Pesquisar neste blogue

quarta-feira, agosto 01, 2007

e a vida é um instante,,











Michelangelo Antonioni 1912-2007

Não é possivel hoje dizer nada sobre Antonioni (o cineasta em si), a Arte é uma Arma de Luta e o respeito obriga-nos a guardar silêncio. Antonioni definia-se a si próprio como um intelectual marxista, mas se formos ver a imagem que lhe querem legar como tradição, veremos apenas a chamada "trilogia do tédio" existencial (ideia que Marx ancorou ao "trabalho alienado") - a Aventura, a Noite, o Eclipse - as fúteis listas de prémios que coroaram formas artisticas reconhecidas pela novidade, pelo escândalo, pela elegância e pela economia de meios "transformadas em objecto chique no escavar do vazio de uma burguesia ociosa" (Ruy Gardnier).
A partir desta fase fazem parte da história da identificação de classe, o Antonioni fundamental: "O Deserto Vermelho" complementada por outra tetralogia essencial que, mostrando a crise da familia burguesa do pós guerra na Itália assimilada à força pela invasão do americanismo, pelo boom económico e pela modernização, desconstruiu a imagem e levou à perda de ilusões do cinema neo-realista italiano dos anos 60: “Prima la Revolucione” (Bertolucci, 1962), “I Pugni in Tasca” (Marco Bellocchio, 1965) “Teorema” (Pier Paolo Pasolini, 1968 - "cosa ne pensa della società italiana?": "la borghesia più ignorante d'Europa") “Dillinger è morto” (Marc Ferreri, 1969)

"Fazer uma história de Cinema é contar todas as histórias"
Jean-Luc Godard

Quando passaram "A Saída dos Operário da Fábrica Lumiére" no boulevard de Capucines em Paris (1885), os irmãos Lumiere foram os primeiros a tirar partido de um defeito na visão humana que não permite detectar os intervalos negros entre a colagem de imagens fotográficas passadas a determinada velocidade. George Meliés com "Réve d`Artiste" catapultou em definitivo o novo meio tecnológico à categoria de Arte (1898). Em pouco mais de cem anos um longo caminho foi feito no encadeamento das imagens até ao clássico icone pop-Art de Antonioni: "Blow-Up" onde o fotógrafo de moda Thomas capta instantâneos onde pensa ver nas imagens ocultas a olho nu as evidências de um crime cometido num parque londrino. Ficção ou realidade? Para chegarmos a Antonioni, a grande questão é saber se a nossa vida não é, ela própria, uma ilusão, que nos é efabulada pela lógica das indústrias culturais hodiernas

David Hemmings, in "Blow-Up" (1966)
à procura dos buracos negros ocultos entre as imagens da realidade
.

Sem comentários: