A Guerra Colonial caiu nas garras da TVI. Começou a banalização de um tabu, um tema que nunca foi exorcizado de forma séria na sociedade portuguesa. As vítimas dessa guerra, cujos desígnios ainda não foram cabalmente explicados ao povo português, são a partir de agora, a partir da falta de vergonha dos promotores de reportagens como a que passou na TVI, transformadas em realitys shows, vergonhosamente enxovalhadas. Será uma indignidade se alguma qualquer autoridade reguladora não puser termo ao despudor dos comerciantes de emoções rascas sobre um tema que é caro a toda uma geração de portugueses - que desrespeita os muitos milhares de vítimas da ditadura que, de um ou de outro modo, viram as suas juventudes sacrificadas.
A convite da TVI um antigo combatente acompanhando uma equipa de reportagem deslocam-se à Guiné. O convidado enverga uma T-shirt duma companhia de seguros (o patrocinador que decerto pagou o bilhete de avião). Visitam o local onde três soldados portugueses mortos em combate foram sepultados. Um sítio inóspito, abandonado, onde cresce o capim - a mensagem subliminar é a de que "os pretos continuam a ser uns malvados" (que nem uma sepultura condigna sabem dar aos adversários). Em casa a família vê a reportagem e chora em directo para a televisão. Não se percebe bem se choram os entes que lhes deveriam ser queridos, se as condições em que está o sitio onde apressadamente os colegas enterraram os mortos enquanto estavam debaixo de fogo, se as deploráveis condições de luta pela sobrevivência a que ficaram votadas as populações das ex-colónias. As famílias das vítimas e os antigos colegas dos soldados, se calhar não saberão explicar o que se passou - por isso mesmo se deviam recusar a participar, servindo de instrumentos na mão de manipuladores que fazem da morte espectáculo. É indigno.
Aguentem o fardo do Homem Branco
Enviem para a frente o melhor que tenham gerado
mas, Impeçam o mercenários da televisão
De facturar as campas dos nossos soldados
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