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cinematografia: 3
Avaliação politica: 4
Lech Kovalski é um óptimo cineasta, que neste documentário, nos leva para Leste pela A40, a auto estrada mais antiga da Polónia construída por Hitler, que continua a ser uma ligação vital ao Ocidente.
Não são os pobres que fabricam as guerras
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Os caminhos feitos pelos homens não são como os rios, têm sempre dois sentidos, um que vai, outro que vem. A mesma estrada, com objectivos militares, que levou Hitler a virar-se para o Leste, para o Cáucaso em busca das fontes de combustíveis vitais para o esforço de guerra, trouxe à Europa, poucos anos depois, o Exército Russo.
Dois séculos antes, os Czares ávidos de absorverem a cultura Europeia, empreenderam outra cruzada para Leste à conquista das estepes asiáticas. A identidade da Mãe Rússia foi construída com a Cruz, a organização Militar e as inovações tecnológicas vendidas pelo Ocidente, que vincaram a supremacia – a pólvora contra os varapaus e forquilhas dos bárbaros gentios.
Depois das conquistas, restam os escombros e a desolação. As hordas de vencidos, cossacos e nómadas, judeus, ciganos e tribos semitas em geral, empreendem o caminho de regresso dos vencedores – multidões de imigrantes rumaram para Oeste, o centro onde pressentiam estar o Progresso que proporcionava tanto Poder. Como se sabe, as hordas de esfomeados são dificeis de controlar, o pobre é um bicho, como as pragas de gafanhotos, que comem tudo o que encontram. Culpados de todas as nossas desgraças os “progoms” tornaram-se uma prática habitual – é sobre os imigrantes que se abate a violência. Senão,,,
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Estamos em 1917. No termo da 1ª Grande Guerra a Alemanha e a Rússia estão ambas derrotadas. Da anarquia saiu a Revolução Russa por um lado, por outro, na Alemanha os judeus açambarcam a economia, prosperam com a penúria. Quando Hitler chega ao poder em 1933 um dos primeiros actos é a celebração do Pacto de Brest-Litovsk que divide os antigos territórios da Prússia – na prática dividia a Polónia em duas. Em 1939 Berlim estava no inicio da estrada.
Em 1989, quando o Muro caíu e o Império Soviético se desmoronou, novamente milhões de imigrantes percorreram o caminho de fuga à fome e à miséria, outra vez em busca do mítico progresso. Que vêm encontrar?
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Igualdade, Fraternidade e Liberdade,,, eis as lindas palavras chave dos teatrais discursos politicos tornados obsoletos, enquanto a Economia é deixada á rédea solta, sem regulação, ao arbitrio do livre mercado liberalizado, selvagem. Mas existe uma contradição que nega todos aqueles chavões – o “comércio livre” é na prática determinado pelos interesses das cerca de 38 mil multinacionais americanas. A perspectiva económica do neoliberalismo, entretanto construída, tenta matar qualquer utopia, fazendo crer que nada mais é possivel para além da adaptação ao sistema.
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Veremos o que a campanha pelas fontes de energia no Leste nos trará de volta pela estrada de regresso à Europa, particularmente vindo da Rússia.
“a alternativa para contrapôr ao modelo de capitalismo anglo-saxónico é a transição da EU para um Estado Federal Europeu que defenda o Estado Social contra o neoliberalismo”
Pierre Bordieu, Raisons d´Agir, Forum Social Europeu (2004)
mas, ainda haverá tempo para construir o que quer que seja?
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