, mas que contudo apenas nos causa surpresa.

Balthus, certa vez que lhe desapareceu o gato lá de casa desatou a fazer uma série de desenhos a preto e branco, com a tinta que Marco Pólo tinha trazido da China – perdi o gato, lamentava-se ele - Rilke filosofava sobre o caso: ninguém perde uma vida, o gato deu à sola, pirou-se, foi à vidinha dele. A sua ausência é que te provoca esse desejo desmesurado de posse.

Afinal o problema real é que, sendo quase Verão e não havendo praia, desfraldo as(os) bandeiras Brancas – porque não sei o que fazer comigo mesmo

White Stripes&Kate Moss

sábado, maio 26, 2007

I`m a Barbie Boy

a frase "a direcção do PSD tem práticas nazis e estalinistas", proferida por Santana Lopes, afinal faz ricochete, e volta para trás para a posse do seu legitimo proprietário - o Lopes diz que preferia não a ter pronunciado: "não gostei de a ver escrita desta forma nos jornais do dia seguinte"



Ao mesmo tempo, algures noutro lugar, segundo o livrinho da Almedina d`"as melhores piadas jurídicas" um vagabundo era julgado em tribunal, segundo se constou, pelo uso desbragado de linguagem obscena na via pública. Presente ao juiz inquiriu-o este: o Sr. o que faz? - Não faço nada sôtor, limito-me a circular por aí - Ai sim?! então vai condenado à pena de 10 anos fora de circulação!
.

sexta-feira, maio 25, 2007

Feira do Livro

reformismos, reality tv e a cultura da pipoca
















abriu ontem a Feira do Livro e, avisando os mais distraídos para o evento, estiveram presentes dois dos maiores standes em cuja escolha por tradição habitualmente recai a preferência dos consumidores, a saber: a “RTP” na figura do seu carro de exteriores (em representação dos milhões que não viram o Livro mas leram o Filme) e o das “Pipocas da Joana”, gordurosa e (des)gostosa alegoria aos beduínos que vagueiam no deserto dos 90 por cento de palha em busca do tempo a perder nos minúsculos oásis onde se possa beber qualquer coisinha de interesse; efectivamente,

“Muitos homens iniciaram uma nova etapa na sua vida a partir da leitura de um livro”, afirmou Henry D. Thoreau (vidé "a Desobediência Civil")

E mesmo a propósito da situação que se vive em Lisboa (reflectida na penúria do apoio da CML a esta feira), eis o livro do dia de hoje na “Antígona”:

Homenagem à Catalunha”, preço de feira 9 Euros (preço normal 16 Euros)

Qualquer badameco intelectual cita Orwell (normalmente os oriundos dos meios mais retrógados e conservadores), mas citam-no fora do contexto em que as frases presentemente metaforseadas em bombásticas foram escritas ou proferidas – sem atender ao facto de a crítica brilhantemente produzida por Orwell (de seu verdadeiro nome Eric Arthur Blair) se insurgir contra as práticas dos falsos profetas que, intitulando-se de revolucionários, pautam as suas acções a contracorrente de qualquer mudança progressista – Orwell foi, portanto, repondo a verdade, autor de uma crítica à esquerda feita pela Esquerda!

“Escrevo porque há uma mentira que quero denunciar, um facto que pretendo destacar, e a minha preocupação primeira é a de me fazer ouvir”
George Orwell (1903-1950)

“Escrita no final da guerra civil espanhola a partir da sua própria experiência na frente de combate, “Homenagem à Catalunha” é uma obra ímpar, onde o autor descreve, com o agudo poder de observação que o caracterizava, o confronto entre os vários grupos revolucionários e os fascistas. A clivagem entre republicanos e fascistas era evidente. Muitíssimo menos evidente era a clivagem interna no campo republicano, opondo de um lado numerosos trabalhadores, que pretendiam converter a guerra civil numa revolução social, e do outro o Partido Comunista e a “burocracia” dos anarco- sindicalistas, para quem se tratava antes de mais de impedir que o conflito comprometesse as instituições politicas e económicas do Estado capitalista”.

Ora, vem esta martelada a talhe de foice por via da notícia de hoje que dá conta de que dois ex-vereadores militantes do PCP na antiga gestão na CML (da coligação “de esquerda” PS-PCP de João Soares), farão agora parte do elenco do futuro presidente António Costa, a saber: o número 2 Rui Godinho e Vítor Costa.
Sem colocar em causa a competência técnica profissional do Engenheiro Rui Godinho (vidé “O Desenvolvimento Sustentável e as Cidades como solução” de sua autoria, publicado na última Seara Nova), do que efectivamente se trata é de gerir, através das cúpulas, o descalabro capitalista, longe portanto de qualquer politica de participação dos munícipes nas decisões autárquicas que afectam as suas vidas na cidade.
O reformismo do PCP, tanto quanto as lendas e narrativas do Bloco Central dos últimos 30 anos, esvazia muita da razão moral a este desafio quando pretende contestar uma célebre manchete do jornal “Público”,

quarta-feira, maio 23, 2007

Como se explica que o excesso de dinheiro e de mercadorias produza um excesso de pobreza, fome e barbárie? Como entender que o tempo livre das obrigações do trabalho seja transformado em tempo de embrutecimento e alienação?
Em busca do lucro, o capital criou uma imensa eficácia produtiva do trabalho humano – e agora esta torna-se-lhe intolerável. A sobreposição generalizada de capital mergulha o sistema numa crise crónica. A qual abre, como anunciou Marx, “uma época de revolução social

A Crise Crónica, ou o Estado Senil do Capitalismo”,
Tom Thomas, Edit. Dinossauro

são sempre os mesmos, os “dasein” segundo a filosofia de Wittgenstein (os que se conformam apenas em existir, submetidos àqueles que determinam a existência) a pagar as consequências das mudanças provocadas pela agudização das condições de exploração capitalista
desenho de
“As “mulheres das fábricas”, muitas das quais vindas do Algarve e do Alentejo, filhas de famílias numerosas e começando a trabalhar aos 12 e 13 anos de idade, estavam sujeitas a ameaças de despedimentos, ao assédio sexual e arbitrariedades dos mestres que lhes distribuiam serviço e, em casa, à pancada dos maridos ou dos pais. Tinham um trabalho extenuante, realizado em condições pouco higiénicas, e passavam longas horas em pé, sem comer. O seu poder de compra reduziu-se depois de 1909 e agravou-se nos anos 1911-13, devido à recessão económica. (...) Foi o descaso dos republicanos em geral pela condição feminina nas camadas laboriosas e o desprezo dos seus sucessivos governos pelas cidadãs que proporcionou a Salazar, em 1928, um forte apoio das mulheres do povo. A “penúria agradável” da “casa portuguesa” em que o ditador as quis fazer viver, sendo já outra história, é no entanto a consequência desta”
Ana Barradas, in “Memória Operária”

Uma forte reestruturação está a ser levada a cabo nas estruturas sociais dos paises desenvolvidos. Esgotadas as condições de exploração da força de trabalho representada na forma clássica que opunha patrão-empregado, os investimentos capitalistas rumam a novas paragens, deslocalizam-se as produções, afastando-se assim para paises longinquos a oposição entre exploradores e explorados. Enquanto deste modo se desarmam os movimentos operários obrigando-os à inacção de uma paz social podre, as empresas nos paises ricos reformulam as suas linhas de “fabrico” para a montagem de componentes fabricados em todo o mundo baseada no outsourcing enquanto os operários nos paises desenvolvidos ficam remetidos às actividades no sector terciário engrossando as fileiras da pequena burguesia – por outro lado, os problemas intrinsecos aos operários que produzem nos sectores básicos em paises pobres ou emergentes ficam dependentes dos investimentos estrangeiros fazendo repercutir nos governos locais os ressentimentos pela sua escassez. Poder-se-ia pensar que estamos então perante “paises patrões” e “paises proletários”; mas não. Na verdade as ideias concretas de “país” e de “nacional” já foram abandonadas (mais precisamente desde o 11/9 e a ascenção neocon) pela “grande burguesia de negócios supranacionais” cujos representantes nos governos se limitam a fazer a gestão corrente da crise, a tratar da repressão e a fomentar o marketing de consumo. A “big picture” que ilustra o abandono das populações nacionais à sua sorte é, sem dúvida, o que aconteceu (e continua a acontecer) aos habitantes de New Orleans, ou às populações do Índico vítimas do tsunani, que jamais verão as suas vidas reconstruidas nos mesmos termos de antes das catástrofes.

A China abala o mundo, Ascenção de uma nação ávida,
James Kynge, Edit. Bizâncio

Neste contexto é fácil lançar-se o anátema e o odioso das causas que afectam o sistema global para cima dos jovens trabalhadores chineses que são milhões a deslocar-se das zonas rurais para as cidades, procurando com o seu esforço melhorar as condições das familias que milenarmente subsistem labutando árduamente em condições precárias nos arrozais – naquela que já é considerada a maior migração da história, nóveis operários dispostos a fazer turnos de 12 e 15 horas por qualquer preço em quaisquer condições, todavia sempre melhores do que aquelas das regiões longinquas de onde provêem – e onde voltam, em média apenas uma vez por ano, pelo Natal, para repartir com as familias o produto dos seus ganhos. Como não ver, duas gerações depois, nas suas faces, os nossos ganhões e seareiras nas inóspitas paisagens alentejanas de Manuel da Fonseca?

A mistura do “comunismo chinês” (que controla os sectores chave estatais e zela por condições de redistribuição social equitativas) e o “capitalismo selvagem” multinacional está a gerar acumulação de capital a ritmos estonteantes. Paralelamente é “uma época de sonho” que produz aventureiros sem escrúpulos, como o daquele pequeno traficante, sem emprego nem meios de vida, que, em 1979, num golpe de audácia, promoveu a compra de quatro aviões comerciais na União Soviética (já em crise) em troca do fornecimento de produtos de consumo corrente – sapatos, roupas e fancaria diversa. Aclamado pelo governo de Deng Tsiao Ping (vidé Nixon in China) como “modelo do empreendimento privado” e “herói da reforma”, torna-se um capitalista de sucesso e lança-se em negócios cada vez mais arriscados, até acabar condenado a prisão perpétua por fraude de divisas. Mas mil outros ocupam imediatamente a cena, porque as oportunidades de negócios propostos pelos “deuses tecnológicos brancos” são inesgotáveis. Em muitos aspectos, observa o insuspeito James Kynge (ex – editor do Financial Times), a actual ascenção da China assemelha-se à dos Estados Unidos na segunda metade do século XIX; Chungking faz recordar a Chicago desses outros tempos.
Escreve Kynge: “o casamento entre mão de obra barata e fábricas modernas contribui muito para que a China seja competitiva. Pessoas que ganham menos do que ganhariam durante a Revolução Industrial britânica no século XIX e trabalham em fábricas equipadas com maquinaria de última geração” fornecidas pelos capitalistas das multinacionais ocidentais. Ficam explicados, tanto o “milagre chinês”, como as nossas crises internas.

“Qual é a coisa qual é ela que cresce a dois dígitos e não é amarela? Dado a segunda condição excluir a China, sobra apenas uma alternativa: os lucros dos bancos portugueses
Pedro M. Pereira, Diário Económico, 7/2/07
.

terça-feira, maio 22, 2007

“Dos modelos (de antevisão climática), já concluimos que em 2025 (estamos a meio de 2007), haverá problemas sérios de falta de água: na Peninsula Ibérica (única região da Europa com essa ameaça), na Manchúria, na Austrália, na Namíbia (onde toda a água dos esgotos já é tratada e reutilizada), nos Estados do Oeste dos Estados Unidos, num prolongamento do deserto do Texas. Dos modelos também concluimos que por volta de 2100, daqui a 93 anos, os glaciares da Terra terão desaparecido. Entretanto, continuando a retroceder, os fluxos de água no Verão vão diminuir e a água disponivel será reduzida. Mas em Portugal temos projectos de grande exploração do “maior lago artificial da Europa”. Com que água?
Prof. Anthímio de Azevedo

“Enquanto o clima da Terra mudar, a Terra é um planeta vivo. Da sua história climática temos dois testemunhos: os gelos da Gronelândia que nos dão 15.000 anos e os da Antártida que nos dão 420.000 anos. O sistema climático global, ou o clima de toda a Terra, é composto por cinco subsistemas: a Atmosfera (todos os gases), a Hidrosfera (todas as águas), a Litosfera (todas as rochas), a Criosfera (todos os gelos) e a Biosfera (todos os seres vivos: animais e plantas). Estes cinco subsistemas estiveram em equilíbrio, apesar de e com as suas interacções.

O desiquilíbrio começou com a Revolução Industrial, mais precisamente em 1785. Em pouco mais de dois séculos colocámos o planeta Terra à beira do desastre, e não é exagero, por desiquilíbrios que os subsistemas referidos não conseguem compensar. E o vilão foi o único animal que destrói o seu ambiente: o homem”. A citação do metereologista Anthimio acaba aqui. No restante, do artigo publicado na “Seara Nova”, não se dá qualquer pista para entender que os homens não são todos iguais, que ocupam posições muito diferenciadas na cadeia de interesses que forma o sistema responsável pelo descalabro e, sobretudo, porque é que foi muito mais fácil provocar um deserto do que a partir de agora será recuperá-lo.

No relatório da WMOClimate Change 2007: Mitigation of Climate Change” que sumariza indicações necessárias e urgentes para os decisores politicos constam diversos gráficos que são eloquentes: os EUA, uma minoria de 300 milhões em termos demográficos, consomem mais de 25% de toda a energia de origem fóssil produzida no planeta e são responsáveis por mais de 28% das emissões globais de CO2, contra 11,4 % da Europa e menos de 5% de todo o continente Africano.

Perante estes dados concretos, observáveis até nos vestígios residuais do capitalismo global, é curioso constatar como o chefe de fila da “Refundação Comunista” Fausto Bertinotti nas “Teses da Maioria” apresentadas ao V Congresso, concluiu que “a noção clássica de imperialismo, nos termos definidos por Hilferding, Rosa Luxemburg e Lenine, passou à história, sendo hoje inadequada”. A luta de classes acabou? - Embora estejamos todos em posições iguais perante as consequências ambientais e sociais que são “distribuidas” aos pobres pelo capitalismo financeiro de produção sionista, não é crível que se possa daí inferir que as condições de acumulação do capital que explora os trabalhadores nos paises desenvolvidos (subtraindo-lhes as mais-valias) e os consumidores (pela subtracção dos antivalores acrescentados a mercadorias supérfluas) tenham alguma vez mudado no essencial.

Rapport secret du Pentagone sur le changement climatique”, de Peter Schwartz e Doug Randall, Ediç. Allia, Paris.

O Departamento de Defesa do Pentágono encomendou este estudo porque queria ter uma noção do impacto sobre a segurança dos EUA no caso de uma mudança climática súbita. As conclusões foram tão alarmantes que não o divulgaram. Os autores do relatório consideram provável que, a manterem-se as práticas industriais actuais, se verifique um aquecimento constante até 2010, seguido de um arrefecimento que produziria no planeta uma perturbação com consequências geopolíticas nos 30 anos seguintes: desaparecimento de cidades no litoral devido à subida do nível do mar, perturbações da produção agrícola e da energia, deslocação de populações, rarefacção da água potável, fomes, revoltas generalizadas, etc. Quanto a nós, este cenário arrepiante e algo catastrofista tem, ainda que indirectamente, a grande vantagem de reclamar todos os esforços dos que apostam em pôr termo ao “desenvolvimento” suicída imposto pela globalização capitalista. Muitos dos perigos previstos podem concretizar-se, alguns já estão em curso e por isso há que acabar com a ameaça, antes que ela acabe connosco.

O Professor Kenneth S. Deffeyes, da Universidade de Princeton, um dos mais eminentes geólogos dos EUA, autor de “Beyond Oil”, diz (pág.98) o que se segue:
“(...) em resumo, o carvão é barato, o carvão é versátil, e as principais economias industriais têm vastos depósitos de carvão. Face à eminente escassez de petróleo, um plano de jogo possivel é: 1) substituir o gás natural por carvão para a geração de energia eléctrica; 2) substituir o combustivel dos automóveis e camiões por gás natural; e 3) preservar o petróleo remanescente para a aviação.(...).
Mais adiante o Prof. Deffeyes acrescenta: “Fantasiar acerca de uma frota de automóveis não poluentes a pilha de combustivel (fuel cell) para daqui a vinte anos não compensará o declínio da produção petrolífera nesta década” (sic).

Foi sem dúvida o conhecimento antecipado destes dados que levou a Admistração americana a decidir-se pela ocupação do Iraque a partir de onde, com o apoio do Sionismo internacional de que são representantes, estabelecerá as raizes que lhe permitirão tomar posse administrativa de todo o Médio Oriente e da sua produção petrolífera. A partir daí muda-se de paradigma, dando-se livre curso à “Indústria Climática” onde os investimentos e os interesses das grandes multinacionais, as mesmas de sempre servindo as mesmas élites de sempre, há muito tomaram a dianteira.

Fique-se então a saber que, de cada vez que um activista ambiental a partir de agora levantar a sua bandeira pela defesa ecológica do planeta, sem que se afirme inequivocamente como anticapitalista, estará indirectamente a contribuir e a apelar ao lucro indispensável para a acumulação capitalista sob o novo paradigma: o do Imperialismo Biológico – as aves de rapina da humanidade que precisaram de destruir para ganhar, querem agora continuar a lucrar com as consequências da destruição.

Neste contexto, passe o próximo carnaval eleitoral Hillary-Obama, não haverá grande surpresa se o "eleito" para a nova gerência da gestão imperialista vier a ser o sonso Al Gore (que é actualmente depositário de milhões nas suas actividades ditas ecológicas - vendidas a 36 mil contos cada conferência). Conforme Gerald Ford, como primeiro acto da sua administração perdoou os crimes que Nixon cometeu, assim Gore perdoará também a Bush, cujos crimes, na óptica americana, são um mal necessário.

Entre nós, na periferia, a Fundação Gulbenkian, ela mesma “produto cultural” da actividade de um mecenas petro- multimilionário que chegou a porto seguro oriundo de uma das zonas mais pobres e inóspitas do planeta, enquanto mantém inúmeros interesses em explorações petrolíferas, organiza ela própria um importante fórum sobre “alterações climáticas”, pese embora o facto de a maioria dos dados e nomes citados neste post não constarem do programa.

"aprende a nadar companheiro, que a maré se vai levantar"

segunda-feira, maio 21, 2007

Foi no final da II Guerra Mundial, durante a Presidência de Roosevelt, que o "War and Peace Studies Program" elaborou o primeiro esboço do actual projecto de dominação planetária dos EUA. Desde aí, a lista de serventuários do regime não pára de aumentar. Tal e qual como o défice, com o qual se fazem pagar principescamente um rol cada vez maior de sinistras personagens - não é de espantar que, com os números a subir de forma tão espectacular, a clientela de agiotas politicos cresça proporcionalmente

Défice Nacional dos EUA


Do cinismo dos assessores lacaios do “Great Theft Pentagon

O paulinho do Pentágono, ex-paulinho das Feiras, com aquele seu inocente ar de puta fugida de um colégio de freiras, disse ontem algures na rádio que iria “indagar junto do Parlamento a razão por que os portugueses têm cada vez menos poder de compra
Não precisas de ir tão longe, querido; além de que as leis da física não são propriamente a especialidade daquela casa! – efectivamente a questão equaciona-se como nos sistemas de vasos não comunicantes: os proventos que se vertem quase em exclusivo para uma restrita meia dúzia de recipientes, jamais chegarão a todos os outros recipientes.
Vejamos quatro exemplos em quatro áreas distintas que, todavia se entrelaçam e alimentam entre si no cancro que degenera cada vez mais o já de si corrompido tecido “produtivo” nacional

a) Modelo nas empresas de serviço público, privatizadas:
Manuel Lopes Marques, 61 anos, abandonou em Junho de 2006 as funções de director geral de exploração e conservação da Refer, empresa do grupo CP, pelo que foi contemplado com uma indemnização de 210 mil euros. Três meses depois, em Outubro, foi admitido como assessor do conselho de administração da Rave, Rede de Alta Velocidade, que também pertence à Refer, com um contrato por três anos e o vencimento de 5050 euros mensais.

b) na Banca nacionalizada, filial dos grupos financeiros internacionais (Recordemos quem compra os Presidentes nacionais?):
Vitor Constâncio, o diligente governador do Banco de Portugal que todos os anos aconselha contenção salarial a bem do equilibrio das contas do Estado, recebeu em 2005 pelas suas funções um total de 280 mil euros, e aproveitou as economias assim honestamente acumuladas para investir meio milhão de euros em aplicações financeiras. A noticia despertou o interesse da imprensa, mas o banqueiro Alfredo de Sousa indigna-se por se estar a enxovalhar com comentários maldosos os investimentos privados de “um cidadão de elite com décadas de trabalho de elevada competência em cargos de grande responsabilidade”

c) no funcionalismo público
Aplicando a directiva socrática de acabar com os gastos abusivos nos serviços do Estado, o presidente dos CTT, Luis Nazaré, fixou para si próprio os seguintes emolumentos (tudo em euros): Ordenado 18.217, renda anual de Carro 26.660, Seguros de saúde e de vida 21.685, prémios de gestão 35.000, Telefones 24.000.

d) no Poder local
Revela uma auditoria do Tribunal de Contas a 31 empresas municipais (do total de 180 que existem no país) que em 2004 os gestores dessas 31 empresas gastaram 428 mil euros, sendo 205 mil em vencimentos, 42 mil em telemóveis, 61 mil em cartões de crédito e 121 mil em viaturas (esta última verba referente apenas a 14 empresas que apresentaram despesas com automóveis).

(Fonte dos dados nacionais mencionados: “Politica Operária.Net”)
.





a tarefa mais importante hoje, para todos aqueles que lutam pelos direitos humanos, é conseguir pôr fim às guerras americanas
Yuri Kochyiama: "É urgente fazer parar a máquina de guerra"

sábado, maio 19, 2007

Portugal: O vermelho e o negro (Sobre o como e o porquê dos incêndios florestais)

A lombada do livro “Portugal: o Vermelho e o Negro, a verdade amarga e a dolorosa realidade dos incêndios florestais” (por Pedro Almeida Vieira, Publicações Dom Quixote, 2006),
tem um aliciante irrecusável,







Refere os incêndios que nas duas últimas décadas e meia devastaram uma extensão equivalente a um terço do território português e o seu saldo devastador em termos sociais, ambientais e económicos. Anuncia-se que o autor vai provar que os incêndios florestais não são afinal uma tragédia inesperada, antes a consequência de erros crónicos, misturados com mentiras dolosas, deturpações intencionais, evidentes fraudes e insuportáveis irresponsabilidades. Ou seja, um diagnóstico inaceitável para governantes, autarcas e bombeiros.
Não resisti a tal aliciante e fui ler, dado até o alto conceito em que tenho o autor desde que ele escreveu “O Estrago da Nação” (Publicações Dom Quixote, 2003) ainda hoje um oportuníssimo retrato ambiental de Portugal. Que nos diz “Portugal: O Vermelho e o Negro”?
(continue a ler a recensão do livro, pelo Dr. Beja Santos em artigo publicado no Noticias da Amadora)
.

sexta-feira, maio 18, 2007

Sem sombra de sectarismo

Perante a pulverização de votos que se adivinham e a eleição de uma miriade de pequenos grupos politicos na composição do próximo executivo municipal, a Câmara continuará ingovernável, tanto mais que não existe qualquer projecto para a cidade proposto pelos partidos, que não tenha como principal fundamento a conservação de lugares ao serviço dos,,, partidos. Neste quadro, uma das originalidades das eleições intercalares em Lisboa seria o dos eleitores deixarem de fora o vereador independente José Sá Fernandes, ou seja, o principal responsável pela denúncia dos factos que levaram à queda do executivo do PSD- Santana -Carmona.

João Teixeira Lopes:

"José Sá Fernandes e o Bloco de Esquerda deram um exemplo claro e afirmativo de abrangência e unidade ao convocarem todas as forças não comprometidas com o torpe status quo da Câmara Municipal de Lisboa no sentido de apresentarem uma alternativa coerente e ganhadora. As reacções são conhecidas: o PCP, sempre tão ufano na reivindicação unitária, cedeu aos insultos. O PS, de forma atrapalhada, invocou questões processuais e dificuldades burocráticas. Helena Roseta desmarcou uma reunião já agendada para discutir a magna questão.
Sejamos frontais: o sectarismo e os protagonismos carismáticos e narcísicos impediram a convergência necessária. Em consequência, o Bloco de Esquerda apresentará uma candidatura própria, encabeçada por José Sá Fernandes. O vereador e o Bloco de Esquerda foram a face visível do combate à corrupção na autarquia lisboeta, a alternativa consistente à opacidade dos procedimentos, ao facilitismo, às redes clientelares de interesses e às sombras que tentam esconder tais esquemas na névoa suja da mentira. Pelo espaço público, contra a privatização do direito à cidade; pela mistura social contra os ghettos de ricos (condomínios fechados) e pobres (habitação social mal construída e à pressa, segregadora e estigmatizante); pelo verde contra o betão; pelo cosmopolitismo contra a xenofobia. Sá Fernandes foi um tribuno atentíssimo e bem preparado contra a prepotência e o atropelo à lei. O Bloco de Esquerda orgulha-se de o ter como seu símbolo, embora sempre respeitando o seu estatuto de independente.
Eis chegada, pois, a altura de confrontar projectos. Venham as ideias, tranquem-se a sete chaves os protagonismos vãos. Se há projectos e não apenas vaidades pessoais, que entrem na liça da argumentação racional e democrática. Poupem-nos ao discurso demagógico anti-partidos, forma fácil e rasteira de dissolver a cidadania activa numa desconfiança generalizada que não separa o trigo do joio. O Bloco orgulha-se de ser um partido político, mas nada tem a ver com a corrupção, o tráfico de influências, os podres poderes. Nascemos para os combater. Em Lisboa, no país, no mundo"
(publicado no Esquerda.net)
.

quinta-feira, maio 17, 2007

Otelo e a Classe Operária

Opinião pública é uma coisa que só existe nos pequenos lugarejos. Nas capitais desaparece, substituída pela opinião que se publica.

«Nem militares nem padres porque o meu sonho foi sempre morrer sem intermediários»
Boris Vian

o Entre dois imperialismos,
"o Gato Félix
" toca o bombo,
Almada Negreiros, Museu do Chiado

Otelo Saraiva de Carvalho, 70 anos, a cada 25A faz habitualmente o pleno nas efemérides da imprensa côr de burro quando foge. Este ano transvazou-se do razoável ao autobiografar-se no Jornal de Letras; mas, sendo o estratega de Abril, não se pode dizer mal do gajo, sob pena de quem ousar fazê-lo ser metido no mesmo saco dos nacionalistas que gozam que nem uns perdidos com episódios, como por exemplo o do "minete fardado" num filme patrocinado pela SIC do bilderberg`er Pinto Balsemão.
Ficou famosa a deslocação de Otelo a Cuba, quando foi comandante do Copcon - pá para aqui, pá para acolá, toda a gente na ilha de Fidel se entreolhou embascada com a falta de cultura politica de tão insigne auto-enviado em nome da Revolução portuguesa; falhada por isso mesmo: por falta de cultura dos magalas responsáveis e por via disso, da assumpção das responsabilidades perante os compromissos assumidos no programa do MFA - que foram postos em causa, sem qualquer reacção do então graduado em General. Depois do 25 de Novembro os colegas dos Comandos aviaram-lhe as malas e fizeram-no regressar ao posto de Major (de onde nunca se deveria ter atrevido a sair).

A Questão do Exército tem a ver com a Questão do Estado, que é essencialmente um Aparelho de Repressão de uma Classe sobre outra

Em 1959 num almoço dos finalistas dos cursos do Exército, da Força Aérea e da Escola Naval, no Palácio de Belém (que já na época era mal frequentado) estiveram presentes, além do anfitrião - a Múmia da Ditadura Américo Thomás - os alunos Otelo Saraiva de Carvalho, Martins Barrento que viria a ser chefe do Estado Maior do Exército e o famigerado futuro Major das Batatas: Valentim Loureiro (foto JL) - saidos todos da mesma fornada, cada um ocupou o seu nicho de mercado: Otelo, bon-vivant dos bas-fon lisboetas durante periodo áureo da guerra colonial que enriqueceu toda uma geração de oficiais e sargentos lateiros militaristas, viria a notabilizar-se por, enquanto comandante do Copcon, mandar reprimir e encarcerar os primeiros presos politicos pós-25 de Abril, numa manifestação na Estefânia em que militantes do MRPP afrontaram milicias do Partido "Comunista"-MFA. Esse foi justamente o 1ºacto onde foi possivel avaliar a natureza de classe do Poder saído da revolução de Abril - nada mais do que uma nova etapa na modernização da exploração capitalista.
.

quarta-feira, maio 16, 2007

,,,ninguém acha nada de anormal na guerra em curso "pela conquista" da Câmara de Lisboa?, enquanto a Assembleia Municipal permanecerá incólume como bóia, último reduto e semente do Poder instituido?

"A beleza está nos olhos de quem vê
e às vezes pode ser necessário dar
um murro no olho de um observador
mais estúpido ou mal informado"
Miss Piggy

A Câmara de Lisboa tinha em Outubro de 2005, aquando das eleições autárquicas, um passivo de 926 milhões de euros, o dobro da dívida existente em 2001, antes do golpe de Estado neoconservador no país e da tomada de posse de Santana Lopes como autarca da capital. O orçamento para 2006, estimado em 700 milhões de euros, foi aprovado pela maioria PSD e CDS-PP visando «uma gestão corrente», não estando previstas nesse documento entradas de dinheiro decorrentes, por exemplo, das contrapartidas da criação do casino. Não existe maneira de pagar a estapafúrdia máquina administrativa instalada. (aliás, o mal do nosso país sempre foram as mega-Administrações: uma infeccção de piolhos para a qual não se tem descoberto outro remédio senão coçar). Quando, por acção da CDU e do BE, os únicos que votaram contra o orçamento, começaram a ser descobertos os fumos da corrupção que os herdeiros dos empreiteiros da ditadura tinham instalado na capital (Fontão de Carvalho, o vereador das Finanças, entronizado no tempo da autarquia PS, é genro de um dos maiores construtores civis), então, a partir daí, o dinheiro começou a faltar – pretexto mais que suficiente para o PS, pela via da abstenção, começar a viabilizar os negócios (recorde-se a famosa paixão imobiliária do Lopes) que ultimamente têm feito as manchetes dos jornais: os terrenos da Feira Popular, do Vale de Santo António, os empreendimentos do Bibi Infante Santo e de Marvila Filipe Vieira, os cambalachos com a EPUL vs Benfica, os terrenos da Sociedade Hípica Portuguesa, do Convento dos Inglesinhos, o túnel do Marquês e os interesses imobiliários de um notório amigalhaço de Durão Barroso, etc – enfim, a tentativa falhada de um sucedâneo “independente” na construção da cidade neoliberal cujo ícone maior seria o mono-mamaracho pós-moderno a edificar no Parque Mayer: como emblema da cidade que escorraça os pobres e as classes médias para as periferias em função dos interesses das multinacionais dos negócios e da venda da cultura do espectáculo, que monopolizam os centros urbanos para venda a estrangeiros abastados! – não fora o facto de termos feito eleger o vereador Sá Fernandes e toda esta maneira corrupta, anti-democrática, de vender ao desbarato o património da Cidade teria permanecido, como sempre, até agora, na obscuridade – tal e qual passa meio despercebida a crescente ocupação do imobiliário na capital pelo omnipresente grupo Amorim (a outra paixão do Lopes - com a ajuda providencial da Nova Lei do Arrendamento promulgada por um presidente da república da mesma côr politica)

a Politica do Dinheiro,

a Economia de Casino

e a escolha do novo Croupier

- a escolha para Lisboa é indissociável
da escolha que foi feita
para o país

Portanto, se como dizia Aristóteles, “o objecto principal da Política é criar a amizade entre os membros da Cidade”, é obvio deduzir que, excluídos da roda de amigos, os munícipes lisboetas comuns (os que persistem) estão ser escorraçados, não apenas fisicamente “do local do crime”, mas fundamentalmente da escolha e viabilização de qualquer programa de acção para Lisboa, já que o arraial eleiçoeiro está mais uma vez montado sobre a fulanização da gestão camarária e não sobre a discussão de propostas concretas para se averiguar como se fará de futuro o financiamento da Cidade e sobre que projecto assenta o seu desenvolvimento.

Será que toda esta chusma de candidatos partidários que reincidindo inviabilizam qualquer coligação maioritária, não conseguem perceber que, salvo os que em devido tempo se demarcaram da situação, todos eles são potenciais arguidos no sistema?

O caso mais curioso é o do superIntendente Costa das Policias, que de responsável directo por uma monumental carga de porrada aviada simbolicamente no dia 25 de Abril em inofensivos manifestantes da Rua do Carmo – se propõe agora passar a responsável técnico pelas pedras da calçada que viram a agressão – Será que o programa do ex-ministro Costa se baseia no receio que a falta de manutenção dos pavimentos na capital do país danifique os cascos da policia de choque?

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

José Régio, in “Cântico Negro”
.