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sexta-feira, dezembro 07, 2007

África, corrupção e placas giratórias

1.Quando chegou ao poder o Presidente da Nigéria, Umaru Yar'Adua mandou investigar um escândalo de corrupção no anterior governo de Olusegun Obasanjo que alegadamente em nome do governo e do partido (não se sabe bem ao certo de quem) teria recebido seis milhões de dólares de suborno da Wilbros, uma companhia norte- americana de serviços petrolíferos, em troca dum lucrativo contrato de gás. O caso serviu de pretexto para destruir a oposição ao afirmar que a administração de Obasanjo era "um poço perdido de corrupção".

2. Em Abril passado o presidente da Siemens, Heinrich von Pierer, demitiu-se assumindo as consequências do escândalo de pagamento de subornos. Outro executivo, Reinhard Siekaczek, que trabalhava na companhia há 38 anos, fez o mesmo como prova de que os seus superiores tinham conhecimento das falcatruas. Foram pagas comissões pela porta do cavalo a governantes locais, nomeadamente na Nigéria, Líbia e Rússia, para favorecerem a adjudicação de concursos públicos àquela empresa multinacional. Com o caso destes três países comprovados e publicados no insuspeito Wall Street Journal onde estão especificados não apenas as quantias, como também os executivos da empresa responsáveis pelos pagamentos, nomes e cargos dos subornados, as investigações sobre esquemas corruptores noutros países prosseguem ainda na Suiça, Itália e Grécia. Na Alemanha, a Siemens ordenou uma auditoria interna. 470 funcionários teriam sido investigados, e destes, contra 14% deles foram apuradas infracções ao direito anticartel e corrupção; contra 24% foram comprovadas malversação e fraude, e os demais 62% lesaram outras “directrizes internas da empresa”. Entretanto o caso chegou ao Tribunal de Munique e em Outubro foi condenada a pagar uma multa de 201 milhões de euros. A 8 de Novembro a Siemens declarou encerrada a auditoria. Para a posteridade fica a curiosidade que nomes e moradas de corruptores e corruptos nunca tenham sido mencionados publicamente. O comunicado final da Siemens é um modelo exemplar de limpeza a seco.

3. A Siemens é uma multinacional cujas áreas de negócio abrangem os ramos das Comunicações, Energia, Indústria (Soluções e Serviços), Saúde, Business Services, Automação, Tecnologia para Edifícios, e Transportes Ferroviários. Em Portugal o volume de vendas cifrou-se em 563 milhões de euros em 2005. (72,4 biliões nas actividades globais). Além da fábrica mãe na Alemanha, a Siemens possui outros dois importantes pólos de fabrico no exterior: no Brasil, e mais recentemente um Centro de Tecnologia de ponta em Portugal depois da fusão que deu origem à Nokia Siemens Network. Recorde-se que é neste investimento que assenta a tão propalada intenção do Plano Tecnológico de Sócrates actualmente em marcha. Considerando os regimes altamente impolutos e incorruptíveis do Brasil e a natureza anti-corruptora tradicional portuguesa – deverá ser nesse pressuposto que se torna urgente a construção de uma placa giratória moderna, como será sem dúvida o caso do novo aeroporto, como antes o tinham sido os investimentos do depauperado erário público nos sub-utilizados Metros do Porto e do Sul do Tejo, entre outros exemplos de malversação dos dinheiros entregues ao Estado e da respectiva privatização dos lucros a favor das empresas multinacionais que os "governantes" representam
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