Naquela que foi seguramente a maior operação policial de sempre na história da Dinamarca, a primeira medida a ser tomada foi, segundo em visita guiada previamente o chefe da policia local Per Larsen mostrou aos jornalistas, a instalação de 37 jaulas em rede de metal num subúrbio, destinadas a encarcerar os dissidentes que se manifestassem durante a cimeira. Em paralelo as autoridades contrataram autocarros de transporte colectivo e todos os habituais meios necessários à logística da repressão. Embora a gíria comum neocon afirme que o mercado é livre, em assuntos de repressão o Estado ao serviço dos interesses dos capitalistas gosta de planificar bem os programas de anti-contestação.
Como resultado já foram mais de mil os utentes enjaulados ao ar livre sob um clima inóspito nos cárceres que já se celebrizaram tristemente como o “guantanamo de Valby”. Cá fora era este o panorama – com os activistas (entre muitos outros, os da Climate Justice Action) a afirmar: “queremos atravessar o cordão de segurança simplesmente para debater com os delegados oficiais”. O clima é de guerra total entre os esbirros do Estado que actua em nome da privatização da atmosfera e os manifestantes dos movimentos sociais anti-capitalistas. A presidente da conferência, Connie Hedegaard, demitiu-se, e a proposta que deixa em cima da mesa, segundo o relatório confidencial da ONU, levará a um aumento das emissões de 3 graus C. Os resultados são mantidos secretos pelos Media e prevê-se o colapso total no final da conferência.
Depois de 15.000 delegados de 192 paises começaram a chegar os gurus e os chefes de Estado que trabalham na imposição global da nova bolha financeira relacionada com o clima. Rajendra Pachauri, detentor do prémio Nobel em nome do IPCC (em conjunto com Al Gore) foi logo de inicio o primeiro a pedir explicações sobre o escândalo das mensagens trocadas entre “cientistas do CRU para cozinhar e dramatizar a questão do “aquecimento global” (é importante conhecer a lista dos financiadores do CRU)
O jornalista acreditado e cineasta Phelim McAleer tenta interceptar, com uma pergunta sobre o maior escândalo climático da história, o percurso de Al Gore; mas o resultado é a barragem cerrada e a inutilização do microfone do jornalista pela segurança da ONU.
Pela segunda vez em três dias (para ver aqui) o mesmo jornalista tenta inquirir outro responsável mas acontece-lhe o mesmo: acaba por ser expulso da sala com recurso à violência física.
O Presidente Chávez chegou a Copenhaga e disse a frase do ano: “Se o Clima fosse um Banco já teria sido salvo”. O Presidente Evo Morales não ficou atrás: “Obama é pior que Bush… o que mudou na América foi apenas a côr do presidente” – e foi ovacionado pelos movimentos sociais à sua chegada. Robert Mugabe foi mais radical: “quando os cães capitalistas arrotam emissões, quem paga somos nós, os pobres que passamos fome”.
Obama sabe que o Congresso jamais aprovará mais reduções até 2020. Por isso só apresenta metas ambiciosas para... 2050. Segundo uma observação do Guardian vai-lhes acontecer o mesmo que na fita Reservoir Dogs, com todos os executivos a disparar uns sobre os outros, acabando no final por morrer todos. Não sem que antes produzam uma qualquer declaração bombástica...
Qual então o futuro entre modelos económicos e modelos climáticos? – desmascarando a fraude capitalista, será o mesmo de sempre. A própria ONU confirma que os 140 jactos privados, outros vôos comerciais, comboios e autocarros especiais, alimentação, hotéis, espumantes, caviar e energia gerada pelos actores que se deslocam a Copenhaga, atingem 41.000 toneladas de dióxido de carbono, ou seja, mais gases de efeito estufa que os gerados pelo Malawi, Afeganistão e Serra Leoa no período que dura a Conferência. Enquanto se propõem obrigar o proletariado mundial e as classes médias a aceitar sacrifícios pessoais em nome da salvação do planeta.
As elites globais provêm de regiões capitalistas onde se considera normal ter 3 SUV,s por família, e têm o descaramento de tentar impor um orçamento para “ajudas” de 200 milhões de dólares àqueles que andam a pé, de bicicleta ou de transporte público. Isto quando o custo da Cimeira de Copenhaga, segundo o Daily Mail incluindo 37 milhões em salários para funcionários destacados pelo governo local, atinge no total os 130 milhões de libras!! Claro que a maior parte deste dinheiro é subtraído dos impostos pagos pelos contribuintes de todo o mundo.
Para lá das palavras de circunstância, os chefes de Estado reunidos em Copenhaga têm continuado a apadrinhar massivamente politicas baseadas em energias poluentes, como o petróleo e o carvão, no nosso caso por intermédio do Banco Europeu de Investimento (BEI) e nos restantes através do Banco Mundial. Com cerca de 60 milhões de euros de investimentos por ano o BEI vem suportando largamente os meios de financiamento que impedem uma transição ecológica da economia…
No seu sito Internet o BEI afirma que “luta contra as alterações climáticas” que seria “uma das suas prioridades” – e depois financia com centenas de milhões de euros, pelo menos entre 1996 e 2005, transportes aéreos e terrestres, grandes obras como a construção de auto-estradas, aeroportos e a indústria aeronáutica em geral, tudo meios de elevada adição de energias fósseis. (outro escândalo, a ler: como a Europa e o Banco Mundial subvencionam o reaquecimento global)
Por exemplo, como foi noticiado esta semana, a Ryanair irá instalar mais 14 rotas low-cost a partir de Faro e espera aumentar o tráfego nesse aeroporto para 1,3 milhões de passageiros a partir do próximo ano. Uma politica "fossilizada" que é por toda a Europa uma espécie de subsidio ambulatório capitalista de urgência a acarretar consumidores para largarem uns trocos em almoços e hotéis em zonas estagnadas pela crise
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Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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