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quarta-feira, novembro 26, 2008

Sefarad existiu? ou foi Toledoth?

Segundo Shlomo Sand, o autor israelita de "o Povo Judeu é uma Invenção", "o contributo demográfico mais decisivo para a população judaica no mundo deu-se na sequência da conversão do reino khazar - o vasto império estabelecido na Idade Média nas estepes circundantes do rio Volga e que, no auge do seu poder, dominava desde a actual Geórgia até Kiev no século X", mas existe uma história anterior quanto ao facto de presumivelmente no século VIII os reis khazares adoptarem a religião judaica e terem feito do hebreu a língua escrita do reino. Essa conversão tardia teve reflexo na diáspora primeiro para a Rússia, depois para Triestre, Veneza (o 1º gueto) e Europa central, onde se concentraram, já na era moderna, principalmente na Alemanha

“Os antigos Gregos (Estrabão, Heródoto, Plutarco e Homero) e os Romanos (Tito Lívio, Cornélio Trácio e outros) deixaram escritos em que se referiam aos habitantes do Leste da região onde se situa hoje a Geórgia como os povos Ibéricos do reino de Cartli (segundo as fontes gregas com origem no termo Iberoi) e aos povos mais a ocidente dessa região do Caucaso como os Colchis” – isto pode ler-se na obra de David Braunda Geórgia na Antiguidade: a História dos Colchis e da Ibéria Transcaucasiana 550 AC – 562 DC, pag. 17 e 18”

Na mitologia grega a terra dos Colchis era o local onde Jasão e os Argonautas buscavam o Velo de Ouro. A integração do “velo de ouro” no mito talvez tenha derivado da prática local de se usarem as tochas para procurar partículas de ouro no leito dos rios. Nos últimos séculos da era pré-cristã essa região tomou forma como o Reino de Cartli-Iberia que era fortemente influenciado pelos Gregos a oeste e pelos Persas a leste. Depois que o Império Romano completou a conquista da região do Cáucaso no ano 66 antes-de-cristo, o reino manteve-se como Estado-cliente de Roma e seu aliado durante 400 anos. Até que no ano 330 depois-de-cristo o Rei Marian III (um belo exemplo de procedência do mito em torno do culto cristão da virgem Maria) aceitou converter-se ao Cristianismo através dos mais recentes laços desenvolvidos entre o reino e o Império Bizantino, que ao libertar-se a Oriente da decadente Roma invadida pelos povos bárbaros do norte europeu, exerceu ali uma forte influência cultural durante séculos.

Permanentemente acossada pelas tribos guerreiras nómadas do Império Mongol, a terra dos Colchis transformou-se em região tampão nas lutas entre os poderes rivais Persas e Bizantinos em que a zona mudou de mãos por diversas vezes; e o antigo reino, no principio da Idade Media desintegrou-se em várias regiões de feudo lideradas por cabos de guerra tribais. Tal facto facilitou a conquista de toda a região da Geórgia pelos Árabes no século VII

Os Árabes conquistaram a capital Tbilisi no ano 645 DC, mas os povos da Cartli-Ibéria mantiveram alguma independência e liberdade sob as regras legislativas árabes. Estava aberta para a Diáspora destes povos semitas o caminho até à fundação de uma colónia na Nova Ibéria (onde vieram a estabelecer-se no centro, na região de Toledo, chamada de Tulaytula depois que os árabes a conquistaram ao rei visigodo Rodrigo), vindos através da grande estrada do Norte de África dominada pelo novo Império dos Omiadas (com o centro para além do estreito de Gibraltar, a norte, em Córdoba) e pela expansão do Islão que durou com esplendor até aos anos da Reconquista cristã. É possivel que as primeiras tribos semitas tenham chegado à peninsula ainda no tempo dos Romanos, mas, este percurso histórico, e aquilo a que os Judeus chamaram depois “as terras de Sefarad” (palavra que significa "Espanha", um termo moderno cunhado já em tempo dos reis católicos) encaixa perfeitamente na tese de Shlomo Sand: que o povo judeu é uma invenção e que se formaram na conversão à religião de Judas pelos caminhos da diáspora pelo norte de África. Aliás, como é sabido, os clássicos gregos foram primeiramente traduzidos pelos árabes de Toledo, que legaram ao Ocidente o manancial de conhecimento materializado na biblioteca de Alfonso X o Sábio.

Sempre existiu pois uma similaridade entre os Povos Ibéricos do Leste e do Oeste, entre os habitantes da peninsula Ibérica e a ideia de parentesco destes com os povos da Ibéria Caucasiana (o circulo de giz caucasiano faria outra parte importante das migrações semitas estabelecerem-se na Europa central). Isto é reconhecido por diversos autores antigos e do periodo medieval, embora existam discordâncias sobre as diversas origens. E a teoria pareceu ser bastante popular na Geórgia – o proeminente escritor religioso Giorgi Mthatzmindeli, que viveu entre 1009 e 1065 e se celebrizou como George do Monte Athos, escreveu sobre o desejo dos nobres georgianos viajarem para a Península Ibérica a fim de visitarem “os Georgianos do Oeste”, a expressão com que ele os chamou.

Em abono da impossibilidade da colónia de Sefarad se ter estabelecido nessa época pelos caminhos hostis dos Khazares e pelos Reinos bárbaros da Europa dos Ávaros e dos Francos, existe uma pequena curiosidade: o mito que a gaita-de-foles como instrumento de origem celta chegou ao Reino Galaico- Português pelo Norte da Europa - o instrumento tem praticamente o mesmo nome na Bulgária (Gaida) e julga-se ter origem na antiga Trácia, (transitando depois pela antiga Bulgária do Volga) pelo que se terá espalhado posteriormente pelos Balcãs e pela Europa a partir da Grécia e não vindo das brumas Celtas do Norte
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