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terça-feira, outubro 12, 2010

o Cancro como negócio

Pouco atento ao indisfarçável orgulho e ao ar temerário com que Maria Cavaco Silva põe o pézinho no espectacular túnel de vidro da nova pérola anti-social do cavaquismo, o arquitecto Tiago Mota Saraiva afirma que “o programa do novo edificio da Fundação Champalimaud não é mais que o de um típico resort hospitalar que, nem nos países mais subdesenvolvidos, deixam que seja construído dentro das suas cidades”. Não encaixando bem na concepção geral: “o edifício tem uma implantação errada porque se borrifa em criar relações com o existente”. Não só na arquitectura, no campo social envolvente faltam pediatras nos centros de saúde e médicos de família a muitos milhares de portugueses, e no entanto aqui o foguetório do luxo impõe-se.
Ora neste contexto, arquitectonicamente o objecto é uma “casa da música” (de conceito aplicado à investigação do cancro) segundo a filosofia da escola do arquitecto Rhem Koolhaas. O edifício da Fundação Champalimaud em termos de urbanismo entrou na onda global do “Fuck the Context” (Que se Fôda o Contexto). Trata-se de desprezar toda a envolvente e a história de tudo o que rodeia o novo centro de atenções que se pretende implantar. Ao fim e ao cabo a lógica de implantação deste “centro de excelência” segue o mesmo programa de instalação de qualquer mega-centro-comercial. Tomando como ponto de partida o casco antigo de qualquer cidade com o seu comércio tradicional pulverizado na concorrência entre uma míriade de pequenas lojas (“um cancro” cujo valor unitário não ultrapasse por exemplo 100 mil euros) qualquer investidor vindo não se sabe bem de onde utiliza 100 milhões de euros na criação de uma nova e moderna centralidade e, no fim do processo, o centro histórico foi despovoado e a clientela roubada para o negócio das multinacionais estrangeiras.

A construção num sítio privilegiado, que neste caso da frente ribeirinha de Lisboa deu até direito à suspensão do plano de ordenamento do território, só foi possível porque a presidente do Center for the Unknown é a tristemente famosa ex-ministra da Saúde do governo Cavaco Silva – e para a clientela do grupo económico do Presidente todas as portas são franqueadas, tanto mais que os objectivos são os de criar um negócio milionário para marginalizar ou mesmo destruir o Serviço Nacional de Saúde no sector específico do tratamento do cancro. No mais desavergonhado despudor Leonor Beleza inverte até a situação, quando propõe que “ë nosso objectivo não excluir o acesso ao Centro dos beneficiários da SNS” - imagina-se por que preço a pagar, quando ainda decorrem negociações com “as autoridades governamentais” para definir os valores a cobrar e os termos em que isso será feito. Enquanto o compromisso milionário que agravará as despesas do Estado não toma força de contrato, a Presidente do Centro Champalimaud vai cínicamente avisando a população para o clima de austeridade vigente: “defendemos uma guerra sem limites contra o desperdício no Serviço Nacional de Saúde” diz Leonor Beleza

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