(uma perspectiva histórica sobre “o motor” da economia)
No principio da II GGuerra o Império Japonês dispunha de uma frota comercial de 6 milhões de toneladas e contruiu mais 3,3 milhões de construção naval e 70.000 aviões até 1945. No mesmo período, de 1939 até ao fim da guerra, os Estados Unidos construíram 5.777 navios mercantes, num volume de 40 milhões de toneladas. Em números redondos as fábricas norte americanas entregaram 300.000 aviões, as soviéticas 147.000 e as alemãs 106.600. Em 1939 incorparavam o exército dos EUA 271.000 homens; em 1945 o número de pessoas, homens e mulheres, empregadas apenas na USNavy ultrapassava os 5 milhões, a URSS dispunha de 5,5 milhões de soldados e a Alemanha 2,75 milhões - e existia toda uma gigantesca máquina produtiva para alimentar esta indústria.
No final, com a reconstrução e a reconversação industrial para a paz, seguiram-se os “30 gloriosos anos”, até à crise petrolífera de 1973 e à subsquente radicalização do liberalismo reagan-tatcherista dos anos 90
A aparição da Crise endémica
(...) “As empresas industriais obtêm ganhos que já não resultam da produção e da venda de bens reais, mas sim da especulação em acções e divisas levada a cabo pelos seus “habilidosos” departamentos financeiros. Os orçamentos públicos apresentam receitas que não resultam de impostos ou de empréstimos, mas da participação zelosa da administração financeira no jogo de azar dos mercados. Desta maneira, a crise económica mundial vai sendo adiada pelo processo especulativo; mas, como o aumento fictício do valor dos títulos de propriedade só pode ser a antecipação da futura utilização real de trabalho (numa escala astronómica) – que nunca virá a acontecer – então o embuste objectivado terá forçosamente de se desmascarar após um certo tempo de incubação. O colapso dos “emerging markets” na Ásia, na América Latina e no Leste da Europa foi só um aperitivo. Será apenas uma questão de tempo, e entrarão igualmente em colapso os mercados financeiros dos centros capitalistas nos Estados Unidos, na União Europeia e no Japão.
Este contexto é percebido de uma forma totalmente distorcida pela consciência fetichizada da sociedade do trabalho e em particular pelos tradicionais “críticos do capitalismo” à esquerda e à direita. Fixados no fantasma do trabalho, nobilitado enquanto condição supra-histórica e positiva da existência social, confundem sistematicamente causa e efeito. O adiamento temporário da crise através da expansão especulativa dos mercados financeiros aparece, assim, de forma invertida, como suposta causa da crise. A “maldade dos especuladores” – na expressão vulgarmente usada, mais ou menos mesclada de pânico – levá-los-ia a arruinar completamente a bela sociedade do trabalho, gastando de forma extravagante o “bom dinheiro”, que existe “de sobra”, em vez de o investirem de forma respeitável e sólida em maravilhosos postos de trabalho” para que uma humanidade de hilotas imbecilizados pelo ídolo pudesse continuar a ver o seu “pleno emprego”. O próprio dinheiro, que aparentemente circula em quantidades infinitas já não é “bom”, mesmo em sentido capitalista, mas apenas simples “ar quente” com que foi sendo empolada a bolha especulativa. Qualquer tentativa de drenar um pouco esta bolha, recorrendo a projectos tributários mais ou menos imaginativos (a Taxa Tobin, etc) para reconduzir novamente o capital-dinheiro às rodas alegadamente “correctas” e reais de engrenagem da sociedade do trabalho, só pode acabar por levar ao seu mais rápido rebentamento (…) o apelo ao capital “criativo”, “judeu” internacional e “usurário”, arrisca-se a ser a última palavra da “esquerda dos postos de trabalho” intelectualmente desorientada (…)
(in Manifesto contra o Trabalho, Grupo Krisis, 1999)
relacionado:
* A Crise, a Crítica e o Renascimento de Marx (2010)
* A Divida da Alemanha referente às indemnizações da Primeira Grande Guerra só agora acabou de ser paga
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Uma simples mistificação dos economistas da escola neoliberal norte-americana, fazendo tábua rasa da distinção entre o Valor de Uso e o Valor de Troca das mercadorias de Karl Marx em “O Capital” moldou o mundo do pós-guerra tal e qual o conhecemos. Neste sentido, só o Presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um está destruido, e do outro, se não lutarmos, não sabemos se existirá.
1 comentário:
Excelente !!!
A FED continua a sustentar artificialmente os mercados, veremos até quando.
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