“É inevitável que as atenções se centrem nele, viajando com a sua equipa de mulheres seguranças, o lider líbio Mammar Kadhafi (grafia em inglês) causa sempre algum frisson (...) e concentra as atenções por onde passa graças à sua tenda”. Assim se refere a imprensa a um dos mais mediáticos participantes da Cimeira Europa-África. De todos os quadrantes politicos “de esquerda” com direito à palavra choveram as críticas insonsas sobre a publicidade paga e os direitos humanos ad-nihil, desde este “cromo” e Ana Gomes até aos tradicionais oportunistas liberais. O que terá Al-Gathafi para nos dizer? Parece ser coisa de somenos. No entanto os lideres africanos parecem dar-lhe mais ouvidos do que aos lideres europeus (para quem a Libia só interessa porque possui as maiores reservas de Energia para venda no continente)
O que é certo é que a emergente Comunidade de Paises Africanos não permitiu a discussão de assuntos internos dos Estados africanos, resistindo ao habitual carnaval de ameaças europeias sob a égide dos “direitos humanos” enquanto na área económica, como fiéis retransmissores das regras definidas pelo Consenso de Washington, “a Europa” (como um todo inexistente) se prepara para continuar a implantar novas formas de exploração com novas roupagens neocoloniais.
Al-Qathafi instou os lideres europeus a escolher entre duas coisas: "ou devolver os recursos espoliados a África durante o colonialismo, ou a convidar os africanos a viver nos seus países”. Recorde-se que um dos reptos da UE é combater o fluxo de imigrantes clandestinos e promover a chegada de trabalhadores qualificados. A Comissão Europeia pretende atrair, nos próximos vinte anos, cerca de vinte milhões de trabalhadores de fora da UE – isto é, uma versão da captação de mão de obra cujas despesas de formação foram pagas por outros, similar à politica que é usada na captação de cérebros de todo o mundo para os EUA.
O presidente da União Africana (UA) Alpha Oumar Konaré avisou a União Europeia que “se abstenham de utilizar mecanismos doutra época. Nenhum país africano poderá chegar sózinho a bom porto sem os outros – o destino dos que caminham melhor irá a par dos que vão pior”. Na falta de entendimento, prosseguem as negociações bilaterais com certas regiões, as que aceitam incondicionalmente as regras de mercado impostas pela Organização Mundial de Comércio e pelas regras comerciais do GATT, ou seja a aplicação das regras de propriedade intelectual que não lhes permite tomar uma aspirina sem que paguem direitos de autor, enquanto exigem a garantia de que o Estado não intervirá nos interesses das empresas multinacionais e dos investidores.
Se calhar foi por isto que Abdoulaye Wade, o Presidente da Nigéria bateu com a porta e abandonou a Cimeira antes do seu encerramento, apelando ao boicote dos acordos de “parceria económica” em discussão.“Porque é que foi este - e não um dos «déspotas africanos» que «não tem sede de democracia, nem de desenvolvimento nem de direitos humanos» - que deixou esta mancha na Cimeira?”
Sócrates explica: “Somos iguais na nossa dignidade humana (...) porém também em termos de responsabilidade política (...) onde muitos paises não podem ter um comércio livre com a União Europeia”; áh, então é isso, o “comércio livre” controlado pela “retórica politica livre” que pretende encobrir a continuação da implementação de novas bolhas de desenvolvimento em África de onde se retirem lucros pilhados para benefício dos mesmos de sempre. Bem tinha avisado o tal comunicado antecipado dos 17 intelectuais: “ao evitarem os temas difíceis, os líderes europeus tornam-se irrelevantes”.
PS - Os temas dificeis e a pseudo discussão sobre irrelevância europeia voltaram ontem a estar na berlinda nos “Prós&Prós”: Miguel Portas e Pacheco Pereira (pró-Referendo ao Tratado de Lisboa) e o secretário de Estado e um outro jovem do PS de que não fixei o nome, que acham que o Tratado se auto-democratiza a si mesmo pelos lideres dos paises que o pariram nas capelinhas das elites burocráticas. Depois da lavagem a seco nos Parlamentos nacionais, as directivas neoliberais sobre a desregumentação do trabalho e do Estado social, chumbadas pelo anterior “não” em França e na Holanda, passariam, por um golpe de mágica, a transformar-se em legítimas. O que sobra daqui? Os povos e a falta de discussão sobre o essencial – “a Europa das elites anti-democráticas” é uma mera cadeia organizada de Executivos (autómatos) ao serviço da transmissão dos interesses dos Estados Unidos e está atada às regras militares impostas pela NATO. A haver “contras” o designio da Europa seria fazer implodir a dominação perpetuada pelos mecanismos da NATO. E não atascarem-se de novo em negócios como o do Kosovo
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