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domingo, novembro 09, 2008

o Ocidente, oportunidade inesgotável do renascimento italiano?

Fernando Braudel:
o Modelo de capitalismo mercantil Italiano

“Aparentemente, as cruzadas terminaram no fracasso do Ocidente. Prisioneiro no Egipto (1245) S. Luís morre junto de Tunis, em 1270. Constantinopla volta a ser grega (1261) e, com S. João de Acra (1291) a cristandade perde a sua última praça notável no continente asiático. Mas o mar, em toda a sua extensão e nomeadamente nos seus espaços orientais, continua a ser dos marinheiros e mercadores da cristandade. E esta vitória apaga tudo. (até mesmo o início da decadência após a IV Cruzada, chamada a do Comércio, quando cristãos se começaram a bater contra cristãos).
Com a experiência, no plano económico, nada será alterado quanto aos antigos privilégios, sobretudo os das escolas de navegadores e mercadores de Génova e Veneza. E a Itália frequentará a seu bel-prazer, até ao fim do século XIV, os portos e mercados da Síria e do Egipto onde o grande comércio do Levante reencontrou as suas saídas essenciais, em direcção ao mar Interior e aos mercados do Ocidente: Tripoli, Alepo, Beirute, Damasco, Alexandria, mais tarde o Cairo. Seja na franja marítima, seja até aos grandes centros caravaneiros do interior próximo, os mercadores italianos e outros da cristandade quando não ditam a lei, impõem pelo menos a sua presença, tomam a seu cargo as mercadorias das aos dos mercadores orientais, cujo monopólio termina a certa distância, mesmo junto ao mar. Assim conseguem as drogas, os produtos de tinturaria, a pimenta, especiarias, o algodão em fio ou tecido, a seda, o arroz, as leguminosas... Como curiosidade e o interesse foram bem cedo despertados a propósito das mais preciosas destas mercadorias – a pimenta e as especiarias – a expedição dos irmãos Vivaldi, partida de Génova, lança-se para além de Gibraltar à aventura atlântica, para se perder de pessoas e bens, obscuramente, nas costas africanas. A sua tentativa, em 1291, situa-se no ano em que caiu São João de Acra. Procurariam o caminho que Vasco da Gama irá encontrar dois séculos mais tarde?

A presença italiana no Norte de África apresenta caracteristicas análogas. Atinge todas as cidades portuárias: Tripoli da Barbária, Túnis, Bona, Bougie, Argel, Oran, Ceuta... no interior das terras, os italianos estão presentes, ao lado de marselheses e catalães, por exemplo, num grande centro como Tlemcen. Nestes diversos pontos existem colónias comerciais activas. É um jogo comprar em Génova cartas de câmbio pagáveis sobre Oran e sobre Túnis. O Norte de África entrega constantemente os seus produtos em bruto, couros, cera, trigo e o que lhe traz o comércio sahariano, as tâmaras, os escravos negros, os dentes de elefante, as plumas de avestruz, o ouro em pó do Sudão. Em Túnis, o ouro dos mercadores venezianos é levado, por maior segurança, pelas galeras da Signoria que o transportam até Corfu, ocupada desde 1385, praça essencial através da qual Veneza domina a entrada do Adriático e vigia o vasto mar praticamente no ponto de junção das suas duas bacias, a oriental e a ocidental.

Assim, o Islão senhor das suas terras, abre-se ao estrangeiro pelo mar insidioso onde navegam sozinhos, ou quase sozinhos, os navios da cristandade. E para que aquilo que se passa no Oriente e no Extremo-Oriente se reproduza quase fielmente no Norte de África e no Sahara, em 1447 um genovês, Antonio Malfante, avança até ao Touat, uma vez que outros já conheciam a direcção do ouro do Sudão (as Terras do Preste João). Nesta época as caravelas portuguesas percorrem já o litoral atlântico até ao golfo da Guiné. Então quem vai ganhar: o mar ou a terra?, o português ou o genovês?

Posto isto, ou melhor, esboçado, não esqueçamos que muitas viagens que penetraram profundamente através das areias, das montanhas e dos desertos nos são francamente desconhecidas. Só por acaso Malfante foi assinalado. O Islão por certo foi muitas vezes atravessado por ocidentais. Para tomar um único exemplo, sem remontar até Marco Polo; Niccolò Conti, nascido em Chioggia no Dogato Veneziano, efectuou uma visita prolongada à Índia e à Insulíndia, entre 1415 e 1439. Assim, Vasco da Gama não “descobriu” a Índia no sentido preciso da palavra, mas sim um caminho inteiramente marítimo para a atingir. Aliás, encontrou lá, segundo Sanudo, venezianos bem instalados. Pequeno episódio: quando, a 21 de Maio de 1498, a frota de Vasco da Gama lançou âncora na baía de Calicute, vêm ao encontro destes emissários dois mouros de Túnis que falam catalão e genovês. “Que diabo vos trouxe até aqui!?”, exclamam. A resposta dos portugueses é bela: “Vimos buscar cristãos e especiarias

Veneza: as Galere da Mercato

“Esta volta pelo horizonte exterior mais afastado requer uma conclusão (sobre a organização politica e social das estruturas do capitalismo mercantil), antes de se abordar os grandes problemas do interior. Trata-se do “filme” das viagens das galere da mercato venezianas, montado em cargas sucessivas, de 1332 a 1534, por Alberto Tenenti e Corrado Vivanti (1961). É certo que Veneza não é senhora única dos espaços dominados pelo mercantilismo italiano, mas está no centro da prosperidade criada em detrimentro de outrem e é, a este título, exemplar. Desde o século XIV que a Signoria pôs navios construídos no Arsenal a expensas suas à disposição dos seus patrícios que detêm na cidade ao mesmo tempo as chaves do negócio e as rédeas da governação. Estas galeras, a princípio de cem toneladas e que virão depois a atingir duzentas e duzentas e cinquenta toneladas (galeras, mas os remos servem-lhe apenas para entrar e sair dos portos – navegam à vela) são todos os anos postas a concurso público e alugadas à melhor oferta, combinando os adjudicatários com os outros mercadores a composição das cargas. As tarifas do frete, o calendário das viagens são fixados sob a vigilância das autoridades em exercício. Veneza procura obstinadamente privilegiar as suas ligações, colocar os seus transportes ao abrigo de toda a concorrência. Houve aí uma espécie de dumping de longa duração, com o Estado a subvencionar os particulares. A data essencial para a instauração do sistema foi talvez o ano de 1346 (o ano de Crécy) em que, pela primeira vez, constatamos a existência das galeras ditas da Flandres, que são a principal ligação da economia italiana com os panos dos Paises Baixos, a lã, o chumbo e o estanho de Inglaterra.















Em 1450, todas as ligações estão simultaneamente estabelecidas: galeras da Romagna que vão atá La Tana e Trebizonda; galeras da Síria; galeras de Alexandria; galeras de Aigues-Mortes e, a partir de 1436, galeras da Barbária (a patir de 1442 acrescentaram o Egipto à cabotagem que praticam de porto em porto, ao longo das costas do Magrebe). Todos estes comboios (de duas a cinco galeras) se condicionam: as mercadorias trazidas por uns são entregues aos outros, em datas mais ou menos fixas, nos armazéns da Dogana da Mar. Os transportes de Veneza são pois um sistema vivo, interligado. Naturalmente as “galeras de mercado” não excluem os navios de particulares, dos quais os mais importantes são os grandes navios de casco redondo, as naus enormes das mude da Síria que vão carregar volunosos fardos de algodão. A ida e volta das mude (em geral, seis meses de viagem) representa o circuito mais rápido possivel para a rotação dos capitais mercantis, reduzindo-se a operação a enviar dinheiro e revender algodão. Os mercadores menos afortunados ou que menos arriscam têm preferência por este comércio ágil que não imobiliza os seus haveres durante muito tempo.
Em 1450, os itinerários dos navios da Cidade-Estado, as viagens oficiais, esboçam em suma uma imagem bastante exacta de um polvo cujos braços e tentáculos abarcam todo o espaço atingido pela Itália fora da Peninsula. Veneza, e a exemplo seu as outras cidades de Itália, colocam assim em portos distantes as suas mercadorias procedentes do Oriente, o seu dinheiro, para que refluam até elas riquezas muito superiores. Nada revela melhor do que o mapa das viagens venezianas este trabalho coordenado, esta dominação calculada do espaço, esta superioridade no domínio decisivo dos transportes, de que a Itália se alimentou e de que viveu muito tempo”. Até à subjugação financeira e ao triunfo da forma do Estado supra- nacionalidades de modelo europeu.

a globalização Financeira

Chegados e instalados naquele pequeno espaço murado e fechado ao mundo por iniciativa própria, cerca do ano de 1450 existiam ali
5 sinagogas
! - o Conde Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494) teo-sófico autor do “Discorso sulla dignità dell'uomo” , considerado um verdadeiro “Manifesto do Renascimento” (editado pela Almedina), é o primeiro erudito cristão a mesclar elementos da doutrina cabalística e teologia cristã. No final da sua curta vida de 31 anos, destrói os seus trabalhos poéticos e torna-se um defensor do Cristianismo contra os Judeus, astrólogos e o misticismo oriental de raiz muçulmana. Só 500 anos depois se descobriu que Pico della Mirandola foi assassinado.
Na idade moderna, até à invasão napoleónica o negócio tinha prosperado, e os Judeus constroem o Ghetto Nuovo ampliado para receber estudantes (o saber é a alma do negócio) no local onde ainda hoje se situa o campus Universitário. Uma vez que as esmolas dos bentos fiéis são parcas, sempre à rasca de massas, quem gosta muito destes nobres beneméritos hebreus ligados ao negócio da finança desde tempos remotos é a insuspeita ICAR:
“Chiunque si interessi della cultura del mondo occidentale non può non conoscere la storia del popolo ebraico, della sua cultura, della sua religione ed il rapporto della Serenissima (Repubblica di Venezia) con i suoi abitanti di religione ebraica è parte importante di questa storia. E' in questa prospettiva che si è deciso di andare a Venezia, a visitare il Ghetto - Ebrei, nostri fratelli maggiori"
Giovanni Paolo II
Não é de estranhar que a Igreja esteja a conciliar com os judeus a "aliança perfeita" - religião e finança. Afinal a história moderna da ICAR sequestrada pela OPUS DEI não é outra coisa senão uma história de assassinatos selectivos - desde João XXIII até ao arcebispo Oscar Romero, passando pelo "banqueiro de deus" Roberto Calvi
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