León Trotski, in “Programa de Transição”, 1938
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“Temos que ter presentes várias evidências gerais sobre fenómenos globais, cujo desenvolvimento se torna agora plenamente visível precisamente porque estamos numa crise catastrófica do capitalismo “neoliberal”. Em primeiro lugar, na economia. Os factos plenamente observáveis e que já não se conseguem mascarar são os seguintes: a parte da economia real aplicada à produção de mercadorias e serviços básicos para a população mundial, é uma ervilha dentro de um enorme balão
A esfera exterior é a “economia produtiva” vinculada à gigantesca implementação do consumismo irracional, dos serviços supérfluos, da economia de guerra, da aplicada à dominação exterior e ao estabelecimento da ordem Imperial, da que serve a mercantilização da “democracia” e o encobrimento da realidade às populações.
A distribuição de bens nesta economia real – tanto a dedicada à satisfação das necessidades básicas: alimentação, saúde, educação, habitação; como a que é subordinada à economia do consumo massivo, dos serviços supérfluos e da dominação política e ideológica – é enormemente desigualitária entre os países “desenvolvidos-destruidores” e os paises subdesenvolvidos e estados falhados do hemisfério sul.
A economia real (com os seus dois componentes: bens para a vida; e bens para a desigualdade, o consumismo criminoso e a “ditadura democrática nos paises do Ocidente) é, por sua vez, uma pequena ervilha comparada com o enorme globo aerostático da economia financeira, que o mesmo é dizer, da economia vinculada à multiplicação e circulação do dinheiro.
A bolsa e o sistema bancário são as instituições cuja função fundamental é extrair (o termo adequado é, naturalmente, roubar) as pequenas poupanças da pequena e média burguesia nos paises ricos, e dos pequenos aforradores das economias pobres (recorde-se a Argentina, ou a Venezuela anterior a Chávez) para os derreter no sistema financeiro. Nos paises ricos também roubaram e estão a roubar os enormes fundos de pensões apropriando-se desses depósitos bancários aplicando-os nas privatizações ou em fundos especulativos.
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A Crise Estratégica
Os Estados Unidos utilizaram duas guerras contra o Iraque seguindo dois modelos estratégicos militares distintos e perderam em ambos; o primeiro durou uma década e realizou-se em duas fases: a primeira fase foi a “guerra de destruição massiva unilateral” (com zero baixas para os EUA), que teve, por sua vez, dois periodos: “a guerra suja do Golfo” com a incitação à ocupação do Koweit e a destruição do exército convencional iraquiano; e a “guerra alargada ao genocidio” com o bloqueio total do país e destruição sistemática das suas instalações militares e infraestruturas – especialmente as condutas de águas residuais e de água potável, a rede de estradas e auto-estradas, os sistemas sanitários e de educação. A segunda fase foi a guerra-relâmpago de 2004, com a destruição total do país, a ocupação e o início da marcha para “uma economia de mercado livre”. Os objectivos gerais eram: implantar pela força um modelo de relacionamento internacional baseado na “vontade soberana” dos Estados Unidos; a apropriação do petróleo; e a instalação de bases militares estratégicas, de cobertura mundial, no actual país de maiores reservas petrolíferas, então o mais rico, mais próspero, mais laico e mais culto do Médio Oriente.
Os EUA perderam a “guerra de destruição massiva unilateral” e perderam a “guerra genocida de ocupação” apesar de usarem um exército profissional (as suas legiões romanas, enquadradas por centuriões yankees e integradas por marginais e martinalizados nos próprios EUA; o exército de ocupação é formado pelo lúmpen nacional: negros e latinos, e mercenários residentes, centro-americanos e mexicanos indocumentados). Apesar deste contingente nascido da pobreza e educado para matar ser muito pouco recomendável para restabelecer a Democracia, a Liberdade e a Soberania do Iraque, e a Segurança Internacional e a Justiça Infinita ter sido rebaptizada sucessivamente como “Liberdade Duradoura” e “Guerra Mundial Antiterrorista”, Washington alistou – através das transnacionais da morte, da tortura e do assassinato – um gigantesco exército mercenário dedicado a executar as tarefas definidas pelos serviços secretos numa “Guerra Suja de Alta Intensidade”
A Crise Financeira
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A Crise Económica Mundial
A crise financeira abrange toda a economia de consumo e toda a economia de subsistência – incluindo os EUA, onde existem 40 milhões de pobres. A crise atinge imediatamente os sectores metalúrgicos, petrolífero, cimentos, imobiliário, especulação urbana, serviços de massa como o turismo, transportes, complexo industrial-militar, indústria automóvel, química, agro-alimentar, pequenas empresas, restauração, seguros, agricultura de exportação e importação, transportes marítimos, aviação civil, electrodomésticos, serviços de saúde privatizados de cirurgia, assistência médica, serviços sociais mínimos, para citar apenas uns quantos.
Olhe ao seu redor e tente localizar um objecto de mobiliário, um produto para alimentação, vestuário, electrodomésticos, computadores, internet, de consumo em geral, embalagens, etc, que não tenha sido produzido dentro da economia ao serviço das grandes entidades financeiras.
Apontamentos breves sobre as consequências económicas, sociais e políticas da crise no Ocidente.
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União Europeia, o fiel amigo, a política indigna, os povos mortos,
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Nessa resolução legitimava-se a ocupação do Iraque e a autoridade dos “paises ocupantes”. Além do mais “autorizava-se” a “administração” do petróleo pelos EUA e pelo Reino Unido e organizava-se o saque do país convocando a famosa Conferência de Doadores. Na Cimeira de Salónica, semanas depois, a indignidade atinge o limite: a União Europeia proclama que o derrube de Sadam Hussein “abre caminho a um futuro próspero e democrático no Iraque. Além disso a Cimeira aprova, “para leitura e memória futura”, um documento estratégico sobre a Nova Estratégia de Segurança Europeia; que se denomina “Documento Solana” para honrar o embaixador lacaio dos Estados Unidos, além de criminoso de guerra na Jugoslávia. Solana presidiu à assembleia de servos que terá de prestar contas de um genocídio e uma catástrofe que atinge 4 milhões de mortos e deslocados e um país esfomeado e destruído.
O descalabro na Europa vai ser muito mais dramático.
O crescimento do desemprego e do sub-emprego escondido debaixo de contratos precários, temporais e sub-qualificados, vai ser gigantesco, na mesma proporção da desaparição da economia “produtiva” vinculada aos serviços, ou puramente especulativa.
A crise energética afectará, liquidando-as, todas as possibilidades de sustentação do sistema económico. O desemprego atingirá cifras colossais, muito concentradas nas cidades, na antiga classe trabalhadora absolutamente desorganizada e na nova classe operária urbana: os trabalhadores jovens.(Ver a revolta da chamada “escumalha” em França)
A recuperação de uma economia agrária que assegure a soberania alimentar passa a ser uma necessidade estratégica. Em paises como a Espanha pode-se reconverter rapidamente, utilizando os enormes sistemas de rega empregues na economia do turismo de luxo em enormes extensões de antigas hortas, nos outrora terrenos de sequeiro, ou nas herdades andaluzas dedicadas à pecuária.
Toda a classe política, líderes e quadros sindicais carecem de integridade e capacidade para reorganizar os trabalhadores. Novos lideres políticos, sociais e sindicais surgirão das grandes lutas que se avizinham
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