“A alma é um ser por si, uma substância separada, independente, invisivel, apreendida intuitivamente e cujo atributo é o pensamento, ou seja, o pensamento é o acto de um sujeito ou substância que é a alma. Esta é sem partes e é imortal, sendo apenas dependente de Deus como substância infinita e criadora. A matéria é igualmente um ser por si, uma substância completa e separada, independente do espírito, apreendida como ideia nata e constituida na sua essência por extensão indefenida em comprimento, largura e altura e repartida por infinitas figuras através do movimento nela impresso primordialmente por Deus, o qual movimento, tal como a matéria, mantêm-se quantitativamente constantes.
O corpo do homem, porque material e condicionado como os outros corpos às leis da natureza, é igualmente constituido por extensão e dotado de movimento, distinguindo-se assim da alma humana, espiritual, indivisível e imortal” (René Descartes, “Respostas às Terceiras Objecções”)
350 anos de Ciência depois, eis o Erro de Descartes:
desligar o Espírito da Matéria
Erro a partir do qual as Tribos religiosas continuam a exigir que a sociedade lhes entregue o Corpo pela Alma
“É óptimo vislumbrar a possibilidade de ligar coerentemente os sentimentos e a consciência” (António Damásio)
Os patamares da consciência. Da entrevista à “Pública” de 17/Outubro. “Existem três patamares do “Eu”, que correspondem a outros tantos patamares de consciência: o proto-eu é uma colecção de imagens [de padrões de activação neural] que mapeiam os estados físicos e fisiológicos do corpo a cada instante, dando origem àquilo a que Damásio chama “sentimentos primordiais”, indispensáveis à regulação e à manutenção da vida. O proto-eu surge no tronco cerebral, a parte mais “arcaica” do cérebro em termos evolutivos (o “tronco, subcórtex e tálamo” que comandam as reacções intuitivas”) – e não é ainda consciente. Os peixes, até os insectos, possuem provavelmente um “proto-eu”.
O nivel de “eu” seguinte, o eu-nuclear, surge de cada vez que um objecto no mundo exterior interage com o proto-eu. Gera-se assim uma sequência de imagens que podem ser visuais, auditivas, sentimentos primordiais, etc., e que descrevem a relação do organismo com esse objecto. O eu-nuclear dá origem à consciência nuclear, um estado de consciência de base que é a cada instante renovado pelas alterações que se verificam no proto-eu. A consciência nuclear é assim um fluxo initerrupto de imagens de todo o tipo, vindas do interior e do exterior do corpo. É uma consciência apenas do “aqui e agora”, quase sem memória do passado e sem qualquer antecipação do futuro. Os mamíferos [sem dúvida], os répteis e as aves [talvez, diz Damásio] possuam apenas este nivel de consciência nuclear. O mesmo acontece com certos doentes neurológicos.
O último patamar da consciência – o estado de consciência plena, tal como os seres humanos normalmente a conhecemos e a sentimos quando estamos acordados, corresponde ao eu-autobiográfico. Surge quando objectos da nossa biografia geram impulsos do eu-nuclear, criando um autêntico filme da nossa vida. É essa consciência autobiografica que nos confere a nossa identidade, que faz com que saibamos que somos nós os donos do nosso organismo. Obviamente, requer o acesso à nossa memória, não apenas para sabermos quem somos mas também para nos projectarmos no futuro”(A.G.)
Num cérebro saudável, uma intrincada rede de biliões de células nervosas auto-comunicam entre si através de sinais eléctricos que regulam os pensamentos, memórias, percepções sensitivas e os movimentos
Contudo, nada disto é válido para idiotas unicelulares, como um tal de Abel Moreira (certamente um clérigo de teologia ameaçada), que escreveu ao jornal, dando-lhe este alarvemente espaço ao admitir para publicação a seguinte posta: “O cérebro não gera consciência... Esse é um dos “erros de Damásio”... Descartes tinha razão, a consciência é “exterior” ao cérebro, tanto é que o cérebro “morre” mas a consciência não” (sic)
Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
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2 comentários:
todos, mas todos, somos uma partícula inteligente do Universo.
essa é uma verdade imutável ao longo dos milénios. vivemos, morremos e voltamos
deus o que é isso?
“ "Body am I, and soul"--thus speaks the child. And why should one not speak like children? But the awakened and knowing say: body am I entirely, and nothing else; and soul is only a word for something about the body. The body is a great reason, a plurality with one sense, a war and a peace, a herd and a shepherd. An instrument of your body is also your little reason, my brother, which you call "spirit"--a little instrument and toy of your great reason. . . . Behind your thoughts and feelings, my brother, there stands a mighty ruler, an unknown sage--whose name is self. In your body he dwells; he is your body. There is more reason in your body than in your best wisdom.”
Friedrich Nietzsche , Thus Spake Zarathustra
O nicho de mercado do Damásio, afinal, já não era propriamente novidade.
Relativamente ao seu post, não entendo como chama “idiota unicelular” a alguém que, como muitos outros na comunidade científica, têm opiniões – porque ao fim e ao cabo é do que se trata, opiniões mais ou menos fundamentadas- diferentes dele.
Pelo contrário, o processo científico do Damásio tem sido bastante criticado e desvalorizado por quem sabe e estuda o assunto.
Caro xatoo, não sei qual a sua formação, mas seja ela qual for, não me parece que seja suficiente para chamar idiota ao homem. Apenas porque associou o assunto ao tema religioso?
Admiro imenso o que escreve, mas desta vez, acho que esteve mal.
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