“On Hitler´s Highway”
cinematografia: 3
Avaliação politica: 4
Lech Kovalski é um óptimo cineasta, que neste documentário, nos leva para Leste pela A40, a auto estrada mais antiga da Polónia construída por Hitler, que continua a ser uma ligação vital ao Ocidente.
Não são os pobres que fabricam as guerras
O realizador apenas nos mostra o caminho, onde hoje se podem encontrar coisas que nos parecem banais: marginalizados que lutam pela sobrevivência; centenas de imigrantes búlgaras, romenas, ucranianas, moldavas que se prostituem nas bermas; bancas improvisadas onde se vende de tudo; trabalhadores ilegais em trânsito escondidos em abrigos; um velho cigano que recorda como os Nazis não se davam ao trabalho de enterrar os que sucumbiam na construção – era o betão da própria estrada que lhes cobria os corpos para a eternidade. Foi ao longo desta rota de Sinagogas judaicas (onde estão as maiores reservas da força de trabalho é onde se concentram os agiotas) que se desenrolou a carnificina. (impropriamente designada de "holocausto". Houve uma intenção prévia de dizimar de forma sistemática trabalhadores essenciais para o esforço de guerra na rectaguarda?). A auto-estrada, partindo de Berlim e visando atingir a Rússia, passa por Oswiecim (Auschwitz), o que explica a importância do famoso campo de concentração: o centro de um conjunto de estaleiros de materiais extraidos das pedreiras, muitas delas situadas no interior dos campos, e de mão de obra intensiva. Foi a partir destes complexos que se efectuou o fornecimento da A40, uma grande obra do regime Nazi. Que, por curiosidade, foi agora (em 2002) ampliada com fundos da União Europeia em mais umas dezenas de quilómetros.
Kovalski interroga-se: “quando estava a filmar “On Hitler`s Highway” perguntei-me qual seria o meu lugar nesta história. Como posso tornar esta história uma experiência visceral fora da cultura onde foi filmada? Todas as respostas indicavam para mim. Cabe-me a mim (a nós?) preencher(mos) as lacunas e resolver estes problemas”
Os caminhos feitos pelos homens não são como os rios, têm sempre dois sentidos, um que vai, outro que vem. A mesma estrada, com objectivos militares, que levou Hitler a virar-se para o Leste, para o Cáucaso em busca das fontes de combustíveis vitais para o esforço de guerra, trouxe à Europa, poucos anos depois, o Exército Russo.
Dois séculos antes, os Czares ávidos de absorverem a cultura Europeia, empreenderam outra cruzada para Leste à conquista das estepes asiáticas. A identidade da Mãe Rússia foi construída com a Cruz, a organização Militar e as inovações tecnológicas vendidas pelo Ocidente, que vincaram a supremacia – a pólvora contra os varapaus e forquilhas dos bárbaros gentios.
Depois das conquistas, restam os escombros e a desolação. As hordas de vencidos, cossacos e nómadas, judeus, ciganos e tribos semitas em geral, empreendem o caminho de regresso dos vencedores – multidões de imigrantes rumaram para Oeste, o centro onde pressentiam estar o Progresso que proporcionava tanto Poder. Como se sabe, as hordas de esfomeados são dificeis de controlar, o pobre é um bicho, como as pragas de gafanhotos, que comem tudo o que encontram. Culpados de todas as nossas desgraças os “progoms” tornaram-se uma prática habitual – é sobre os imigrantes que se abate a violência. Senão,,,
Estamos em 1917. No termo da 1ª Grande Guerra a Alemanha e a Rússia estão ambas derrotadas. Da anarquia saiu a Revolução Russa por um lado, por outro, na Alemanha os judeus açambarcam a economia, prosperam com a penúria. Quando Hitler chega ao poder em 1933 um dos primeiros actos é a celebração do Pacto de Brest-Litovsk que divide os antigos territórios da Prússia – na prática dividia a Polónia em duas. Em 1939 Berlim estava no inicio da estrada.
Em 1989, quando o Muro caíu e o Império Soviético se desmoronou, novamente milhões de imigrantes percorreram o caminho de fuga à fome e à miséria, outra vez em busca do mítico progresso. Que vêm encontrar?
A União Europeia a 25 (no ano de 2003) contabilizava 454,5 milhões de habitantes, dos quais 68,2 milhões, 15 por cento da população, viviam no limiar da pobreza, já depois de terem recebido contrapartidas sociais. Por outro lado 45,5 milhões de europeus em idade laboral enfrentavam o desemprego, entretanto agravado, em vastas regiões onde a totalidade dos habitantes não têm qualquer perspectiva de vir a obter emprego.
Igualdade, Fraternidade e Liberdade,,, eis as lindas palavras chave dos teatrais discursos politicos tornados obsoletos, enquanto a Economia é deixada á rédea solta, sem regulação, ao arbitrio do livre mercado liberalizado, selvagem. Mas existe uma contradição que nega todos aqueles chavões – o “comércio livre” é na prática determinado pelos interesses das cerca de 38 mil multinacionais americanas. A perspectiva económica do neoliberalismo, entretanto construída, tenta matar qualquer utopia, fazendo crer que nada mais é possivel para além da adaptação ao sistema.
Com a Europa em crise, em 2003, quando a Alemanha e a França se recusaram a pagar as guerras do IV Reich de Bush, no fim do mandato o chanceler Gerard Schroeder subiu de patamar e rumou para a administração da Gazprom, a empresa estatal russa dos petróleos e gaz, deixando para traz um governo de coligação com Angela Merkel como centro e motor da economia europeia. Na perspectiva do Império é a partir daqui (do BCE) que tem de se dar de mamar a todos os ressentidos (incluindo aturar a flatulência dos gémeos polacos) que vão sendo excluidos pelo caminho nas grandes cruzadas Ocidentais.
Veremos o que a campanha pelas fontes de energia no Leste nos trará de volta pela estrada de regresso à Europa, particularmente vindo da Rússia.
“a alternativa para contrapôr ao modelo de capitalismo anglo-saxónico é a transição da EU para um Estado Federal Europeu que defenda o Estado Social contra o neoliberalismo”
Pierre Bordieu, Raisons d´Agir, Forum Social Europeu (2004)
mas, ainda haverá tempo para construir o que quer que seja?
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