Cimeira Europa África (II)
Não há nada que chegue à mão branca
para alimentar os coitadinhos dos pobres,
mas a outra mão, a que lhes vende as armas
e lhes suga as riquezas, permanece invisivel
Uma dúzia de nomes sonantes, muitos deles prémios nobel, de J.M. Coetzee, Dario Fo, Günter Grass e Nadime Gordimer até Jürgen Habermas, Wole Soyinka, Tom Stoppard e o pró bushista Vavlav Havel, questionam numa espécie de manifesto tornado hoje público a propósito da Cimeira Europa-África o pressuposto: “Porque devemos ouvir os poderosos, quando estes não ouvem os gritos dos que sofrem? – mas isto não será possivel enquanto as reuniões não debaterem nas reuniões duas das piores tragédias humanitárias, a do Zimbabwe e a do Darfur”; e concluem: “ao evitarem os temas difíceis, os líderes europeus tornam-se irrelevantes”.
Efectivamente seria proveitoso debater publicamente os porquês da Inglaterra se recusar a reparar financeiramente os danos provocados aos povos do Zimbabwe (assim como a tantos outros) desde os primórdios da colonização até aos dias de hoje, quando implementam um tenebroso boicote levado a cabo desde que a reforma agrária retirou as terras ancestralmente possuidas pelos naturais, aos fazendeiros brancos para as distribuir pelos veteranos de guerra da primeira independência. Portanto, o assunto principal na agenda de que trata a Cimeira é de pressionar os paises sem capacidade de lutar pela independência económica por forma a levá-los a aceitar o jugo neocolonial, sob a alta jurisdição do “projecto norte americano Africom”.
Enquanto o problema do Darfur de relaciona com a luta pelo acesso ao petróleo da Somália, a resolução do caso do Zimbabwe deriva directamente do desprezo que a Inglaterra tem sobre as questões africanas (uma vez que o problema da imigração clandestina de milhões de negros não afecta particularmente o seu território) e, de certo modo também pela “Europa” (que não faz parte da Commonwealth), porquanto os negócios ingleses se centram sobre os grandes centros financeiros, de Shangai até aos Emiratos Árabes, na Ásia onde se encontram os maiores (e providenciais) investidores mundiais.
Valentin Mbougueng, o presidente da Liga Internacional de Jornalistas para África (LIJAF) afirma mesmo, na revista Afrique-Asie, que a Europa tem um plano B para ultrapassar o incómodo de se dirigir a Robert Mugabe. Uma espécie de sabotagem provocaria um problema de transporte de última hora no avião alugado pelo Presidente Mugabe impedindo-o, muito profilacticamente na óptica dos aliados de Gordon Brown, de estar presente em Lisboa.
Como assim? Então o Zimbabwe, depois de 30 anos de “independência” ((formal, uma vez que os interesses económicos permaneciam intactos) não dispõe de uma aeronave própria para uso do presidente, o valoroso combatente pela causa da primeira independência (irrelevantemente politica) do seu país?
Deste “desencontro” forçado, resultaria a organização pelos funcionários de Bruxelas de uma mediação presidida pelo Presidente sul africano Thabo Mbeki encarregado de exigir a democratização do regime de Harare, para cujo reconhecimento seria exigivel uma declaração pública de Mugabe, certamente em directo perante enviados especiais da CNN, da BBC, etc. Da natureza desta “mediação” pré-programada se compreende o facto que a maioria dos subcritores do manifesto de hoje sejam sul-africanos.
Entretanto, considerando que outros regimes se disponham a aceitar a dominação económica e o sistema de trocas desiguais em que se funda o comércio internacional liderado pelo imperialismo yankee, parece não haver problemas de maior em apertar a mão a dirigentes como o presidente da Líbia ou da Nigéria cujos governos receberam centenas de milhares de euros de suborno pagos pela Siemens – ou a esse outro campeão mundial da corrupção que dá pelo nome de José Eduardo dos Santos.
Algures em África um grupo de militares norte-americanos pertencentes ao recém criado AFRICOM dá aulas de estratégia à tropa local. A vida está má e é preciso encontrar novos quintais que cumpram o papel que a América Latina cumpriu durante o século passado.
(Esta breve nota final pretende apenas comunicar que as guerras e a exploração imperialistas não acabam com a erradicação do Bush. E nesta intenção a Europa do fiel Barroso não é assim tão irrelevante,)
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