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A tua sorte foi eu ter sido atropelado pelo ministro bêbado” atira à cara do Sem-Abrigo o Cão rafeiro que tem vindo a fazer inúmeras cabriolas para o adoptar como Dono.
Na peça exibida no “
Festival de Teatro de Almada” (“
Diálogo de um Cão com o Dono sobre a Necessidade de Morder os seus Amigos”) estes dois improváveis interlocutores, que tão bem conhecemos, dialogam efabuladamente sobre verdades terríveis que são obscurecidas pelos formatos mitómonos que apreendemos.
É objectivo do animal fazer sair a humanidade do seu torpor, se bem que é o contrário que a maioria das vezes acontece, quando um homem encontra o cão que possivelmente existe nele. Neste dramático caso, homem e cão, são ambos deserdados e conversam acerca das
taras sociais que fazem da vida uma farsa contínua.
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O ministro safou-nos, pagou tudo com medo do escândalo. Recuperámos a dignidade e até temos cortinas, carpetes e mobílias novas da ikea na roulote que estava num miserável estado de decadência, e também
já temos televisão, um apetrecho imprescindível para tomarmos conhecimento da realidade. Ficou nosso amigo. O ministro passa aqui pela estrada muitas vezes, dá-nos uma businadela. Às vezes pára. Falamos. Ele é muito simpático, faz-me perguntas – o que penso sobre as taxas de juro do Banco Europeu, como vejo o conflito no Médio Oriente – enfim, “
é a democracia participativa” tinha confirmado o dono que é porteiro no hotel de luxo Claridge com o empregado que lava os pratos.
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A verdade, está-se mesmo a ver, é que o cão “Príncipe” na amena cavaqueira e divertida prática com o dono “Roger” sobre a crise capitalista crónica, antecipou humoristicamente ao público a encíclica do Papa Ratzinger onde se fala da necessidade da
“Ética no funcionamento da Economia”. Foge cão (e dono) que te fazem barão – que é como quem diz: o que o Papa está “caridosamente” a defender são os interesses de certos grupos, nomeadamente os da
Opus Dei, uma organização semi-secreta conluiada com os fautores da nova ordem mundial.
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