“Enemies of Happiness”
cinematografia 2
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É uma estórinha passada no Afeganistão, sobre os direitos humanos das mulheres. Mas o que significa isso no Afeganistão patriarcal, onde funcionam ainda, antes das regras a usar no espaço público (“Sociedade” é um conceito estranho), os procedimentos medievais, ancestrais, impostos pelas tradições seculares da família, pelo clã, pela tribo? – todos e cada um em conjunto observando os austeros mandamentos da religião? Para agravar a situação: é um país ocupado por forças estrangeiras.
Dizem que, passados 30 anos em guerra, quem impõe as regras continuam a ser “os Senhores da Guerra”. Como e quem cunhou esta sigla? Como e com quê se faz a guerra? Com armas, munições, meios de abastecimento e comunicação. Que se saiba não existem fábricas de espingardas, bazookas, munições, indústria ou tecnologias apropriadas para o efeito no Afeganistão. Ali aparece tudo feito, porque alguém lhes vende esses meios. Quem terá então interesses no negócio? E, passados seis anos da invasão do país pelos Estados Unidos (acção depois alargada à Nato) quem e com o quê paga o “governo” afegão o fornecimento desses meios?
Estas questões não são equacionadas pela jovem realizadora, a sueca Eva Mulvad (20 e picos anos?) que foi levada ao colo com uma mala de dinheiro para o Afeganistão para filmar a odisseia de Malalai Joya, outra jovem, afegã, que instigada saberá Allá por quem resolve afrontar os poderes tradicionais concorrendo à Assembleia Nacional num arremedo de eleições patrocinado pelos invasores entre uma população de 30 milhões de almas onde apenas 28 por cento sabem ler ou escrever. Que voto consciente (transportado em caixotes por camiões militares americanos) se pode extrair desta gente e dos seus alegados “representantes” à maneira ocidental? onde as estruturas de vida estão praticamente destruídas?. Curioso que os nossos liberais de esquerda não encontrem nada melhor para dizer que isto: “Com tudo contra ela, Malalai foi a segunda mais votada no seu distrito. E, no Parlamento, já deu que falar. Ela lá está. É islâmica, tem tomates e corre todos os riscos” – Azougada, competente, heroína ( o que até nem é verdade, e nem é por causa dos tomates) é o caso típico da deputada que precisa de mudar de povo.
Só na recta final de "Enemies of Happiness" (enquanto o conceito de independência em todo o filme é mandado às urtigas) é que nos é dada uma pista fugaz (involuntária) sobre algo que não seja "a luta pelas liberdades cívicas" – no dia da festiva inauguração da Legislatura os eleitos são transportados num autocarro com a sigla “Military Academy” para a Loya Jirga convenientemente construida numa “green zone”. Por fim, na habitual sessão de perguntas e respostas, a jovem sueca Eva esclarece que não filmou Malalay Joya na sua área de residência por ser muito perigoso. Foi tudo filmado em Cabul na "green zone". Assim como fez com Rahela, outra jovem que foi vendida pela família a um velho “senhor da guerra” pelo valor do dote que a família empochou, recusando-se depois a filha a entregar-se para o casamento (acabou por fugir, refugiando-se no Irão, esse tenebroso covil sob administração de bárbaros). Entretanto Malalay Joya, depois de cumpridas muitas provocações Allá saberá em nome de quem, embriagada pelos “direitos humanos” desistiu do Parlamento (war on terror is a mockery – um esforço em vão, inútil, ridículo, um simulacro, diz) e atravessa dificuldades financeiras. A jovem Eva emocionada pede a quem queira e possa que a ajude através do seu sitio Internet. A bom porto veio ela dar. Num país com 2 milhões de pobres, diz o roto ao nu, porque não nos ajudas tu? É só uma questão de sensibilizar a administração politica do Afeganistão na zona verde resultante da invasão – afinal são eles verdadeiros Senhores da Guerra – para efeito de “quem paga a democracia” - in G.O.D. (Gold, Oil, Drugs) We Trust. Afinal são eles, em última instância, quem zela para que as coisas sejam assim.
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