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domingo, setembro 23, 2007

Paradoxos do presente e lições de Marx

(…) o importante deste artigo é procurar fazer entender de maneira simples a actualidade, a coerência lógica da análise de Marx e sua forte capacidade de ser, ainda hoje, o pensamento-guia para a superação do capitalismo
Luciano Vasapollo

A “economia política clássica”, começando por Smith e Ricardo, se de um lado colocava de maneira revolucionária o trabalho como base do progresso humano, por outro identificava o sistema capitalista, fundado na propriedade privada dos meios de produção e no trabalho assalariado, como o único sistema econômico racional e, portanto, natural. Sobre tais pressupostos teóricos e ideológicos se insere o estudo e o desenvolvimento do pensamento de Marx.
A primeira e fundamental mistificação da “economia política” é, de acordo com Marx, fazer passar um certo tipo de economia, uma particular forma social de reprodução humana, por “a economia” e “a sociedade”. A economia política não vê o capitalismo como uma realização histórica, que como tal teria um principio e, seguramente, um fim. Para iluminar essa contradição, Marx nos seus Manuscritos econômico- filosóficos usa os resultados das cruéis análises às quais a própria economia política submete a sociedade industrial moderna. Os teóricos da “economia política” afirmam que o valor de uma mercadoria é dado pelo trabalho socialmente necessário para produzi-la, mas, do mesmo modo, demonstram que o salário do trabalhador corresponde a uma pequeníssima parte do produto do trabalho. Ao mesmo tempo, o salário é o preço da venda de si próprio que o trabalhador está obrigado a fazer, aceitando assim, sob a máscara de um livre contrato, uma escravidão igual nos conteúdos, senão na forma, àquela antiga da sociedade esclavagista.
Marx prova em bases rigorosamente científicas, partindo da consequência da sua análise da teoria do valor, que o valor da força-trabalho, diferentemente de todas as outras mercadorias, é composta de dois elementos incorporando em si a mais-valia. Depois de ter desenvolvido, portanto, a teoria da mais-valia, Marx revela, pela primeira vez na história da ciência econômica, o mecanismo da exploração capitalista de maneira rigorosamente científica, partindo da análise do capital como trabalho apropriado, não pago à classe trabalhadora.
Mas Marx foi um pouco mais além, mostrando que a apropriação por parte dos capitalistas do trabalho não pago aos operários ocorria de acordo com as leis internas do capitalismo. Isso é ainda mais verdadeiro hoje, no momento em que subsistem elementos típicos dos processos fordistas; ou melhor, o assim chamado modelo pós-fordista, típico da área central dos países de capitalismo avançado, convive com um modelo ainda tipicamente fordista na periferia e, certamente, como modelos esclavagistas nos países da extrema periferia (por extrema periferia entenda-se, também, algumas áreas marginas do centro). Isso porque hoje convivem as diversas caras de um mesmo modo de produção capitalista baseado sempre na extorsão da mais-valia e do sobretrabalho de uma classe trabalhadora submetida à exploração capitalista, subordinada ao mando capitalista. Nesse sentido, se deve falar ainda hoje de proletariado, de classe e de movimento operário.
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